quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Amor, Paulo Leminski



"Amor, então
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."


Paulo Leminski

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Quis ser um dia jardineira, Cora Coralina

Cora Coralina


Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...



Cora Coralina

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Seu tempo..., Steve Jobs

imagem Google


“Seu tempo é limitado, então não percam tempo vivendo a vida de outro. Não sejam aprisionados pelo dogma – que é viver com os resultados do pensamento de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar sua voz interior. E mais importante, tenha a coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário.”  

Steve Jobs

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O corpo de dor feminino coletivo, Eckhart Tolle

Women in rhythm by Lindy G. Gaskill

A dimensão coletiva do corpo de dor apresenta componentes diferentes.
Tribos, nações, raças, todos têm seu corpo de dor coletivo, e alguns são mais pesados do que os outros. A maioria dos integrantes de cada um desses
grupos participa dele em maior ou menor grau.
Quase toda mulher tem sua parcela no corpo de dor feminino coletivo, que tende a se tornar ativado especialmente no período que precede a
menstruação. Nessa fase, muitas mulheres são dominadas por uma intensa emoção negativa.
A supressão do princípio feminino, sobretudo ao longo dos últimos 2 mil anos, permitiu que o ego ganhasse absoluta supremacia na psique humana
coletiva. Embora as mulheres tenham ego, é claro, ele pode enraizar-se e prosperar com mais facilidade na forma masculina do que na feminina. Isso
acontece porque as mulheres se identificam menos com a mente do que os homens. Elas estão mais em contato com o corpo interior e a inteligência do
organismo, que dão origem às faculdades intuitivas. A forma feminina não se encontra tão rigidamente encapsulada quanto a masculina, tem maior abertura
e sensibilidade em relação às outras formas de vida e está mais sintonizada com o mundo natural.
Se o equilíbrio entre as energias masculina e feminina não tivesse acabado no nosso planeta, o crescimento do ego teria sido limitado de modo significativo. Não teríamos declarado guerra à natureza e não seríamos tão completamente alienados do nosso Ser.
Ninguém tem o número exato porque não foram mantidos registros,mas acredita-se que ao longo de 300 anos entre 3 e 5 milhões de mulheres foram torturadas e mortas pela "Santa Inquisição", uma instituição fundada pela Igreja Católica Romana para reprimir a heresia. Esse acontecimento se
equipara ao Holocausto como um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade. Bastava uma mulher mostrar amor pelos animais, caminhar
sozinha nos campos ou nas florestas ou colher plantas medicinais para ser considerada bruxa, torturada e condenada a morrer na fogueira. O sagrado feminino foi declarado demoníaco e toda uma dimensão desapareceu significativamente da experiência humana. Outras culturas e religiões, como o judaísmo, o islamismo e até mesmo o budismo, também reprimiram a dimensão feminina, embora de uma maneira menos violenta. O papel das
mulheres foi reduzido a cuidar dos filhos e da propriedade masculina. Os homens, que negavam o feminino até dentro de si mesmos, agora
comandavam o mundo, um mundo que estava em total desequilíbrio. O resto é história, ou melhor, o histórico de um caso de insanidade.
Quem foi responsável por esse medo do feminino que só pode ser descrito como uma paranóia coletiva aguda? Poderíamos dizer:
evidentemente, os homens foram os responsáveis. Mas então por que em muitas civilizações antigas pré-cristãs, como a suméria, a egípcia e a celta, as
mulheres eram respeitadas e o princípio feminino não era temido, e sim reverenciado? O que foi que de repente levou os homens a se sentir
ameaçados pelo feminino? O ego que se desenvolvia neles. Ele sabia que só conseguiria obter o pleno controle do planeta por meio da forma masculina e,
para fazer isso, tinha que tornar o feminino menos poderoso.
Além disso, o ego também dominou a maioria das mulheres, embora jamais fosse capaz se de se enraizar tão profundamente nelas quanto fez com
os homens.

Hoje em dia, a supressão do feminino está interiorizada, até mesmo pela maior parte das mulheres. O sagrado feminino, por ser reprimido, é sentido por elas como uma dor emocional. Na verdade, ele se tornou parte do seu
corpo de dor juntamente com o sofrimento que elas acumularam ao longo de milênios por meio do parto, do estupro, da escravidão, da tortura e da morte
violenta.
No entanto, agora as coisas estão mudando num ritmo muito veloz.
Como muitas pessoas estão se tornando mais conscientes, o ego vem perdendo influência sobre a mente humana. Uma vez que ele nunca se
enraizou profundamente nas mulheres, seu domínio sobre elas está se reduzindo mais rápido do que sobre os homens.


Eckhart Tolle

In "O despertar de uma nova consciência", Eckhart Tolle - Ed. Sextante - página 103

Colaboração de Lucia Sotero

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Os Quatro Compromissos, Don Miguel Ruiz



1 - PRIMEIRO COMPROMISSO:

Seja impecável com sua palavra.

