sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Tudo tem um tempo próprio, Eclesiastes



Há um tempo certo para cada propósito
debaixo do céu:


Tempo de nascer e tempo de morrer,

tempo de plantar

e tempo de arrancar o que se plantou,


Tempo de matar e tempo de curar,

tempo de derrubar e tempo de construir,


Tempo de chorar e tempo de rir,

tempo de prantear e tempo de dançar,


Tempo de espalhar pedras

e tempo de ajuntá-las,

tempo de abraçar e tempo de se conter,


Tempo de procurar e tempo de desistir,

tempo de guardar

e tempo de jogar fora,


Tempo de rasgar e tempo de costurar,

tempo de calar e tempo de falar,


Tempo de amar e tempo de odiar,

tempo de lutar e tempo de viver em paz."

Eclesiastes


quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Aquele que se deixa, William Blake

imagem google


"Aquele que se deixa prender por uma Alegria / Rasga as asas da vida; / Aquele que beija a Alegria enquanto ela voa/ Vive no amanhecer da Eternidade." 

William Blake

"Eternity" of the "Songs and Ballads"

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Impermanência, Charles M. Schulz


Tudo é impermanência...

Charles M. Schulz 

Foi um cartunista americano, criador da série Peanuts e dos personagens Charlie Brown e seu cachorro da raça beagle chamado Snoopy, entre outros.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sinto-me nascido, Alberto Caeiro




"Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…"
Alberto Caeiro

Alberto Caeiro foi um personagem ficcional (heterônimo) criada por Fernando Pessoa, escritor, poeta e filósofo português.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Eu, você, Thich Nhat Hanh

Foto ©Plum Village sites


Você é eu, e eu sou você.

Não é óbvio que nós "intersomos" ou"interexistimos"?

Você cultiva a flor em você mesmo
para que eu seja belo.

Eu transformo o lixo que há em mim
para que você não tenha de sofrer.


Eu apoio você, você me apoia.

Estou neste mundo para lhe oferecer paz;
você está neste mundo para me trazer alegria.



Thich Nhat Hanh

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Comecem o dia com Amor, Baghavan Sri Sathya Sai Baba

Pintura de Romero Britto

"Comecem o dia com Amor. Encham o dia com Amor. Passem o dia com Amor. Terminem o dia com Amor." 

Baghavan Sri Sathya Sai Baba

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

A realidade das coisas, Fernando Pessoa

imagem google


A espantosa realidade das coisas
é a minha descoberta de todos os dias.
E é difícil explicar a alguém o quanto isso me alegra
e o quanto isso me basta.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Brincar, Arquimedes



"Brincar é condição fundamental para ser sério." 
Arquimedes

Arquimedes de Siracusa, um grego prodigioso que foi matemático, físico, engenheiro, inventor e astrônomo. Arquimedes foi um cientista tão extraordinário que influenciou gênios como Galileu Galilei e Isaac Newton, dois dos nomes mais relevantes da história da ciência moderna.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Se todas as crianças, Dalai Lama





“Se todas as crianças de oito anos aprenderem
meditação, nós eliminaremos a violência do mundo dentro de uma geração."

Dalai Lama

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Deixe a raiva secar, reflexão


