domingo, 30 de setembro de 2012

O Tempo e as Jabuticabas, Rubem Alves



Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim-de-semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que, apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de ‘confrontação’ onde ‘tiramos fatos a limpo’. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: ‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa!…
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão-somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena.

Rubem Alves

Rubem Alves (Boa Esperança, MG, 15 de setembro de 1933) é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Leia Mais

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Alves



sábado, 29 de setembro de 2012

O olhar, de Manoel de Barros





Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol
De águas
De árvores
De aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.

Manoel de Barros

Fonte: Poemas Ruprestes, Manoel de Barros, Ed. Record
Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, MT) 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de 1996.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

A beleza da natureza, Carlos Drummonde de Andrade



“A beleza ainda me emociona muito. Não só a beleza física, mas a beleza natural. Hoje, com quase oitenta e cinco anos, tenho uma visão da natureza muito mais rica do que eu tinha quando era jovem. Eu reparava mais em certas formas de beleza. Mas, hoje, a natureza, para mim, é um repertório surpreendente de coisas magníficas e coisas belas. Contemplar o vôo do pássaro, contemplar uma pomba ou uma rolinha que pousa na minha janela... Fico estático vendo a maravilha que é aquele bichinho que voou para cima de mim, à procura de comida ou de nem sei o quê. A inter-relação dos seres vivos e a integração dos seres vivos no meio natural, para mim, é uma coisa que considero sublime.”


Fonte: Prosa Seleta, Carlos Drummond de Andrade, Ed. Nova Aguilar, 2006.



Carlos Drummond de Andrade, (Itabira, MG, 31 de outubro de 1902 -  Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987). É Considerado um dos principais poetas da Literatura Brasileira devido à repercussão e alcance de suas obras. Nasceu em Minas Gerais, em  uma cidade cuja memória viria permear parte de sua obra. Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e Nova Friburgo. Formado em Farmácia, com Emílio de Moura e outros companheiros fundou "A Revista" para divulgar o Modernismo no Brasil. Durante a maior parte de sua vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O nascimento da borboleta, Jean-Yves Leloup




Esta experiência é única. Nela ocorre algo que nunca poderemos esquecer e que não poderemos também explicar. [...] Em um itinerário espiritual, deve-se fazer desta experiência uma oportunidade de iniciação. Não considerá-la como algo que jamais se reproduzirá ou como uma graça maravilhosa que queremos que se repita a todo instante. Porque esta experiência é uma revelação de nossa natureza verdadeira.

[...] São momentos em que, efetivamente, a paz dura um pouco mais e onde, no interior de nossa mente, o silêncio torna-se algo real. [...] é preciso acolher estes momentos gratificantes com gratidão, mas, ao mesmo tempo, não se apegar a eles e não procura-los. [...] Porque, se nós nos apegamos a estes momentos, se quisermos reencontrá-los sem cessar, em lugar de nos ajudarem a avançar, eles nos param, nos bloqueiam, fazendo-nos entrar em uma espécie de complacência com eles. [...] A vida, porém, é uma grande mestra e se encarrega de tirar nossas ilusões.

[...] E o sinal de que a experiência numinosa realmente nos tocou é que não podemos mais viver da mesma maneira que antes. [...] Porque podemos ter tido experiências maravilhosas e magníficas, mas concretamente, em que elas mudaram as nossas vidas? O que mudou em nossa vida cotidiana? Dessa maneira, podemos ter necessidade de uma prática, de um método em nosso itinerário.

[...] ao final de um itinerário espiritual não sobra muito da imagem que se tinha de si mesmo no início do processo. É como se houvesse uma morte de si mesmo. Mas esta morte não é o fim. O que alguns chamam de morte da lagarta, outros chamam de nascimento da borboleta.

