A História do Budismo
MIRNA GRZICH
OS CINCO PRECEITOS PRINCIPAIS DO BUDISMO
• Não causar mal a nenhum ser vivo - não matar
• Não roubar
• Não fazer mau uso do corpo
• Não falar mal de outros ou usar mal a fala
• Abster-se de substancias que embotam a mente
No budismo há três aspectos fundamentais - conhecidos como as três jóias, por seu valor imensurável - que formam a essência da prática religiosa. A primeira jóia é Buda. A segunda jóia é o Dharma, os ensinamentos e a verdade sobre todas as coisas. A terceira é a Sangha, a comunidade de praticantes - sejam monges ou leigos. Quando nos iniciamos no Budismo, repetimos três vezes: "Tomo refúgio no Buda, tomo refúgio no Dharma, tomo refúgio na Sangha".
Há dois mil e quinhentos anos, um príncipe indiano chamado Sidharta Gautama, insatisfeito com sua estéril vida espiritual, deixou seu palácio, sua esposa e seu filho, partindo em busca da Iluminação. Depois de um período de seis anos passados em busca constante, muitos esforços e lutas internas, Gautama encontrou finalmente a Iluminação, enquanto meditava profundamente, exausto, debaixo de uma árvore. A partir de então, foi conhecido como o Buda - o Iluminado, e seus ensinamentos e exemplo de vida se tornaram a base do Budismo.
Tomando como ponto de partida a experiência universal da mudança e do sofrimento, Buda ensinou que o sofrimento pode ser vencido. Esse é o estado alcançado pelos seres iluminados, e se constitui na verdadeira essência da realidade. Um estado puro de Ser.
Depois da morte de Buda, seus seguidores levaram seus ensinamentos a outras partes da Índia, adaptando-os às culturas locais. O Budismo se estendeu ao Sul e ao Leste, onde agora é o Sri Lanka, à Birmânia, Tailândia, e ao norte através dos Himalaias do Nepal, Butão, Sikkim. Dali tomou a rota da seda para a China, Mongólia, Coréia e Japão. O Budismo chegou também ao Vietnam, Laos, Camboja e Indonésia.
Durante um certo tempo, O Budismo foi se dividindo em diferentes escolas, que foram desenvolvendo suas próprias tradições. Na Tailândia e no Sri Lanka, a principal tradição se chama Theravada, o "caminho dos theras", tradicional no seu modelo para a busca humana.
Um outro ramo se chama Mahayana, o "grande veículo", o "grande caminho". A tradição Mahayana inclui o Budismo Tibetano, cujo líder
Depois surgiu Padmasambhava (não nascido de mãe humana, mas manifestado numa flor de lótus), considerado o segundo Buda, que viajou por todo o Tibete estabelecendo o Budismo por toda parte. Foi o fundador da mais antiga Escola, a Nyingmapa (Chapéus Vermelhos), que permite aos monges casar-se e mantém-se próxima da vida cotidiana das pessoas. Depois vieram as Escolas Kargyupa, iniciada por Marpa e seu discípulo, o poeta Milarepa. Os Sakyapas foram fundados em 1073, e os Gelukpas surgiram muito depois, convertendo-se na Escola principal. Também conhecidos como Chapéus Amarelos, foram fundados por Tsongg Khapa (1367-1419). Ao contrário das outras escolas, a Gelukpa preconiza a disciplina monástica e o celibato.
A ESSÊNCIA DO BUDISMO TIBETANO
Imagem fundamental do budismo tibetano, a roda da vida simboliza os seis reinos da existência, com suas dores e prazeres. Todos eles fazem parte do samsara, e estão sujeitos à aniquilação e à morte, mesmo sendo o reino dos deuses. A Roda da Vida é segura por Yama, o Senhor da Morte. São o reino humano (o melhor de todos para nascer), o reino dos semi-deuses e finalmente o reino dos deuses. No centro, as emoções negativas mais importantes: a cobiça (porco), o ódio (serpente) e a ignorância (galo). Para o inferno vão os assassinos e criminosos, aqueles movidos pelo ódio e pela ira; eles são torturados e morrem milhares de vezes até purificar seu karma, podendo renascer depois em outros reinos. O inferno tibetano não é eterno - há possibilidade da redenção, após a purificação do karma. São 18 os infernos gelados e 18 os infernos quentes. O reino dos fantasmas famintos é formado por aqueles avarentos que nunca ajudaram ninguém; o reino dos animais já é visível para nós, e é um reino de medo e caçada permanente, e total stress. Os que vão para lá são aqueles dominados pelos sentidos e pela luxúria. O reino humano é movido pelo desejo - o desejo de conquista. É o único reino onde se pode trabalhar o ser, fazer uma prática espiritual, onde a dor não é tão profunda como nos reinos inferiores ou a auto-indulgência não é tão alienadora quanto nos reinos superiores, que não se possa fazer a prática.