"Mariana" ficou toda feliz porque ganhou de presente um joguinho de chá, todo azulzinho, com bolinhas amarelas.
No dia seguinte, Júlia sua amiguinha, veio bem cedo convidá-la para brincar.
Mariana não podia, pois iria sair com sua mãe naquela manhã.
Júlia então, pediu a coleguinha que lhe emprestasse o seu conjuntinho de chá para que ela pudesse brincar sozinha na garagem do prédio.
Mariana não queria emprestar, mas, com a insistência da amiga, resolveu ceder, fazendo questão de demonstrar todo o seu ciúme por aquele brinquedo tão especial.
Ao regressar do passeio, Mariana ficou chocada ao ver o seu conjuntinho de chá jogado no chão.
Faltavam algumas xícaras e a bandejinha estava toda quebrada.
Chorando e muito nervosa, Mariana desabafou:
"Está vendo, mamãe, o que a Júlia fez comigo?
Emprestei o meu brinquedo, ela estragou tudo e ainda deixou jogado no chão.
Totalmente descontrolada, Mariana queria, porque queria, ir ao apartamento de Júlia pedir explicações.
Mas a mãe, com muito carinho ponderou:
"Filhinha, lembra daquele dia quando você saiu com seu vestido novo todo branquinho e um carro, passando, jogou lama em sua roupa?
Ao chegar em casa você queria lavar imediatamente aquela sujeira, mas a vovó não deixou.
Você lembra o que a vovó falou?
Ela falou que era para deixar o barro secar primeiro. Depois ficava mais fácil limpar.
Pois é, minha filha, com a raiva é a mesma coisa.
Deixa a raiva secar primeiro..
Depois fica bem mais fácil resolver tudo.
Mariana não entendeu muito bem, mas resolveu seguir o conselho da mãe e foi para a sala ver televisão.
Logo depois alguém tocou a campainha..
Era Júlia, toda sem graça, com um embrulho na mão.
Sem que houvesse tempo para qualquer pergunta, ela foi falando:
"Mariana, sabe aquele menino mau da outra rua que fica correndo atrás da gente?
Ele veio querendo brincar comigo e eu não deixei.
Aí ele ficou bravo e estragou o brinquedo que você havia me emprestado.
Quando eu contei para a mamãe ela ficou preocupada e foi correndo comprar outro brinquedo igualzinho para você.
Espero que você não fique com raiva de mim.
Não foi minha culpa."
"Não tem problema, disse Mariana, minha raiva já secou."
E dando um forte abraço em sua amiga, tomou-a pela mão e levou-a para o quarto para contar a história do vestido novo que havia sujado de barro.
Nunca tome qualquer atitude com raiva.
A raiva nos cega e impede que vejamos as coisas como elas realmente são.
Assim você evitará cometer injustiças e ganhará o respeito dos demais pela sua posição ponderada e correta.
Diante de uma situação difícil. Lembre-se sempre:

Deixe a raiva secar.

Autoria desconhecida

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Nada se perderá, João Guimarães Rosa



"Hoje, temos a impressão de que tudo começou ontem. Não somos os mesmos, mas somos mais juntos. Sabemos mais uns dos outros. E é por esse motivo que dizer adeus se torna tão complicado. Digamos, então, que nada se perderá. Pelo menos, dentro da gente."

João Guimarães Rosa 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O amor, Adélia Prado


Triumph of Galatea (Cupid Detail) by Raphael*


“A experiência amorosa exige sacrifício. Não se ama para ser  recompensado. O amor é sua própria recompensa. Não resisto em citar Drummond falando da poesia coisa parecida: “Poesia, o perfume que exalas é tua justificação”. Não há amor fácil, mas todo amor é maravilha, saúde, “remédio contra a loucura”, coisa que Guimarães Rosa ensinou. É a experiência humana mais exigente. Não é contrato, troca de favores, investimento, é entrega  e compromisso.. Do “sacrifício” de amar nasce a mais perfeita alegria. Ninguém faz cara feia quando se sacrifica por amor. Não se trata de anulação, subserviência de quem ama, trata-se da morte do ego, tarefa a ser feita até o último suspiro.”

Adélia Prado

Valentine´s Day - 14/02

Nos países da Europa e nos Estados Unidos, é costume presentear não apenas os namorados, mas sim amigos, familiares e qualquer pessoa por quem se tenha carinho. 

* Raphael - Rafael Sanzio (em italiano: Raffaello Sanzio; Urbino, 6 de abril de 1483 — Roma, 6 de abril de 1520), frequentemente referido apenas como Rafael, foi um mestre da pintura e da arquitetura da escola de Florença durante o Renascimento italiano, celebrado pela perfeição e suavidade de suas obras. Também é conhecido por Raffaello Sanzio, Raffaello Santi, Raffaello de Urbino ou Rafael Sanzio de Urbino. Junto com Michelangelo e Leonardo Da Vinci forma a tríade de grandes mestres do Alto Renascimento.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Quando ouvi o astrônomo erudito, Walt Whitman





Quando ouvi o astrônomo erudito,
Quando as provas, os números foram enfileirados diante de mim,
Quando me foram mostrados os mapas e diagramas a somar, dividir e medir,
Quando, sentado, ouvia o astrônomo muito aplaudido, na sala de conferências,
Senti-me logo inexplicavelmente cansado e enfermo,
Até que me levantei e saí, parecendo sem rumo
No ar úmido e místico da noite, e repetidas vezes
Olhei em perfeito silêncio para as estrelas.