 É o compromisso mais importante. É através da palavra que expressamos nosso poder criativo, quer seja através da fala ou do pensamento. É o mais poderoso instrumento que possuímos, e tanto pode ser usado para nos libertar como para nos escravizar.
O primeiro passo é ter consciência do poder da palavra. E aí então, torná-la impecável. Impecável significa "sem pecado". Bom, mas o que é pecado? Pecado é quando vamos contra a nossa natureza mais íntima, a nossa essência. Ou seja, sempre que nos julgamos, estamos pecando. Sempre que nos julgamos, nos criticamos, nos culpamos, nos condenamos, estamos pecando. E isso cria uma série de conflitos em nossa vida. E assim sem percebermos vamos nos escravizando a esses conflitos.
Se passarmos a ser impecáveis com nossa palavra iremos, pouco a pouco, re-criar nossa vida na direção do bem, do amor, da harmonia. E nos libertar do conflito.
Esse é um compromisso difícil de assumir, pois vai contra muito do que nos ensinaram. Por isso que é fundamental, antes de tudo, acreditar no poder da palavra, pois foi esse mesmo poder, usado erradamente, que criou tanto conflito em nossa vida.
O próximo passo é assumir consigo mesmo o compromisso de sermos impecáveis com nossa palavra. Devemos observar a nós mesmos, o que dizemos, o que pensamos, e ir modificando nossa palavra. Observar a forma como falamos com nós mesmos (nosso diálogo interior) e evitar qualquer pensamento de crítica, julgamento, culpa, substituindo- os por pensamentos de apoio, afeto, confiança, aceitação. Aos poucos vamos realizando também esse processo na forma como lidamos com os outros, como falamos com eles, como pensamos sobre eles.
Ser impecável com nossa palavra é usar nossa palavra para cultivar a semente do amor que existe em nós. É só em terreno fértil que esse amor pode crescer e frutificar.

2 - SEGUNDO COMPROMISSO:

NÃO LEVE NADA PARA O LADO PESSOAL.


Se você leva as coisas pro lado pessoal é porque, em algum nível, você concorda com o que está sendo dito.
Nós costumamos levar as coisas pro lado pessoal devido a uma coisa chamada "importância pessoal". Achamos que tudo o que acontece a nossa volta tem a ver conosco. Será que tem mesmo?
O que os outros fazem, dizem ou pensam tem a ver com a forma como os outros vêem o mundo, e não tem nada a ver com você. Já parou pra pensar nisso?
Os outros vêem o mundo baseado nos compromissos que assumiram consigo mesmos (suas crenças) e isso não tem nada a ver com você.
Quando você se sente ofendido ou magoado por outra pessoa sua reação é defender seus compromissos (suas crenças) como algo certo, estabelecido, como uma "verdade", quando são apenas suas crenças. Saiba que os outros não tem nada a ver com suas crenças.
Daí tantos conflitos e tanto caos criado em nossas vidas. Eu levo tudo pro lado pessoal, e os outros também. Eu defendo meus pontos de vista e os outros defendem os pontos de vista deles.
Não deveríamos levar nada para o lado pessoal, nem as críticas e nem os elogios.
Não levar nada para o lado pessoal é viver em estado de tal amor que todo o mundo ao nosso redor é visto por esse prisma, sob o ponto de vista do AMOR. Se vejo tudo com olhos amorosos, me liberto das críticas e até dos elogios.
O contrário do amor é o medo, e quanto mais medo tivermos em nós, mais levaremos as coisas para o lado pessoal, criando caos e conflito.
Escolha: quero ver o mundo com olhos medrosos? Ou quero ver o mundo com olhos amorosos? Assuma o compromisso de não levar nada para o lado pessoal, vendo tudo com olhos amorosos.

3 - TERCEIRO COMPROMISSO:

NÃO TIRE CONCLUSÕES.


Temos tendência a tirar conclusões sobre tudo, a presumir verdades.
É por isso que levamos tudo pro lado pessoal, porque acreditamos em nossas conclusões, em nossas "verdades", e como criamos conflito por isso...
Buscamos conclusões porque buscamos nos sentir seguros.
Tiramos conclusões até de nós mesmos. De onde você acha que vem nosso autojulgamento? De nossas conclusões sobre nós mesmos!
Não tirar conclusões significa viver a vida como ela é, dinâmica, viva, aberta, eternamente em movimento. Pare de presumir verdades e simplesmente viva!

Claro que você pode saber mais sobre uma pessoa ou uma situação. Nesse caso, faça perguntas, quantas achar necessário, mas nunca ache que você detém toda a verdade. Tal coisa é impossível..

4 - QUARTO COMPROMISSO:

DÊ SEMPRE O MELHOR DE SI.


Esse compromisso se refere a ação dos três compromissos anteriores.
Sempre dê o seu melhor, mas lembre que esse melhor nunca será o mesmo, pois tudo sempre está mudando. Lembra quando disse que a vida é dinâmica, aberta, sempre em movimento? Pois é! Por isso, não busque aquele melhor idealizado que só existe nos filmes e que nos ensinaram (esse melhor idealizado só serve pra nos criticarmos, pois nunca conseguimos atingi-lo).
Dar o melhor de si significa não se esforçar exageradamente nem fazer corpo mole. Dê o seu melhor de cada momento, nem mais, nem menos.
Quando você faz o seu melhor pode ter prazer na ação, ao invés de fazer as coisas apenas esperando resultados, apenas esperando a recompensa.
Dar o seu melhor é ser feliz desde agora!
Assim, você irá atingir um ponto em que tudo o que você faz é sempre o seu melhor.
Sempre que não conseguir manter um dos compromissos anteriores, não há problema, não se julgue, não se culpe. Você deu o seu melhor! E siga em frente.