O reino superior ao humano é o dos semi-deuses. Invejosos e desesperados, os que quase-chegaram-lá morrem de inveja dos deuses, que podem enxergar do seu reino. Aliás, a árvore dos desejos nasce no reino dos semi-deuses, mas apenas dá frutos no reino dos deuses. Os semi-deuses vivem em guerra permanente com os deuses, e sempre perdem. Mas o reino dos deuses também tem suas complicações. Vivendo no paraíso, em total prazer e realização de todos os desejos, os deuses vivem centenas de anos, mas um dia...também morrem. E sua morte é solitária e triste, pois compreendem a inutilidade das suas vidas e são evitados pelos outros deuses, que não querem nem ver esse tipo de cena. Esse reino é habitado por aqueles movidos pelo orgulho.
A VISÃO PSICOLÓGICA DA RODA DA VIDA
Alguns estudiosos como Chogyan Trumgpa colocam que os seis reinos são estados da alma pelos quais passamos diariamente, em nossa vida. Quem já não sentiu inveja, ira, orgulho, desejo? A visão psicológica desses reinos é a sua existência como uma manifestação da nossa psique, da nossa mente. Nós somos o que percebemos. Então o simples elemento água pode ser percebido como lava fervente pelo reino dos infernos; bebida impossível de beber, para os fantasmas famintos; meio-ambiente para os animais, como o peixe, por exemplo. Água de beber para os humanos, um novo tipo de armamento para os semi-deuses, e finalmente néctar para os deuses. Tudo uma questão de percepção psicológica. Isso vem de acordo com as descobertas da moderna ffísica, que comprova que nós criamos a nossa realidade a partir de que vemos e percebemos.
PADMASAMBHAVA, AQUELE QUE NASCEU DO LÓTUS
Nascido de uma flor de lótus, no centro de um lago e já com oito anos de idade, Padmasambhava é o segundo Buda, o que estabelece o budismo no Tibet, em meados do século VIII, exercendo poderes para subjugar os demônios. União de sabedoria e compaixão, nunca falha aos que pedem ajuda cantando seu mantra: OM AH HUM BENZA GURU PEMA SIDDHI HEM
TARA, A GRANDE SALVADORA
Mãe dos Vitoriosos, Tara simboliza a contrapartida feminina de Buda. É também considerada a Mãe de Buda. Ela protege dos perigos e concede longa vida. Diz-se que era uma princesa que estudava o Dharma, e que foi considerada tão elevada que os lamas que a ensinavam lhe desejaram o melhor karma possível, que seria renascer futuramente como homem, para atingir a completa iluminação. Ela disse então que buscaria a iluminação para sempre renascer como mulher, para ajudar os seres. E assim foi, desde então. Existem 21 Taras, de cores e significados específicos, mas as mais conhecidas e veneradas são a Tara Branca, a Tara Verde e a Tara Vermelha. Canta-se a ela dizendo OM TARE TAM SOHA
O MANTRA MAIS IMPORTANTE DO BUDISMO
Cantar o mantra OM MANI PADME HUNG é a maneira mais direta de se purificar o karma.
SÍMBOLOS BUDISTAS
O vajra, usado na mão direita, representa a masculinidade, meios hábeis e compaixão. O sino na mão esquerda representa a feminilidade, sabedoria, vacuidade. Os cinco Budas principais do Budismo tibetano são Akshobya, Amithaba, Amoghasiddhi, Ratnasambhava e Vairocana.
COMO SE FAZ UMA PRÁTICA BUDISTA
Para trazer o estado de acordado a seus discípulos de diferentes culturas e temperamentos, Buda ensinou uma variedade imensa de práticas espirituais: 84.000. As práticas fundamentais budistas estão no desenvolvimento do amor e da bondade, da compaixão, da generosidade, da integridade moral, que são a fundação da vida espiritual. Existem meditações para treinar a mente e abrir o coração. Essas práticas incluem a atenção sobre o corpo e a respiração, atenção plena da mente sobre os sentimentos e pensamentos, práticas de mantras e devoção, visualização e reflexão contemplativa, e práticas que levam a um puro estado de consciência. Numa sessão formal de prática budista, primeiramente estabelece-se a motivação, que é sempre baseada na compaixão e na possibilidade de ajudar os outros. O Budismo Mahayana preconiza que ao atingir a iluminação, a pessoa não deve guardá-la para si, mas partilhá-la com os que sofrem e lutam, tornando-se um Bodhisattva, um ser que ajuda os outros. Depois, entra-se em contato com os Budas, alcança-se uma união de coração e mente com eles através do uso do corpo (mudras), da fala (mantras) e da mente (visualizações). Alcança-se o estado de meditação trabalhando-se também a concentração. Depois, dissolve-se esse encontro e se faz a dedicação.
publicado pela revista Meditando com Budismo Tibetano, Editora Três.
Nenhum comentário:
Postar um comentário