Walt Whitman

(Do livro Leaves of Grass)


 
 
Walt Whitman (1819-1892) – foi poeta, ensaísta e jornalista norte-americano. Consideram-no o "pai do verso livre", "o poeta da América", etc. Escreveu "Leaves of Grass" (Folhas de Relva), cuja primeira edição data de 1855. Alguns dos seus poemas foram citados no enredo do filme "Sociedade dos Poetas Mortos". E quem poderia esquecer o antológico "O Captain! My Captain!"...

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O homem em uma bicicleta, Steve Jobs



"Eu li um estudo que mediu a eficiência de locomoção para várias espécies do planeta. O condor usa menos energia para mover-se num quilômetro. E, os seres humanos com uma exibição bastante inexpressiva, cerca de um terço para baixo nessa lista. Não era uma exibição muito orgulhosa para os reis da criação. Então, isso não parecia tão bom. Mas, então alguém na Scientific American teve o insight de testar a eficiência de locomoção de um homem em uma bicicleta. E, um homem em uma bicicleta, um ser humano em uma bicicleta, ultrapassou o condor na distância, completamente superior, no alto da lista. E é isso que um computador é para mim. É a ferramenta mais notável, é o equivalente a uma bicicleta para as nossas mentes."

Steve Jobs, da Apple (1955-2011)

Fonte: www.bikeforever.com.br

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Irmandade, Octavio Paz




Homenagem a Claudio Ptolomeo*

Sou homem: duro pouco
E é enorme a noite.
Mas olho para cima:
As estrelas escrevem.
Sem entender, compreendo:
Também fui escrito
E neste mesmo instante
Alguém me soletra.

Octavio Paz



Octavio Paz, ensaísta e poeta mexicano, nasceu na capital de seu país em 1914. Passou sua infância nos Estados Unidos, acompanhando sua família, e sua vida adulta entre a França e a Índia, por fazer parte do quadro de diplomatas mexicanos. Em seu país, é o poeta mais considerado e controvertido da segunda metade do século XX.

Foi agraciado, entre outros, com os prêmios Cervantes, em 1979, Alexis de Tocquerville, em 1989, e com o Nobel de Literatura, em 1990.

Algumas obras do autor: "Luna silvestre" (1933), "Entre lapiedra y la flor" (1940), "el laberinto de la soledad" (1959), "La estación violenta" (1958), "El arco y la lira" (1956), "Topoemas" (1971), e "Hijos del aire" (1979).

O escritor faleceu na cidade do México no ano de 1998.

Traduzido por Regina Werneck para o português, este poema faz parte da antologia "Poemas Reunidos" (1957 - 1987). Octavio Paz e Eliot Weinberger fizeram sua versão para o inglês, para o "Poesia em Movimento".

*Cláudio Ptolemeu ou Ptolomeu, foi um cientista grego que viveu em Alexandria, uma cidade do Egito. Ele é reconhecido pelos seus trabalhos em matemática, astrologia, astronomia, geografia e cartografia.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Criação, Álvaro Alves de Faria



Criador de todas as coisas,
em um entardecer
Deus se perguntou
na sua solidão celestial:

-E agora?

Então um anjo ferido,
sem a asa esquerda,
falou com voz de silêncio:

-Descansai, senhor!

Nesse exato instante
Deus adormeceu
e começou a se arrepender
de tudo que tinha feito.