Jean-Yves Leloup




Fonte: Terapeutas do Deserto (com Leonardo Boff, Editora Vozes, Petrópolis, 2002)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Os girassóis, Mary Oliver




Venha comigo
Para o campo de girassóis.
Suas faces são discos brunidos,
suas colunas secas

rangem como mastros de navio,
suas folhas verdes,
tão pesadas e tantas,
preenchem o dia com
os açúcares pegajosos do sol.
Venha comigo
visitar os girassóis,
eles são tímidos
mas querem ser amigos;
eles têm histórias maravilhosas
de quando eles eram jovens –
o tempo importante

os corvos perambulantes.
Não tenha medo
de fazer perguntas a eles!
Suas faces luminosas,

que seguem o sol,
ouvirão, e todas
aquelas fileiras de sementes -
cada uma uma nova vida!

esperança de uma amizade mais íntima;
cada um deles, embora em
uma multidão de muitos,
como um universo separado,

é solitário, o trabalho longo
de transformar suas vidas
em uma celebração
não é fácil. Venha

e vamos falar com aqueles rostos modestos,
as roupas simples de suas folhas,
as raízes ásperas na terra
queimando tão eretamente.

Mary Oliver

Tradução livre de Lobo Pasolini do poema The Sunflowers


Mary Oliver, nascida em 10 de setembro de 1935. É uma poeta americana que ganhou o National Book Award e o Prêmio Pulitzer. 
Mary Oliver é uma das poetas mais famosas e que mais vende na América. Seus livros incluem Pássaro Vermelho; nosso mundo; Sede; Blue Iris; Poemas novos e selecionados, Volume One, e Poemas novos e selecionados, Volume Two. Ela também publicou cinco livros de prosa, incluindo as regras para a dança e, mais recentemente, longa vida. Ela vive em Provincetown, Massachusetts.



Original Poem


The Sunflowers 

Come with me
into the field of sunflowers.
Their faces are burnished disks,
their dry spines 

creak like ship masts,
their green leaves,
so heavy and many,
fill all day with the sticky 

sugars of the sun.
Come with me
to visit the sunflowers,
they are shy 

but want to be friends;
they have wonderful stories
of when they were young -
the important weather,

the wandering crows.
Don't be afraid
to ask them questions!
Their bright faces, 

which follow the sun,
will listen, and all
those rows of seeds -
each one a new life! 

hope for a deeper acquaintance;
each of them, though it stands
in a crowd of many,
like a separate universe, 

is lonely, the long work
of turning their lives
into a celebration
is not easy. Come 

and let us talk with those modest faces,
the simple garments of leaves,
the coarse roots in the earth
so uprightly burning.


Mary Oliver



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Primavera, Cecília Meireles




A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.


Cecília Meireles

Fonte: texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.



Cecília Benevides de Carvalho Meireles, (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.

Leia mais: http://www.releituras.com/cmeireles_bio.asp




segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O caso do poema roubado, Cora Rónai



Quem poderia adivinhar o que havia dentro do pacote que apareceu no sítio?


Há coisa de dois ou três meses apareceu, no portão do sítio, um pacote grande, embrulhado num saco de lixo preto. Ninguém viu quem trouxe. Amanheceu e estava lá. Assim que foi notado, ficaram todos da casa, bípedes e quadrúpedes, muito cabreiros com a sua presença. Nos dias de hoje, ninguém vê com confiança ou simpatia pacotes grandes, embrulhados em sacos de lixo pretos.
Os cachorros cheiraram e latiram, os gatos mantiveram distância, o Dirceu olhou de longe, cutucou com uma vareta, chamou Mamãe. O conteúdo parecia ser duro, sólido, como madeira. Não era nada morto, com certeza. E não parecia ser bomba, muito embora ninguém da família tenha a mais remota idéia de como seja uma bomba, salvo pelo que se vê no cinema e nos desenhos animados.

Finalmente, depois de mais cutucadas e de muita hesitação, o pacote foi trazido para dentro, e aberto com o cuidado que a desconfiança recomendava. Quando o conteúdo se revelou, surpresa total: quem poderia imaginar que um poema roubado há 30 anos voltasse ao lar daquela maneira?!