 Don Miguel Ruiz

Leia Mais
http://en.wikipedia.org/wiki/Miguel_%C3%81ngel_Ruiz 
 
  
Livro:
"Os Quatro Compromissos" , Don Miguel Ruiz, Editora Best Seller


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sua decisão, Leo Cavalcanti

 Artwork by Emelisa Mudle - Floating Home
 

As belezas do universo
Só esperam por você
Confiar no seu destino
Para com ele aprender


Tudo em suas mãos
O céu, o sol e o chão
Você já sabe disso
Mas às vezes diz que não


Todos querem ser felizes
Todos querem pertencer
Mas ainda insistem em plantar
O vício do sofrer


O tempo acabou
Sofrer já é em vão
E todos só esperam
Essa sua decisão


Vem cá se abrir,
Se unir com o ar no ato,
No alto, no lar


Ser feliz e contente
Sem se conter
Se quiser, tente


Ser feliz e contente
Para crescer
É a semente


Ser feliz e contente
Sem se conter
Se quiser, tente


Ser feliz e contente
Sem se conter
Pra crescer


Ser feliz não quer dizer
Se esquecer da escuridão
É um tipo de certeza
Que nada está em vão


Tudo em seu lugar
Dançando em comunhão
No rumo inevitável
A eterna evolução


Mas quanto antes descobrir
Este poder de escolher
Vai poder facilitar
Que aconteça o florescer


Do potencial,
Do seu coração
Esse é seu dom, é seu direito
Seu dever, sua missão


Vem cá se abrir,
Se unir com o ar no ato,
No alto, no lar


Ser feliz e contente
Sem se conter
Se quiser, tente


Ser feliz e contente
Para crescer
É a semente


Ser feliz e contente
Sem se conter
Se quiser, tente


Ser feliz e contente
Para crescer
É a semente


Sem se conter
Ser feliz e contente
Para crescer


As belezas do universo
Só esperam por você


Leo Cavalcanti 

Leo Cavalcanti é um cantor, compositor, multi-instrumentista e arranjador brasileiro.

www.leocavalcanti.com.br/bio/ 

Assista ao vídeo também:
http://youtu.be/3TWdnY1_TJo 


Colaboração de Ana Carolina Queiroz

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Receita de espantar a tristeza, Roseana Murray



Faça uma careta e mande a tristeza pra longe,
pro outro lado do mar ou da lua...
vá para o meio da rua
e plante bananeira faça alguma besteira...
depois estique
os braços apanhe a primeira estrela
e procure um amigo
para um longo e apertado abraço...




Roseana Murray

Livro: Receitas de Olhar, Ed. FTD

Leia mais:

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O vazio, Rubem Alves

 
Foto de Dagoberto Nogueira - www.dagobertonogueira.com/

Minhas netas: Hoje quero que vocês me respondam uma pergunta: o que é que vale mais, o cheio ou o vazio? Ah! Pergunta boba! Todo mundo sabe que o que o cheio vale mais que o vazio. Quem gostaria de receber uma caixa vazia como presente de aniversário? O que a gente quer é uma caixa cheia. É o cheio que vale. Tanto assim que o cheio custa dinheiro. Mas o vazio não custa nada. Ninguém compra o vazio.

Parece óbvio que o cheio vale mais que o vazio... Mas será mesmo? É gostoso comprar uma sandália nova. Mas uma sandália é para a gente pôr os pés dentro dela. Mas para se pôr os pés dentro dela é preciso que o “dentro dela” esteja vazio. Se o “dentro dela“ estiver cheio o pé não entra. É o vazio da sandália que a torna útil. Vocês gostam de refrigerante. Querem pôr o refrigerante no copo. Mas para se pôr o refrigerante no copo é preciso que o copo esteja vazio. Um copo é um vazio cercado de vidro por todos os lados, menos o de cima. Aí você dá uma risadinha e diz: “Eu não preciso de copo. Uso um canudinho de plástico...“ Mas o canudinho só funciona se estiver vazio. É preciso que ele esteja vazio para que o refrigerante passe por dentro dele quando você chupa. Na escola o professor já lhes explicou como são os pulmões? Eles se parecem com um esponja: são cheios de buraquinhos vazios. Os buraquinhos têm de estar vazios para que o ar entre neles. Coisa ruim é quando, resfriados, os pulmões ficam “cheios“. Pulmão cheio não deixa respirar. Coisa gostosa é andar de bicicleta. Você pedala, as rodas rodam, e lá vai você sentindo o ventinho gostoso no rosto. Mas as rodas, para girarem, precisam ter um buraco no meio. É nesse buraco que entra o eixo. É o vazio no centro da roda que a torna útil. Vocês gostam de bolo. Eu também. Para se fazer um bolo a gente procura a receita num livro de receitas. A primeira coisa que aparece numa receita são os “ingredientes“: farinha, ovos, açúcar, manteiga, leite e outras coisas. Mas eu nunca vi, em livro de receitas, explicado que se não se misturar uma pitada de vazio com os ingredientes, o bolo não fica bom. Fica “embatumado“, pesado, ruim. É o vazio que faz o bolo ficar fofinho e leve. Aí você me pergunta: “Mas como se faz para misturar o vazio na massa do bolo?“ É simples. É para isso que se batem as claras dos ovos. As claras, sem bater, são só o “cheio“. Mas, depois de batidas, estão cheias de vazio. Vocês sabem bater claras? É divertido. A gente pega um garfo e vai enrolando a clara com movimentos circulares rápidos. Para quê? Para pescar vazio. Depois de batidas as claras, olhem bem: elas se transformaram numa espuma, milhares de bolhas minúsculas. Dentro de cada bolha está um pouquinho de ar. O fermento faz o mesmo efeito. Misturado com a massa o fermento começa a produzir bolhas bem pequenas de um gás, semelhantes àquelas que existem dentro das garrafas de refrigerantes. A casa também é um vazio cercado de paredes. Para isso servem as paredes: para pegar o vazio e permitir que ele seja usado. Os arquitetos e arquitetas são os artistas que sabem a arte de pegar vazios por meio de paredes. E as janelas? Também são vazios. Buracos. Já imaginaram uma casa sem janelas? Seria horrível viver numa casa sem janelas. Só conheço uma casa sem janelas: os prédios do Congresso Nacional, em Brasília. Parece que a ausência de janelas não faz bem nem para os sentimentos e nem para os pensamentos... É o vazio entre os meus olhos e o jardim que me permite ver o jardim. É o vazio chamado “silêncio“ que me permite ouvir a música. E o espelho? Para ser bom, para refletir o seu rosto, é preciso que seja vazio.