Álvaro Alves de Faria

Álvaro Alves de Faria (São Paulo, 9 de Fevereiro de 1940) é um poeta, escritor e jornalista brasileiro. É um poeta da Geração 60. Dedica-se a diversos gêneros literários entre os quais poemas, novelas, romances, ensaios e crônicas, além de ter escrito peças de teatro. Como poeta, iniciou, em 1965, o movimento de recitais públicos nas ruas e praças de São Paulo, quando lançou o livro "O sermão do Viaduto" - um comício poético - em pleno Viaduto do Chá. Em 1966 foram proibidos, por motivos políticos. Jornalista profissional, dedicou-se à área cultural, especialmente na crítica literária em jornais, revistas, rádio e televisão. Pelo seu trabalho recebeu, em 1976 e 1983, o Prêmio Jabuti de Literatura da Câmara Brasileira do Livro.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Entrego, confio, aceito e agradeço, Professor Hermógenes



"Envolvidos por uma situação de estresse violento, de desafio alarmante, assaltados pela dor em forma de doença, pelo desemprego, desconforto, quando imersos numa crise que ultrapassa nossas esperanças de solução, é imperioso mobilizar todos nossos talentos, poderes, possibilidades, nossas reservas, para tentar uma saída, uma superação. Depois disso, se ainda nos vemos submetidos, manietados, derrotados, extenuados, vencidos, condenados... que resta fazer?
Para fazer face a situações assim, que me convencem de minha impotência, tenho aplicado, com vitória, uma estratégia que minha longa existência me fez aprender: entrego o problema ou entrego a mim mesmo, confiando na providência divina, e, portanto, predisposto a aceitar o que vier como resposta, e, numa prova de amor e fé, agradeço a Deus, antecipadamente, pela resposta que Ele achar melhor, seja qual for. Entrego, confio, aceito e agradeço!
A entrega não chega a ser verdadeira se desejamos uma determinada resposta. Se nos entregarmos totalmente, de imediato a paz nos acaricia. Aí, naturalmente deixamos a batalha com Deus, que tudo pode, para que ele batalhe por nós. O alívio é imediato. Estar entregue a Deus é a mais perfeita condição de ahimsa, de brandura, de sábia imobilidade e, por isso mesmo, a mais eficaz.
Suponho que Deus, que sempre nos quer vivos, sadios, felizes, vitoriosos, se sente homenageado quando Lhe damos a chance de nos socorrer. Ele, que sempre deseja nossa fiel e incondicional confiança, aproveita a entrega e põe a nosso favor Sua onisciência, onipresença, onipotência, e é só o que nos salva. Enquanto, apavorados, estressados, nos debatemos em gestos inócuos, desesperados, imprecisos, violentos e agoniados, ele não encontra condições de assumir nossa batalha; não tem como atuar.
Ter fé em que Deus nos dará isso ou nos livrará daquilo é o que mas se vê. E achamos que agir assim é ter fé. Não é. A verdadeira fé consiste em calar para que Ele fale, em nos reder ao que Ele quiser fazer de nós e por nós. Entenda este "seja feita a Vossa vontade" como wuwey, brandura, ahimsa, não-violência, saranagathi. Se você quiser dar uma chance a Deus para que Ele ganhe a batalha, para que o salve, cure, liberte, ilumine, pacifique, o que tem a fazer é precisamente oferecer-Lhe sua quietude, sua brandura, sua não-violência. Se continuar afobado, como pode Deus atuar..."
Aquietai-vos e sabei que Eu sou Deus (Salmos 46:10)


Professor Hermógenes

In: Convite à Não Violência: Em Paz com o Mundo, p.109 - Editora Nova Era.

Fonte: http://yogahermogenes.blogspot.com/


sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Eu não acredito em idade, Tao Porchon-Lynch


Tao Porchon-Lynch

"Eu não acredito em idade. Eu acredito em energia."

Tao Porchon-Lynch

Tao Porchon-Lynch (Puducherry, Índia, 13 de agosto de 1918) é uma atriz e mestre de ioga, sendo registrada em 2012 no Livro Guiness dos Recordes como "a professora de ioga mais velha do mundo" aos 93 anos de idade.


*Não lamento envelhecer. É um privilégio negado a muitos.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Canção de ser uma criança, Peter Handke

Meninos brincando, 1955,  Portinari


Quando a criança era criança,
andava balançando os braços,
queria que o riacho fosse um rio,
que o rio fosse uma torrente
e que essa poça fosse o mar.