Quando o sítio ficou pronto, em princípios dos anos 60, uma das primeiras providências dos meus pais foi espalhar pelo jardim e pela floresta uma dúzia de poemas. Papai os selecionava, Mamãe os pintava em tabuletas e ambos escolhiam juntos, com capricho, as árvores e os cantinhos onde seriam expostos. Passear pelo sítio era como entrar numa pequena antologia sentimental.

Com o tempo, as tabuletas foram sumindo. Algumas queimaram junto com as suas árvores nos incêndios que, há alguns anos, eram comuns na região e que, apesar dos esforços do pessoal lá de casa, eventualmente atingiam partes do terreno. Outras foram vítimas do tempo. A maioria, porém, desapareceu sem deixar vestígios.

****
O poema devolvido chama-se “Casa antiga”, foi escrito em 1964 por minha madrinha Cecília Meireles e dedicado a Nora e Paulo Rónai:


Forrarei tua casa já tão antiga
Com um papel que imita as paredes de tijolo.
Ficará tão lindo como se estivéssemos na Holanda.

Forrarei tua casa assim, mas por dentro,
De modo que, longe de todas as vistas,
Será como se estivéssemos ao ar livre, no jardim.

E deixarei uma parede quebrada ? não uma porta, não uma
janela:
Uma parede quebrada por onde passe um ramo de goiabeira
Carregado de flores e vespas.

Parecerá que estamos sonhando,
E estamos sonhando mesmo,
E parecerá que estamos vivendo,
E a vida não é mesmo um sonho impossível?

****

Dentro do pacote, junto com a tabuleta, veio um bilhete escrito em letra pouco cultivada, na folha arrancada de um caderno. Dizia o seguinte: “Quando era menino achei este quadro lindo, pelo poema. Peço perdão por ter roubado este quadro. Hoje me converti a Jesus e sinto necessidade de devolvê-lo. Sinto-me envergonhado pela minha atitude. Mais era só um menino. Peço perdão a Deus e a vocês. E que vocês também consigam perdoar.”
Não havia nome, assinatura, nada. Ficamos com muita pena, pois teríamos gostado de conhecer e abraçar o menino antigo que roubou o poema e o homem correto que o devolveu, passados tantos anos. Mal sabe ele que nos deu um presente muito maior do que o que levou: um mundo onde crianças roubam poemas e adultos os devolvem é um mundo de beleza e de esperança. 

(O Globo, Segundo Caderno, 4.1.2006)

Cora Rónai


Cora Tausz Rónai (Rio de Janeiro, 31 de julho de 1953) é uma jornalista, escritora e fotógrafa brasileira. 

Foi a primeira jornalista brasileira a criar um blog, o internETC., ativo desde 2001, e primeira a dedicar-se à fotografia digital como ferramenta de comunicação. 

É conhecida também pela defesa incondicional do Rio de Janeiro, dos animais e do meio-ambiente.

domingo, 23 de setembro de 2012

Chegou a PRIMAVERA, Rubem Alves

Primavera, Taro Semba, 1960



'Em celebração ao início da Primavera eu desejo oferecer a vocês a oração abaixo, que é a mais bela orações pelo nosso mundo que conheço. Seria bonito se as escolas, as empresas, as fábricas, as igrejas celebrassem o início da Primavera com a leitura dessa oração:

 POR ESTE MUNDO


Ó Deus, nós te damos graças por este universo, nosso lar; pela sua vastidão e riqueza, pela exuberância da vida que o enche e da qual somos parte. Nós te louvamos pela abóbada celeste e pelos ventos, grávidos de bênçãos, pelas nuvens que navegam e as constelações, lá no alto.
Nós te louvamos pelos oceanos, pelas correntes frescas, pelas montanhas que não se acabam, pelas árvores, pelo capim sob os nossos pés. Nós te louvamos pelos nossos sentidos: poder ver o esplendor da manhã, ouvir as canções dos namorados, sentir o hálito bom das flores da primavera.
Dá-nos, rogamos-te, um coração aberto a toda esta alegria e a toda esta beleza, e livra as nossas almas da cegueira que vem da preocupação com as coisas da vida e das sombras das paixões, a ponto de passar sem ver e sem ouvir até mesmo quando a sarça, ao lado do caminho, se incendeia com a glória de Deus. Alarga em nós o senso de comunhão com todas as coisas vivas, nossas irmãs, a quem deste esta terra por lar, juntamente conosco.
Lembramo-nos, com vergonha, de que no passado nos aproveitamos do nosso maior domínio e dele fizemos uso com crueldade sem limites, tanto assim que a voz da terra, que deveria ter subido a ti numa canção, tornou-se um gemido de dor.
Que aprendamos que as coisas vivas não vivem só para nós; que elas vivem para si mesmas e para ti, que elas amam a doçura da vida tanto quanto nós, e te servem, no seu lugar, melhor que nós no nosso.
Quando chegar o nosso fim, e não mais pudermos fazer uso deste mundo, e tivermos de dar nosso lugar a outros, que não deixemos coisa alguma destruída pela nossa ambição ou deformada pela nossa ignorância. Mas que passemos adiante nossa herança comum mais bela e mais doce, sem que lhe tenha sido tirado nada da sua fertilidade e alegria, e assim nossos corpos possam retornar em paz para o ventre da grande mãe que os nutriu e os nossos espíritos possam gozar da vida perfeita em ti.'
(Orações por um mundo melhor, Walter Rauschenbusch, PAULUS, 1997)

(Correio Popular, 22/09/2002)

Rubem Alves

sábado, 22 de setembro de 2012

Eu acredito



"Eu acredito no sol, mesmo quando ele não está brilhando. Eu acredito no amor, mesmo quando eu não sinto isso. Creio em Deus, mesmo quando Ele está em silêncio."

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Ensinarás, Madre Teresa de Calcutá




Ensinarás a voar…
Mas não voarão o teu voo.
Ensinarás a sonhar…
Mas não sonharão o teu sonho.
Ensinarás a viver…
Mas não viverão a tua vida.
Ensinarás a cantar…
Mas não cantarão a tua canção.
Ensinarás a pensar…
Mas não pensarão como tu.
Porém, saberás que cada vez que voem, sonhem, vivam, cantem e pensem…
Estará a semente do caminho ensinado e aprendido!

Madre Teresa de Calcutá


Agnes Gonxha Bojaxhiu (Skopje, 26 de agosto de 1910 — Calcutá, 5 de setembro de 1997), conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá ou Beata Teresa de Calcutá, foi uma missionária católica de etnia albanesa, nascida no Império Otomano, na capital da atual República da Macedônia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica em 2003. Considerada, por alguns, a missionária do século XX, fundou a congregação "Missionárias da Caridade", tornando-se conhecida ainda em vida pelo cognome de "Santa das sarjetas".

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Nosso verdadeiro lar, Thich Nhat Hanh




Quando praticamos a meditação andando, chegamos a todo momento. Nosso verdadeiro lar é o momento atual. Quando entramos profundamente no momento atual, nossas queixas e preocupações desaparecem, e descobrimos a vida com todas as suas maravilhas. Inspirando, dizemos a nós mesmos: “Eu cheguei”. Expirando, dizemos: “O meu lar”. Fazendo isso, superamos a dispersão e habitamos pacificamente no momento atual, que é o momento absoluto de conscientização para nós.

Thich Nhat Hanh

É um  monge budista vietnamita, poeta, e ativista nas questões ligadas a paz.
Mais sobre Thich Nhât Hanh aqui:

Fonte: Meditação andando, Guia para a Paz interior, Editora Vozes, Petrópolis, 2005

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mãe Nossa, Clene Salles




Mãe Nossa que estais na Terra,

Seja Venerado e Reverenciado o Vosso Ventre,

Vosso Ventre gerador de Luz,

Onde todos os desejos se realizam.

Venha a nós a Vossa Realeza, Império de Criatividade Materializada.

Nos permita conhecer com Sabedoria as leis da Natureza, onde sua Força e Poder se manifestam.

Seja feita a Vossa Vontade por toda a Terra, assim como por todas as águas.