Agora uma de vocês me diz: “Mas vô: faz tempo que você está contando como era a sua vida de menino, na roça! E agora você começa a falar sobre o vazio...“ Aí eu explico: “É que a roça é o lugar onde o vazio é grande. A cidade é o lugar onde o vazio é pequeno.“ Na cidade a gente olha para fora e os olhos logo batem num edifício, num muro, nos automóveis. Na cidade a gente vê curto. Na roça, porque o vazio é grande, os olhos vêem longe, muito longe: os campos, as matas, as montanhas no horizonte, o sol que morre, a lua que nasce, as estrelas... Que coisa bonita é ver a cortina branca da chuva que vai chegando... Quando o vazio é grande o mundo cresce. Coisa que eu gostava de fazer quando menino: deitar no capim e ficar vendo as nuvens. Pareciam navios navegando no mar do céu, mudando de forma, sem parar: o pato virava regador, o regador virava elefante... Eu não entendia uma coisa: como é que as nuvens não caíam! De vez em quando elas caíam como chuva de água ou chuva de pedra de gelo. Disso eu concluía que nuvem era água e gelo. Aí eu me perguntava: como é que água e gelo ficam lá em cima, flutuando como se fossem flocos de algodão? E os urubus? Todo mundo acha que urubu é ave feia. Discordo. Vocês já pararam para ficar olhando o vôo dos urubus? Pensando no vôo dos urubus eu me lembrei de uns versos da Cecília Meireles: “Os dias felizes estão entre as árvores, como pássaros: viajam nas nuvens, correm nas águas, desmancham-se na areia. Todas as palavras são inúteis, desde que se olha para o céu. A doçura maior na vida flui na luz do sol, quando se está em silêncio. Até os urubus são belos, no largo círculos dos dias sossegados...“ Os urubus voam muito alto – parecem uns pontinhos negros no azul vazio do céu. Para voar eles nem batem asas. Eles flutuam nas correntes de ar quente que sobem. Foram os urubus que ensinaram os homens a voar com as asas delta. Se não fosse o vazio do céu não haveria nem o vôo dos pássaros e nem o vôo dos homens.

Na roça, porque o vazio era grande, a liberdade era grande também. O vazio é um lugar bom para brincar. Se não fosse o vazio do céu, como é que eu poderia empinar uma pipa? Se não fosse o vazio debaixo da árvore, como é que eu ia balançar, até bater com a ponta do pé na folha do galho alto? Os campos eram imensos vazios, sem cercas. De manhã, depois do café com leite, pão e manteiga, eu saía para fora. Não era preciso prestar atenção no tráfego para não ser atropelado. Não havia automóveis correndo e buzinando. No vazio eu era um menino livre, brincalhão... Meus pensamentos voavam com as nuvens e os urubus...

E havia também um vazio chamado silêncio. Silêncio é quando não há ruídos e barulhos. Na cidade não há o vazio do silêncio: nossas casas são invadidas pelo ronco das motocicletas, das buzinas, do som a todo volume. Quando o espaço está vazio de barulhos a gente pode escutar as músicas da natureza. Há 150 anos um chefe índio dos Estados Unidos escreveu uma carta ao presidente daquele país falando sobre as cidades dos ditos civilizados. Disse ele: “Não há lugar calmo nas cidades do homem branco. Nenhum lugar para escutar o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. A barulheira ofende os ouvidos. E o que resta da vida se um homem não pode escutar o choro solitário de um pássaro ou o coaxar dos sapos à volta de uma lagoa, à noite...“ Vocês já ouviram a música das folhas das árvores sacudidas pelo vento? Já ouviram o canto de um sabiá no meio da mata, ao entardecer? O zumbido das abelhas em busca de flores?

A vida precisa do vazio: a lagarta dorme num vazio chamado casulo até se transformar em borboleta. A música precisa de um vazio chamado silêncio para ser ouvida. Um poema precisa do vazio da folha de papel em branco para ser escrito. E as pessoas, para serem belas e amadas, precisam ter um vazio dentro delas. A maioria acha o contrário; pensa que o bom é ser cheio. Essas são as pessoas que se acham cheias de verdades e sabedoria e falam sem parar. São umas chatas quando não são autoritárias. Bonitas são as pessoas que falam pouco e sabem escutar. A essas pessoas é fácil amar. Elas estão cheias de vazio. E é no vazio da distância que vive a saudade...

A roça é o lugar onde o vazio é grande. O vazio grande da roça, com seus espaços e silêncios, é o colo da natureza, nossa mãe de onde saímos e para onde haveremos de voltar... Assentados no colo da mãe o medo se vai e tudo fica bom. A cidade é o cheio. A roça é o vazio. Tenho saudade do vazio da roça...