Quando a criança era criança,

não sabia que era criança,
tudo lhe parecia ter alma,
e todas as almas eram uma.

Quando a criança era criança,

não tinha opinião a respeito de nada,
não tinha nenhum costume,
sentava-se sempre de pernas cruzadas,
saía correndo,
tinha um redemoinho no cabelo
e não fazia poses na hora da fotografia.

Quando a criança era uma criança

era a época destas perguntas:
Por que eu sou eu e não você?
Por que estou aqui, e por que não lá?
Quando foi que o tempo
começou, e onde é que o espaço termina?
Um lugar na vida sob o sol não é apenas um sonho?
Aquilo que eu vejo e ouço e cheiro
não é só a aparência de um mundo diante de um mundo?
Existe de fato o Mal e as pessoas
que são realmente más?
Como pode ser que eu, que sou eu,
antes de ser eu mesmo não era eu,
e que algum dia, eu, que sou eu,
não serei mais quem eu sou?
Quando uma criança era uma criança,
Mastigava espinafre, ervilhas, bolinhos de arroz, e couve-flor cozida,
e comia tudo isto não somente porque precisava comer.
Quando uma criança era uma criança,
Uma vez acordou numa cama estranha,
e agora faz isso de novo e de novo.
Muitas pessoas, então, pareciam lindas
e agora só algumas parecem, com alguma sorte.
Visualizava uma clara imagem do Paraíso,
e agora no máximo consegue só imaginá-lo,
não podia conceber o vazio absoluto,
que hoje estremece no seu pensamento.
Quando uma criança era uma criança,
brincava com entusiasmo,
e agora tem tanta excitação como tinha,
porém só quando pensa em trabalho.
Quando uma criança era uma criança,
Era suficiente comer uma maçã, uma laranja, pão,
E agora é a mesma coisa.
Quando uma criança era criança,
amoras enchiam sua mão como somente as amoras conseguem,
e também fazem agora,
Avelãs frescas machucavam sua língua,
parecido com o que fazem agora,
tinha, em cada cume de montanha,
a busca por uma montanha ainda mais alta,e em cada cidade,
a busca por uma cidade ainda maior,
e ainda é assim,
alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvores
como, com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje,
tinha uma timidez na frente de estranhos,
como ainda tem.
Esperava a primeira neve,
Como ainda espera até agora.
Quando a criança era criança,
Arremessou um bastão como se fosse uma lança contra uma árvore,
E ela ainda está lá, chacoalhando, até hoje.

Peter Handke

Filme: Asas do Desejo, de Win Wenders.

Peter Handke é um escritor austríaco. É também autor de teatro, romances, poesia, argumentista e realizador de cinema.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Propósito na nossa vida, Muhammad Yunus

Muhammad Yunus


"Os negócios tradicionais giram em torno do lucro. As pessoas ficam tão obcecadas em ganhar dinheiro que esquecem tudo. Como se ele fosse o Deus guiando nossa vida. Mas vamos acordar, essa não é a realidade. Nós temos que ter um propósito na nossa vida. E é aí que entram os negócios sociais. São companhias que não dão lucros mas resolvem os problemas dos seres humanos."
Muhammad Yunus


Economista mundialmente conhecido também como o banqueiro dos pobres,
ele criou um projeto para ajudar a diminuir a desigualdade social no mundo.
E tem ainda, um centro de recuperação de animais silvestres que tenta devolver a liberdade espécies nativas que foram vítimas do comércio ilegal.
Veio ao Brasil para divulgar um modelo de microcrédito. É um projeto de combate à pobreza que se popularizou na Ásia.