A nutrição nossa de cada dia nos daí hoje.

Perdoai as nossas falhas, nos ajude a perdoarmos a nós mesmos e, assim conseguiremos perdoar nossos semelhantes.

Permita, Mãe Nossa, que nos ergamos em Amor, Harmonia e Paz.

Não nos deixeis sem fertilidade e força de fecundação.

Liberta-nos em nome da Vida e da Sua Continuidade,

Para renascermos novamente, e a todo instante de acordo com o Poder da Espiritualidade.

Assim sempre foi, assim é, assim sempre será.



Clene Salles (março/2003)

Escritora, Tradutora

Celular 55 11 992340687

Clene Salles Editorial é uma empresa de comunicação customizada.


segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Bem no fundo, Paulo Leminski




No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria de
ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela? silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski


Paulo Leminski Filho (Curitiba, 24 de agosto de 1944 — Curitiba, 7 de junho de 1989) foi um escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor brasileiro. Era, também, faixa-preta de judô.


Leia mais
http://pauloleminskipoemas.blogspot.com.br/2008/09/bem-no-fundo-paulo-leminski.html



domingo, 16 de setembro de 2012

Anímico, Adélia Prado


O balanço da alma, pintura de Guilherme de Almeida


Nasceu no meu jardim um pé de mato
que dá flor amarela.
Toda manhã vou lá pra escutar a zoeira
da insetaria na festa.

Tem zoada de todo jeito:
tem do grosso, do fino, de aprendiz e de
mestre.

É pata, é asas, é boca, é bico, é grão de
poeira e pólen na fogueira do sol.
Parece que a arvorinha conversa.

Adélia Prado


Adélia Luzia Prado Freitasnasceu no dia 13 de dezembro de 1935, em Divinópolis, Minas Gerais. Poeta e romancista, alguns de seus textos têm sido adaptados para o teatro em montagens bem sucedidas como Dona Doida, o qual, protagonizado por Fernanda Montenegro, foi encenado em diversos Estados brasileiros, além dos Estados Unidos, Portugal e Itália. Possui vasta obra literária.

Leia mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado

sábado, 15 de setembro de 2012

O amigo Rubem Alves, Elo Teixeira

Rubem Alves e Elo Teixeira


Hoje é aniversario do Rubem Alves! (15/09)
Alooooooooha Rubem Alves, meu amigo, amor do coração!
Te mando, desde cedo, um abraço que vou te dar hoje a noite pessoalmente. Um abraço de alegria por voce estar na minha vida e na vida de tantos e tanto e tantos que , atraves da sua obra, abrem os olhos do coraçao para ver além....

Aqui – como convém aos mortais –
Tudo é divino
E a pintura embriaga mais
Do

 que o próprio vinho.

(Sophia Andresen)

O Rubem é meu amigo e me abriu portas lá onde eu nem sabia que havia portas, que nem diz Joseph Campbell. Desde quando o conheci através de seus livros , durante o curso de Filosofia. Depois, era ele que eu adorava levar pra sala de aula para os meus alunos. Eram suas idéias e seu jeito diferente de fazer pensar o já pensado, e do seu jeito de pensar coisas que ninguém pensava que eu e eles mais gostávamos de misturar às nossas reflexões.
Rubem é uma chave. Sua obra abre portas e portinholas e portões dentro da gente. Uma chave que tem um segredo que vira pra lá, vira pra cá e sempre acha um jeito de destrancar coisas ou lembranças, ou janelas, ou gavetas, ou caixinhas ou baús dentro dos nossos arquivos. Pode parecer que não é lá uma coisa muito boa de se fazer sem pedir licença, mas ele faz assim mesmo. Ele é um pastor. Sabe tocar o sino vespertino, carregando no bolso do paletó vermelho a homilia preparada pela Vida. É canoeiro que nem eu, de nascença. Nele, o rio me leva a encontrar em mim mesma uma eu, que nem sabia que estava lá. E ele me ouve e se diverte comigo. Eu tenho o maior amor por ele.