(Correio Popular, Caderno C, 24/02/2002)


Rubem Alves


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A árvore dos problemas


Esta é uma história de um homem que contratou um carpinteiro para ajudar a arrumar algumas coisas na sua fazenda.

O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil.

O pneu da seu carro furou.

A serra elétrica quebrou.

Cortou o dedo.

E ao final do dia, o seu carro não funcionou.

O homem que contratou o carpinteiro ofereceu uma carona para casa.

Durante o caminho, o carpinteiro não falou nada.

Quando chegaram a sua casa, o carpinteiro convidou o homem para entrar e conhecer a sua família.

Quando os dois homens estavam se encaminhando para a porta da frente, o carpinteiro parou junto a uma pequena árvore e gentilmente tocou as pontas dos galhos com as duas mãos.

Depois de abrir a porta da sua casa, o carpinteiro transformou-se.

Os traços tensos do seu rosto transformaram-se em um grande sorriso, e ele abraçou os seus filhos e beijou a sua esposa.

Um pouco mais tarde, o carpinteiro acompanhou a sua visita até o carro.

Assim que eles passaram pela árvore, o homem perguntou:

- Porque você tocou na planta antes de entrar em casa ???

- Ah! esta é a minha Árvore dos Problemas.

- Eu sei que não posso evitar problemas no meu trabalho, mas estes problemas não devem chegar até os meus filhos e minha esposa.

- Então, toda noite, eu deixo os meus problemas nesta Árvore quando chego em casa, e os pego no dia seguinte.

- E você quer saber de uma coisa?

- Toda manhã, quando eu volto para buscar os meus problemas, eles não são nem metade do que eu me lembro de ter deixado na noite anterior.

(Autor desconhecido)


Colaboração de: Cristina Uechi

Visite também:
https://www.facebook.com/pages/Temperos-de-Alegria/206783212715720?ref=ts&fref=ts 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Spiral Jetty, Robert Smithson


Spiral Jetty de Robert Smithson, é uma escultura em espiral feito de pedras basálticas e terra que adentra o mar com um comprimento de 457,2 metros e largura de 4 metros. Localizado em Great Salt Lake, Utah, nos Estados Unidos, o caminho foi feito em 1970 e é preservada até hoje.

 O Land Art (arte da terra, da paisagem) talvez não possa ser chamado de um movimento artístico, mas foi uma forma de expressão que rompeu com museus e galerias. Isso porque esta arte usa como ferramenta a própria natureza, a própria paisagem se torna a moldura para a arte, e a arte a moldura da paisagem. Os materiais usados variam de pequenas folhas até pedras, elementos muitas vezes em seu estado bruto (daí é possível concluir uma relação com a Arte Povera). A “arte da paisagem” é exposta em desertos, praias, montanhas, mares e campos. Muitas vezes algumas obras desaparecem com o tempo devido a erosões e mudanças naturais. Logo, é muito difícil presenciar uma obra dessas, e seus rastros acabam aparecendo apenas em fotos e filmagens.


Robert Smithson (1938-1973) Pintor e escultor norte-americano. Nasceu em Passaic. É um dos nomes mais relevantes e intrigantes da história da arte do século 20 por explorar diferentes gêneros e mídias. Estudou no ‘Art Students League’ em Nova York. Seus projetos saíram dos museus e das galerias de arte, propondo outro modo de relacionar a arte com o espaço físico no contexto da chamada ‘Earth Art’.


 "A espiral é um círculo espiritualizado. Na forma de espiral, o círculo, desenrolado, deixou de ser vicioso, que tem sido posto em liberdade." Vladimir Nabokov

 Leia mais

http://www.robertsmithson.com/ 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Jardineiro, Daniel Fernando Ribeiro

orquídea rosa

Cultivo você em mim
como a uma orquídea, à sombra.
Cultivo você em mim
desta forma delicada, às vezes, travessa.
Cultivo você em mim
com certo desamparo e silêncio.
Cultivo você e a mim
com o zelo de um jardineiro ao seu jardim.
 

Daniel Fernando Ribeiro


domingo, 17 de fevereiro de 2013

Os livros dizem, Julian Barnes

Enriqueta y Fellini, Liniers - http://angelectrico.deviantart.com/


Os LIVROS dizem: "Ela fez isso porque... "  A VIDA diz: "Ela fez isso."  Livros são o lugar onde as coisas são explicadas para você.  A vida é o lugar onde as coisas não são.  Eu não estou surpreso que algumas pessoas preferem livros.  Livros dão sentido a vida...  O único problema é que as vidas que fazem sentido são as vidas de outras pessoas,  nunca a sua própria.

Julian Barnes 

In "O papagaio de Flaubert", Julian Barnes, Editora Rocco.

Fonte: Blog ByNina
http://carolina-carvalho.blogspot.com.br/ 

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Procure um amante, Dr. Jorge Bucay


Muitas pessoas têm um amante e outras gostariam de ter um. Há também as que não têm, e as que tinham e perderam.

Geralmente são essas últimas as que vêem ao meu consultório para me contar que estão tristes ou que apresentam sintomas típicos de insônia, apatia, pessimismo, crises de choro ou as mais diversas dores.

Elas me contam que suas vidas transcorrem de forma monótona e sem perspectivas, que trabalham apenas para sobreviver e que não sabem como ocupar seu tempo livre.

Enfim, são várias as maneiras que elas encontram para dizer que estão simplesmente perdendo a esperança.