Ele fundou o Grameen Bank, para conceder micro empréstimos à população de baixa renda. Yunus começou com dinheiro do próprio bolso. Com apenas 27 dólares conseguiu ajudar 42 pessoas, principalmente mulheres. Hoje o banco registra 8 milhões e meio de empréstimos, tem taxa de inadimplência muito baixa e funciona também em Nova York.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

A canoa, Arthur Riedel



Em um largo rio, de difícil travessia, havia um barqueiro que atravessava as pessoas de um lado para o outro.
Em uma das viagens, iam um advogado e uma professora. Como quem gosta de falar muito, o advogado pergunta ao barqueiro:
- Companheiro, você entende de leis?
-Não, respondeu o barqueiro.
E o advogado, compadecido: – É uma pena, você perdeu metade da vida.
-A professora, muito social, entra na conversa:
-Seu barqueiro, você sabe ler e escrever?
-Também não, respondeu o barqueiro.
-Que pena! Condói-se a mesma – Você perdeu metade de sua vida!
Nisso chega uma onda bastante forte e vira o barco.
O barqueiro, preocupado, pergunta:
-Vocês sabem nadar?
-Não !!!! Responderam o advogado e a professora, rapidamente.
-Então…disse o barqueiro…é uma pena – Vocês perderam toda a vida!

"Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes!" 

 Professor Arthur Riedel

Pense nisso e valorize todas as pessoas com as quais tenha contato.
Cada uma delas tem algo diferente para nos ensinar...
 



In: Hei de Vencer, publicado em 1966. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A pintura embriaga, Sophia de Mello Breyner Andresen



Aqui – como convém aos mortais –
Tudo é divino
E a pintura embriaga mais
Do
que o próprio vinho.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Decidir ser feliz, Jean-Yves Leloup



Decidir ser feliz, nada adicionar à infelicidade da humanidade, nem mesmo uma queixa, um pensamento... Vontade de não perturbar, de não magoar. Não é ainda o amor nem a sabedoria, é o começo da ética. Para muitos, já é o heroísmo...

Jean-Yves Leloup


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Estou enjoado de política, Rubem Alves



Olho para as notícias da política com absoluta indiferença. Por vezes o absurdo é incomum e se torna ridículo. Aí o humor me provoca, por um curto espaço de tempo, mas logo retorno à realidade. As notícias são de uma mesmice sufocante. Os mesmos rostos, os mesmos lugares-comuns, as mesmas frases batidas que nada dizem. Sou tomado por uma sensação física de paralisia e impotência. Nada posso fazer, em nada posso acreditar. Meus pensamentos ficam pesados como blocos de concreto: entidades inertes, mortas, das quais não surge nenhuma vida. Nietzsche confessava haver se encontrado com o demônio, e que sempre que isto acontecia todas as coisas leves ficavam pesadas e caíam. O que o levou a afirmar que o demônio era o espírito da gravidade. Sinto o mesmo quando vejo as notícias da política. O que me leva a suspeitar que é aí que o demônio mora. Por mais que me esforce não consigo me lembrar da última vez que ouvi alguma coisa inteligente da boca de um político. Pois a marca de uma coisa inteligente é o seu poder para fazer o pensamento voar, abrir horizontes, tornar luminoso o mundo, sugerir alternativas e abrir caminhos novos para o pensamento e a ação.

Não estou sozinho neste desencanto. Guimarães Rosa sentia a mesma coisa. Dizia que jamais poderia ser um político "com toda esta charlatanice da realidade. O curioso", ele continua, "é que os políticos estão sempre falando de lógica, razão, realidade e outras coisas do gênero e ao mesmo tempo vão praticando os atos mais irracionais que se possam imaginar. Ao contrário dos legítimos políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. Sou escritor e penso em eternidades. O político pensa apenas em minutos.

Eu penso na ressurreição do homem." Confesso que a minha alma gozava melhor saúde no tempo da ditadura. Naqueles anos sombrios o pensamento brincava com a certeza de que aquilo não poderia durar para sempre. Era impensável que o horror durasse para sempre. Dietrich Bonhoeffer, numa das cartas que escreveu da cela da prisão de um campo de concentração nazista, conta que o prisioneiro desconhecido que o antecedera escrevera, na parede, a sua mensagem de esperança desesperada: "Dentro de cem anos tudo isto terá terminado." Muitas vezes repeti a mesma frase, embora não me atrevesse a imaginar que o medo pudesse persistir por tanto tempo. O horror chegaria ao fim e, com ele, um novo tempo. "Apesar de você amanhã há de ser novo dia..."
O pensamento dançava entre o absurdo e a esperança. De um lado o noticiário político anunciava o presente. Mas os poetas cantavam um futuro. O que fazia com que o presente fosse vivido como tempo de espera, como gravidez, expectativa escatológica.