(1989)

*

Há muitos anos atrás eu soube, pela Abigail Bonas, que o Professor Rubem Alves reunia um grupo de pessoas nas terças-feiras a noite para ler e falar sobre Poesia e Psicanálise. A poesia sempre estivera presente na minha vida, desde menina, mas a psicanálise se reservava apenas a intensas leituras, muita intuição e uma curta experiência de divã que só fez me preparar para o que viria depois.
Minha área era a Filosofia e fiquei pensando o que faria lá no meio de psicanalistas. Com certeza ficaria calada, escutando. Se conseguisse, é claro.
Conhecia a obra de Rubem Alves e queria conhecê-lo. Tive medo. Aquela coisa de conhecer a obra e depois vir a conhecer o autor e descobrir que ele não tem nada a ver com o meu olhar sobre ele. O que realmente às vezes acontece. Mas resolvi arriscar, afinal ele escrevia sobre o que eu mesma acreditava e esse sentimento de afinidade foi maior que qualquer constrangimento. Foi o que fiz, com sucesso. A aventura se transformou numa ventura.
Liguei pra casa dele. Ele atendeu. Não, o grupo não era só de psicanalistas, todos seriam bem-vindos. Ele estava abrindo o grupo para todos os que gostassem de poesia principalmente. Era Dezembro de 1994 e ele me pediu que voltasse a ligar no final de Janeiro de 95, quando voltariam a se reunir.
Descobri que sua secretária na época era uma colega, contemporânea da faculdade de Filosofia, a Maria Inês, e que uma grande amiga, Ana Gedeão, minha primeira terapeuta, freqüentava o grupo. Eu não estava mais só naquela aventura. E para minha alegria, quando entrei na sala , da primeira vez, vi a Regina Sarmento, que me sorriu aquele sorriso dela, manso e acolhedor. Nunca mais perdi a Rê de vista. Mesmo quando estou longe dela, estou perto. Regina é outro amor da minha vida.

O grupo era grande, umas vinte pessoas que eu chamei de “fixas” e outras poucas, que apareciam uma ou outra vez, as “flutuantes”. Psicanalistas, biólogos, médicos, engenheiros, poetas, psicólogos, artistas, donas de casa, estudantes de várias áreas, pessoas de quem sabia o primeiro nome, a área em que se encontravam e as idéias que expunham. Mais o som das risadas, o brilho dos olhos, o jeito de chegar e ser. Da Filosofia, o Rubem, e eu.
Lemos Fernando Pessoa o ano inteiro. Sentimos Pessoa o ano inteiro. Encontros sobre versos que nos escavavam em silêncios, risos e lágrimas. Sem regras determinadas ou caminhos escolhidos, a percepção de um e outro sobre os poemas, enriquecia o olhar de todos. E eu seguia espiral acima. A poesia de guia. Um grupo entusiasmado e alegre. E muito amoroso.
Durante o ano de 1996 eu continuei com as anotações que fazia nos nossos encontros, desde o começo. Precisava delas, ávida da releitura que fazia durante a semana para não perder aquela trilha poética que me devolvia a mim mesma , quando tantas coisas de ordem pessoal e doméstica, naquela época, me empurravam na direção contrária. No final do ano resolvi digitar as anotações e dar cópias delas aos meus amigos, como presente de natal. A Cris sempre me lembra que precisamos publicar essas anotações... uma viagem...
Já tínhamos mudado o local dos nossos encontros para a casa que o Rubem reformara e onde estava morando, atrás do Seminário Presbiteriano de Campinas. Inauguramos o Restaurante Dali e já éramos Os Canoeiros, nome que surgiu após o encontro do dia 15 de Setembro de 1996, dia do aniversário de Rubem Alves. Por causa do texto de Guimarães Rosa que estávamos lendo nos últimos encontros, “A Terceira Margem do Rio”. O texto nos arrebatou. Ficamos pregados ali, viramos os habitantes da Terceira Margem. Viramos Os Canoeiros da Terceira Margem do rio. Éramos os canoeiros, as margens, e éramos o rio. Na palavra poética. Porque a palavra poética é tudo o que pode ser dito além do silêncio.
Naquele ano continuamos mergulhando em Fernando Pessoa, e outros poetas e escritores que foram chegando através dos caminhos pessoais. A poesia, uma pintaçao de quadro, dizia o Rubem... Adélia Prado, Cecília Meireles, Mario Quintana, Otavio Paz, Sophia Andresen,... E de lá pra cá nos aventuramos por muitos outros mais. Trouxemos a Adélia uma vez para Campinas e a Regina e eu nunca nos divertimos tanto, fazendo a maior festa com a nossa poeta preferida.

Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero.
Por causa dele falo palavras como lanças.
Amor é a coisa mais alegre
Amor é a coisa mais triste
Amor é a coisa que mais quero.
Por causa dele podem entalhar-me,
sou de pedra sabão.
Alegre ou triste,
Amor é a coisa que mais quero.

Adélia Prado

Rubem sempre preparou para nós uma sopa caprichada, vinho e pão, e isso era uma ceia em torno de uma fogueira de versos, sentimentos e caminhos, aos meus olhos.

Os Canoeiros fizeram algumas viagens para Pocinhos do Rio Verde em Minas Gerais, onde Rubem Alves tinha um sítio, e para Águas de São Pedro, onde a canoeira Izabel tem uma chácara. Do grupo surgiu a Agenda Rubem Alves, idéia da Izabel, encontros maravilhosos com Adélia Prado, jantares memoráveis e muita alegria para todos. Uma vez fomos para Portugal no lançamento do livro do Rubem sobre a Escola da Ponte pela qual ele tinha se apaixonado.
Cris Mattoso, Lenir Santos, Maria Olimpia Nogueira, Elba Mantovanelli... Um momento numinoso dessa minha existência, aqueles dias na Escola da Ponte, na Vila das Aves, em Famalicão...

Os Canoeiros conheceram Carlos Rodrigues Brandão, um belo amigo do Rubem que ficou nosso amigo também... Antropólogo respeitado e respeitador dos valores essenciais da vida, da beleza e da humanidade em cada um de nós. E um poeta raro.

Essa gente tropeira
e saltimbanca
pensa que Deus
se escuta no rumor
das trombetas, entre os reis.
Ontem eu ouvi Deus.
Ele passou no vento
que não moveu uma palha
uma flor.

Almoçamos juntos de vez em quando, hoje em dia, e nos abraçamos muito qdo nos encontramos em alguns aniversarios... Hoje vamos nos encontrar na casa da Gracinha, em Valinhos, pra celebrar esse homem que tocou profundamente as nossas vidas e a cada encontro habita ainda mais , com todo amor, o nosso coraçao: Rubem Alves!

Aeeeeeeeee Rubem Alves ! Parabens !

Os Canoeiros da Terceira Margem do Rio, um livro vivo, é parte da obra de Rubem Alves. Obra cuja profundidade, liberdade e beleza inspira e incentiva a uma vida vivida com sabedoria, simplicidade e principalmente na alegria.

Namaste, amigo lindo! Namaste!
Todas as bençãos e Luz sobre você! O melhor da Graça Divina sobre sua Vida!


Elo Teixeira 

https://www.facebook.com/elo.teixeira.3











Vende-se, Olavo Bilac





Certa vez, um grande amigo do poeta Olavo Bilac queria muito vender uma propriedade, de fato, um sítio que lhe dava muito trabalho e despesa. Reclamava que era um homem sem sorte, pois as suas propriedades davam-lhe muitas dores de cabeça e não valia a pena conservá-las. Pediu então ao amigo poeta para redigir o anúncio de venda do seu sítio, pois acreditava que, se ele descrevesse a sua propriedade com palavras bonitas, seria muito fácil vendê-la.
      E assim Olavo Bilac, que conhecia muito bem o sítio do amigo, redigiu o seguinte texto: 

"Vende-se encantadora propriedade onde cantam os pássaros, ao amanhecer, no extenso arvoredo. É cortada por cristalinas e refrescantes águas de um ribeiro. A casa, banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda."