Antes de me contarem tudo isto, elas já haviam visitado outros consultórios, onde receberam as condolências de um diagnóstico firme:

"Depressão", além da inevitável receita do anti-depressivo do momento.

Assim, após escutá-las atentamente, eu lhes digo que elas não precisam de nenhum anti-depressivo; digo-lhes que elas precisam de um AMANTE!

É impressionante ver a expressão dos olhos delas ao receberem meu conselho.

Há as que pensam: "Como é possível que um profissional se atreva a sugerir uma coisa dessas?!"

Há também as que, chocadas e escandalizadas, se despedem e não voltam nunca mais.

Àquelas, porém, que decidem ficar e não fogem horrorizadas, eu explico o seguinte:

AMANTE é "aquilo que nos apaixona".

É o que toma conta do nosso pensamento antes de pegarmos no sono! ! e é também aquilo que, às vezes, nos impede de dormir.

O nosso AMANTE é aquilo que nos mantém distraídos em relação ao que acontece à nossa volta.

É o que nos mostra o sentido e a motivação da vida.

Às vezes encontramos o nosso amante em nosso parceiro, outras, em alguém que não é nosso parceiro, mas que nos desperta as maiores paixões e sensações incríveis.

Também podemos encontrá-lo na pesquisa científica ou na literatura, na música, na política, no esporte, no trabalho, na necessidade de transcender espiritualmente, na boa mesa, no estudo ou no prazer obsessivo do passatempo predileto...

Enfim, é "alguém" ou "algo" que nos faz "namorar" a vida e nos afasta do triste destino de "ir levando".

E o que é "ir levando"? Ir levando é ter medo de viver.

É o vigiar a forma como os outros vivem, é o se deixar dominar pela pressão, perambular por consultórios médicos, tomar remédios multicoloridos, afastar-se do que é gratificante! !

Observar decepcionada cada ruga nova que o espelho mostra, é se aborrecer com o calor ou com o frio, com a umidade, com o sol ou com a chuva.

Ir levando é adiar a possibilidade de desfrutar o hoje, fingindo se contentar com a incerta e frágil ilusão de que talvez possamos realizar algo amanhã.

Por favor, não se contente com "ir levando"; procure um amante, seja também um amante e um protagonista ... da SUA VIDA...
Acredite:  o trágico não é morrer; afinal a morte tem boa memória e nunca se esqueceu de ninguém.
O trágico é desistir de viver; por isso, e sem mais delongas, procure um amante ... E quando o encontrar, viva por ele e não o deixe fugir.

A psicologia, após estudar muito sobre o tema, descobriu algo transcendental:

"PARA SE ESTAR SATISFEITO, ATIVO E SENTIR-SE JOVEM E FELIZ, É PRECISO
NAMORAR A VIDA."


Dr. Jorge Bucay (Psicólogo)
Tradução do original: Hay que buscarse un amante

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A arte de ser feliz, Cecília Meireles



Houve um tempo em que a minha janela se abria para um chalé. Na ponta do chalé brilhava um grande ovo de louça azul. Nesse ovo costumava pousar um pombo branco. Ora, nos dias límpidos, quando o céu ficava da mesma cor do ovo de louça, o pombo parecia pousado no ar. Eu era criança, achava essa ilusão maravilhosa, e sentia-me completamente feliz.

Houve um tempo em que a minha janela dava para um canal. No canal oscilava um barco. Um barco carregado de flores. Para onde iam aquelas flores? Quem as comprava? Em que jarra, em que sala, diante de quem brilhariam, na sua breve existência? E que mãos as tinham criado? E que pessoas iam sorrir de alegria ao recebê-las? Eu não era mais criança, porém minha alma ficava completamente feliz.


Houve um tempo em que a minha janela se abria para um terreiro, onde uma vasta mangueira alargava sua copa redonda.  À sombra da árvore, numa esteira, passava quase todo o dia sentada uma mulher, cercada de crianças. E contava história. Eu não a podia ouvir, da altura da janela; e mesmo que ouvisse, não entenderia, porque isso foi muito longe, num idioma difícil. Mas as crianças tinham  tal expressão no rosto, e às vezes faziam com as mãos arabescos tão compreensíveis, que eu que não participava do auditório imaginava os assuntos e suas peripécias e me sentia completamente feliz.


Houve um tempo em que a minha janela se abria para uma cidade que parecida feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco. Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre homem com um balde e, em silêncio ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros, e meu coração ficava completamente feliz.


Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos: que sempre parecem personagens de Lope da Vega. Às vezes, um avião passa. Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino. E eu me sinto completamente feliz.


Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas, que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem, outras dizem que essas coisas só existem diante das minhas janelas, e outros, finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.



Cecília Meireles

Fonte: Livro: Escolha o seu sonho, 1964


Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.

Órfã de pai e mãe desde os três anos de idade foi criada pela avó materna. Formou-se em 1917 na Escola Normal de sua cidade natal, passando a dedicar-se ao magistério primário.
Organizou a primeira biblioteca infantil do país e publicou seu primeiro livro "Espectros" em 1919. A partir de 1922, passou a integrar a ala católica do movimento modernista. A partir da década de 30 começou a leciona literatura brasileira em diversas universidades.
Em 1935, o suicídio do marido a forçou a ampliar suas atividades de professora e jornalista, para educar as filhas. Alcança a maturidade como poeta em 1938 com a publicação de "Viagem", premiado pela Academia Brasileira de Letras.
Depois de casar-se novamente, inicia-se um período de intensa atividade profissional e literária, e de freqüentes viagens ao exterior. Em 1953, após anos de minuciosa pesquisa histórica, publica o "Romanceiro da Inconfidência". Cecília Meireles morreu a 9 de novembro de 1964, no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Três coisas, Mário Lago




Pra mim três coisas no mundo
Valem bem mais do que o resto.
Pra defender qualquer delas
Eu mostro o quanto que presto.
É o gesto, é o grito, é o passo,
É o grito, é o passo, é o gesto.