"Como dois e dois são quatro/ sei que a vida vale a pena,/ embora o pão seja pouco e a liberdade pequena./ Como teus olhos são claros e a tua pela morena,/ como azul é o oceano e a lagoa serena,/ como um tempo de alegria e por trás do terror me acena,/e a noite carrega o dia no seu colo de açucena,/ como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena..."
Ferreira Gullar


Era noite mas se podiam ver no horizonte as cores da madrugada.

Por isto o pensamento era leve! Por isto as ideias voavam! Por isto se geravam utopias! Por isto - apesar de tudo - os poetas falavam e o povo cantava: "Caminhando e cantando e seguindo a canção, somos todos iguais, somos todos irmãos...". Não havíamos sido abandonados pela beleza.


Mas este tempo passou. O tempo do horror chegou ao fim mas o que nasceu foi um novo horror.


Nosso tempo está vazio. Os poetas estão silenciosos. É noite, sem nenhum anúncio de madrugada.


Noite sem canções, noite sem sonhos.


A psicanálise descobriu que nós somos sonhos feitos carne.


Músculos, ossos, sangue: sólidas realidades físicas que não podem viver sem pão. Mas, como dizem os textos sagrados, "o homem não viverá só de pão". Nossa carne precisa de sonhos para viver. São os sonhos que moram neste corpo que desenharão os seus gestos: se ele voará, leve, na direção das suas esperanças, construindo caminhos e pontes e plantando jardins, ou se se deixará afundar no charco da tristeza, fazendo apenas aquilo que a dura luta pela sobrevivência exige. "Sonho, logo existo."

Aquilo que é verdadeiro para os indivíduos também é verdadeiro para os povos. Santo Agostinho já sabia disto e dizia que um povo é o conjunto de pessoas que amam as mesmas coisas, que têm sonhos comuns. Muitos séculos mais tarde o sociólogo Durkheim iria repetir a mesma coisa, dizendo que um povo não se faz com coisas materiais. Um povo se faz com ideais, com esperanças partilhadas. Estava certo o poeta Tagore quando dizia que o povo pedia canções. Há de haver visões de beleza, utopias de jardins e de harmonia entre os homens e a natureza, esperanças de paz e tranquilidade, e o sentimento bom de que se está construindo um mundo amigo a ser legado como herança aos nossos filhos.

É por isto que os noticiários políticos só me causam náusea. Pois se noticia como se o destino do povo se tecesse nas artimanhas do poder. Mas um povo não nasce do poder; ele é uma criatura do amor. E o poder só tem sentido quando é uma ferramenta para a realização do amor.

Daí a nossa tristeza, pois o povo não acredita que o poder esteja a serviço dos seus sonhos. E de tanto ver os seus sonhos abortados achou melhor deixar de sonhar. Mas não é isto que deveria ser um político? Aquele que, por ser do povo, sonha os seus sonhos e se dedica a transformá-los em realidade. Lembro-me das palavras de Miguel de Unamuno: "Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei, nem outorgarei a minha confiança a condutores de povos que não estejam penetrados na ideia de que, ao conduzir um povo, conduzem homens, homens de carne e osso, homens que nascem, sofrem e,ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos, e não meios; homens enfim, que buscam a isso a que chamamos felicidade."

A esperança é de que, distantes da pantomima do poder, os sonhos não tenham morrido. Como na história da Bela Adormecida, eles dormem, mais profundos que pesadelos do cotidiano. E um dia acordarão. E o povo, possuído pela sua beleza esquecida, se transformará em guerreiro e se dedicará à única tarefa que vale a pena, que é a de transformar os sonhos em realidade. Esta é a única política que me fascina. Como o Guimarães Rosa, vivo na esperança da ressurreição dos mortos.


Rubem Alves


(Correio Popular, 28/01/1991)

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