      Meses depois, o poeta encontrou o seu amigo e perguntou-lhe se tinha vendido a propriedade.
      "Nem pensei mais nisso", respondeu ele. "Quando li o anúncio que você escreveu, percebi a maravilha que eu possuía."

      Algumas vezes, só conseguimos enxergar o que possuímos quando pegamos emprestados os olhos alheios.

Olavo Bilac

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac




sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Lembrete, Orides Fontela

Foto de Denise Pires



É importante acordar
a tempo

é importante penetrar
o tempo

é importante vigiar
o desabrochar do destino.

Orides Fontela

Fonte: FONTELA, Orides. "Trevo" (1969-1988). São Paulo: Duas Cidades, 1988.


Orides de Lourdes Teixeira Fontela (São João da Boa Vista, 1940 — Campos do Jordão, 1998) foi uma poetisa brasileira de tendência contemporânea.
Publicou trabalhos no O Município, periódico de sua terra natal e no Suplemento Literário do jornal O Estado de S. Paulo. Formada pelo curso de Filosofia da Universidade de São Paulo. Foi premiada com o Jabuti de Poesia, em 1983, em função ao livro Alba, recebeu também o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro Teia, em 1996. Em 2007 o Ministério da Cultura homenageou-a com a Ordem do Mérito Cultural, categoria Grã-Cruz. Maria Helena Teixeira de Oliveira, prima da poeta, foi quem recebeu a condecoração das mãos do Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva. A cerimônia aconteceu no Palácio das Artes, na cidade de Belo Horizonte.


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http://pt.wikipedia.org/wiki/Orides_de_Lourdes_Teixeira_Fontela


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A Palavra, Viviane Mosé



A palavra é uma roupa
que a gente veste.
Uns gostam de palavras curtas.
Outros usam roupa em excesso.
Existem os que jogam palavra fora.
... Pior são os que usam em desalinho.
Alguns usam palavras raras.
Poucos ostentam caras.
Tem quem nunca troca.
Tem quem usa a dos outros.
A maioria não sabe o que veste.
Alguns sabem e fingem que não.
E tem quem nunca usa
a roupa certa pra ocasião.
Tem os que se ajeitam bem
com poucas peças.
Outros se enrolam em um
vocabulário de muitas.
Tem gente que
estraga tudo que usa.
E você, com quais
palavras você se despe?



Viviane Mosé


Fonte: in Toda Palavra

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http://www.vivianemose.com.br/

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O amor não desaparece jamais, Santo Agostinho




Ofereço esta mensagem ao meu querido cunhado Roberto que lutou bravamente contra o câncer e hoje descansou.

A morte não é nada. Eu, somente passei para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês. O que era para vocês, eu continuarei sendo.
Dêem-me o nome que vocês sempre me deram; falem comigo como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de sombra.
A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora de seus pensamentos agora que estou apenas fora de suas vistas?
Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do
      Caminho...
  
Santo Agostinho

terça-feira, 11 de setembro de 2012

A constante aprendizagem, Cecília Meireles




Hoje desaprendo o que tinha aprendido até ontem
e que amanhã recomeçarei a aprender.
Todos os dias desfaleço e desfaço-me em cinza efêmera:
todos os dias reconstruo minhas edificações, em sonho eternas.

Esta frágil escola que somos, levanto-a com paciência
dos alicerces às torres, sabendo que é trabalho sem termo.

E do alto avisto os que folgam e assaltam, donos de riso e pedras.
Cada um de nós tem sua verdade, pela qual deve morrer.

De um lugar que não se alcança, e que é, no entanto, claro,
minha verdade, sem troca, sem equivalência nem desengano
permanece constante, obrigatória, livre:
enquanto aprendo, desaprendo e torno a reaprender.

Cecília Meireles

Fonte: 
In Cecília Meireles: Poesia Completa. Vol. II. (organização de Antonio Carlos
Sechin). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001. p. 1442.


Cecília Benevides de Carvalho Meireles, (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.





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