O gesto é a voz do proibido
Escrita sem deixar traço.
Chama, ordena, empurra, assusta.
Vai longe com pouco espaço.
É o passo, é o gesto, é o grito,
É o gesto, é o grito, é o passo.

O passo começa o voo
Que vai do chão pro infinito.
Pra mim, que amo estrada aberta,
Quem prende o passo é maldito.
É o grito, é o passo, é o gesto,
É o passo, é o gesto, é o grito.

O grito explode o protesto
Se a boca não tem espaço
Que guarde o que há pra ser dito
No grito, no passo e gesto.
É o gesto, é o grito, é o passo,
É o passo, é o gesto, é o grito. 

Mário Lago
(Rio de Janeiro, 26 de novembro de 1911 - Rio de Janeiro, 30 de maio de 2002) foi advogado, poeta, radialista, letrista e ator brasileiro. Autor de sambas populares como "Ai, que saudades da Amélia" e "Atire a primeira pedra", ambos em parceria com Ataulfo Alves, fez-se popular entre as décadas de 40 e 50.


segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

domingo, 10 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Interpretar é compreender, Rubem Alves



"Hoje vamos interpretar um poema", disse a professora de literatura. "Trata-se de um poema mínimo da extraordinária poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen", continuou. "O seu título é 'Intacta Memória'. Por favor, prestem atenção." E com essas palavras começou a leitura.





"Intacta memória —se eu chamasse
Uma por uma as coisas que adorei
Talvez que a minha vida regressasse
                 Vencida pelo amor com que a sonhei."

Ela tira os olhos do livro e fala: "O que é que o autor queria dizer ao escrever esse poema?". Essa pergunta é muito importante. Ela é o início do processo de interpretação.

Na vida estamos envolvidos o tempo todo em interpretar. Um amigo diz uma coisa que a gente não entende. A gente diz logo: "O que é que você quer dizer com isso?". Aí ele diz de uma outra forma, e a gente entende. E a interpretação, todo mundo sabe disso, é aquilo que se deve fazer com os textos que se lê. Para que sejam compreendidos. Razão por que os materiais escolares estão cheios de testes de compreensão. Interpretar é compreender.

É claro que a interpretação só se aplica a textos obscuros. Se o meu amigo tivesse dito o que queria dizer de forma clara, eu não lhe teria feito a pergunta. Interpretar é acender luzes na escuridão. Lembra-se do poema de Robert Frost, que diz: "Os bosques são belos, sombrios, fundos..."? Acesas as luzes da interpretação na escuridão dos bosques, suas sombras desaparecem. Tudo fica claro.

"O que é que o autor queria dizer?" Note: o autor queria dizer algo. Queria dizer, mas não disse. Por que será que ele não disse o que queria dizer? Só existe uma resposta: "Por incompetência lingüística". Ele queria dizer algo, mas o que saiu foi apenas um gaguejo, uma coisa que ele não queria dizer...

A interpretação, assim, se revela necessária para salvar o texto da incompetência lingüística do autor... Os poetas são incompetentes verbais. Felizmente, com o uso dos recursos das ciências da linguagem, salvamos o autor de sua confusão e o fazemos dizer o que ele realmente queria dizer. Mas, se o texto interpretado é aquilo que o autor queria dizer, por que não ficar com a interpretação e jogar o texto fora?

É claro que tudo o que eu disse é uma brincadeira verdadeira. É preciso compreender que o escritor nunca quer dizer alguma coisa. Ele simplesmente diz. O que está escrito é o que ele queria dizer. Se me perguntam "O que é que você queria dizer?", eu respondo: "Eu queria dizer o que disse. Se eu quisesse dizer outra coisa, eu teria dito outra coisa, e não aquilo que eu disse".

Estremeço quando me ameaçam com interpretações de textos meus. Escrevi uma estória com o título "O Gambá Que Não Sabia Sorrir". É a estória de um gambazinho chamado Cheiroso, que ficava pendurado pelo rabo no galho de uma árvore. Uma escola me convidou para assistir à interpretação do texto que seria feita pelas crianças. Fui com alegria. Iniciada a interpretação, eu fiquei pasmo! A interpretação começava com o gambá. O que é que o Rubem Alves queria dizer com o gambá? Foram ao dicionário e lá encontraram: "Gambá: nome de animais marsupiais do gênero Didelphis, de hábitos noturnos, que vivem em árvores e são fedorentos. São onívoros, tendo predileção por ovos e galinhas". Seguiam descrições científicas de todos os bichos que apareciam na estória. Fiquei a pensar: "O que é que fizeram com o meu gambá? Meu gambazinho não é um marsupial fedorento".

Octavio Paz diz que a resposta a um texto nunca deve ser uma interpretação. Deve ser um outro texto. Assim, quando um professor lê um poema para os seus alunos, deve fazer-lhes uma provocação: "O que é que esse poema lhes sugere? O que é que vocês vêem? Que imagens? Que associações?". Assim o aluno, em vez de se entregar à duvidosa tarefa de descobrir o que o autor queria dizer, entrega-se à criativa tarefa de produzir o seu próprio texto literário.

Mas há um tipo de interpretação que eu amo. É aquela que se inspira na interpretação musical. O pianista interpreta uma peça. Isso não quer dizer que ele esteja tentando dizer o que o compositor queria dizer. Ao contrário. Possuído pela partitura, ele a torna viva, transforma-a em objeto musical, tal como ele a vive na sua possessão. Os poemas assim podem ser interpretados, transformados em gestos, em dança, em teatro, em pintura. O meu amigo Laerte Asnis transformou a minha estória "A Pipa e a Flor" num maravilhoso espetáculo teatral. Pela arte do intérprete —o Laerte, palhaço—, o texto que estava preso ao livro fica livre, ganha vida, movimento, música, humor. Com isso, a estória se apossa daqueles que assistem ao espetáculo. E o extraordinário é que todos entendem, crianças e adultos. Eu chorei na primeira vez que o vi.

O que é que a Sophia de Mello Breyner Andresen queria dizer com o seu poema? Não sei. Só sei que o seu poema faz amor comigo.

Rubem Alves, é educador e escritor, autor de "Quando Eu Era Menino" (Papirus), "Lições de Feitiçaria" (Loyola), "Pai Nosso" (Paulus) e "Ao Professor com Meu Carinho" (Verus), entre outros. Atualmente, dedica-se às releituras de "Zorba, o Grego", de Nikos Kazantzakis, "Cem Anos de Solidão", de Gabriel Garcia Márquez, e "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa.


Fonte: Folha Online
http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u814.shtml 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Tecendo a Manhã, João Cabral de Melo Neto



"Um galo sozinho não tece a manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro: de outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzam
os fios de sol de seus gritos de galo
para que a manhã, desde uma tela tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão".
João Cabral de Melo Neto
In "Educação pela Pedra", 1966.
Leia Mais

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Tudo que você deseja, Lisa Nichols



Tudo que você deseja — toda a alegria, o amor, a abundância, a prosperidade, bem-aventurança — está ali, pronto para você pegar. E você precisa ter fome disso. Precisa ter intenção. E quando você agir intencionalmente e desejar com ardor, o Universo lhe entregará cada coisa que você desejou. Reconheça as coisas bonitas e maravilhosas a seu redor, abençoando-as e louvando-as. Por outro lado, não gaste tempo em criticar e lamentar o que hoje não funciona a seu contento. Reconheça tudo o que deseja, para poder receber mais do mesmo.
As sábias palavras de Lisa, "louvar e abençoar" as coisas a seu redor, valem ouro. Louve e abençoe tudo em sua vida! Quando você louva ou abençoa, está na mais alta freqüência do amor. Na Bíblia, os hebreus usavam o ato de abençoar para trazer saúde, riqueza e felicidade. Eles conheciam o poder da bênção. Para muitos, o único momento de abençoar é quando alguém dá um espirro; assim, não usaram em pleno proveito próprio um dos maiores poderes existentes. O dicionário define abençoar como "invocar o favor divino e outorgar bem-estar ou prosperidade"; portanto, comece agora mesmo a invocar o poder da bênção em sua vida, e abençoe tudo e todos. Faça o mesmo quanto ao elogio, pois, ao elogiar alguém ou alguma coisa você está dando amor, e emitindo aquela generosa freqüência, irá vê-la retornar a você, multiplicada por cem.


Os atos de louvar e abençoar dissolvem toda negatividade, portanto, elogie e abençoe seus inimigos. Se você amaldiçoar os inimigos, a maldição retornará para você. Se os elogiar e abençoar irá dissolver toda negatividade e desavença, e o amor da bênção e do louvor retornará para você. Enquanto abençoa e elogia, você sentirá a mudança feita para uma nova freqüência com a realimentação dos bons sentimentos.


Lisa Nichols

Lisa Nichols é escritora americana e defensora da Capacitação Pessoal. É fundadora e CEO de Motivating the Masses and Motivating the Teen Spirit (“Motivar as Massas e Motivar o Espírito Adolescente”), dois programas de competências globais que funcionam para trazer mudanças profundas para a vida de adolescentes, mulheres e empresários, bem como para fornecer serviços ao sistema educativo, clientes empresariais. Empresas de empowerment e programas baseados na fé.
Lisa é co-autora de Chicken Soup  for the African American Soul (Sopa de Galinha para a Alma Afro-Americana), da série best-seller mundial.  

http://motivatingthemasses.com/ 



In "O Segredo", Rhonda Byrne, pg. 151

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Estado de jardim, Clarice Lispector



'Para me refazer e te refazer volto a meu estado de jardim e sombra, fresca realidade, mal existo e se existo é com delicado cuidado.' 

Clarica Lispector

In "Água Viva", Ed. Rocco

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Dai-me alegria, Mário Quintana



'Dai-me a alegria
Do poema de cada dia.
E que ao longo do caminho
Às almas eu distribua
Minha porção de poesia.'


Mário Quintana

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Conhecemos um homem, Fiodor Dostoievski




'Conhecemos um homem pelo seu riso; se na primeira vez que o encontramos ele ri de maneira agradável, o íntimo é excelente.'  

Fiodor Dostoievski

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Natureza, Vincent van Gogh



"Ainda não conheço melhor
definição de arte do que esta:
a arte é o homem acrescentado à natureza."


Vincent van Gogh

Printfriendly