sábado, 30 de junho de 2012

A roupa de Gandhi



O Mahatma Gandi provou que a "roupa não faz o homem". Ele só usava uma tanga a fim de se identificar com as massas simples da Índia.

Certa vez ele chegou assim vestido numa festa dada pelo governador inglês.

Os criados não o deixaram entrar.

Ele voltou para casa e enviou um pacote ao governador, por um mensageiro.

Continha um terno.

O governador ligou para casa dele e lhe perguntou, o significado do embrulho.

O grande homem respondeu:

- Fui convidado para a sua festa, mas não me permitiram entrar por causa da minha roupa. Se é a roupa que vale, eu lhe enviei o meu terno ...

(autor desconhecido)


Desta forma, Mahatma Gandhi provou que a "roupa não faz o homem"... e nós ainda temos o hábito de "olhar" as pessoas pela sua maneira de vestir ou calçar, ou seja, continuamos vendo o externo, sem nos importar o conteúdo.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Os trinta e três nomes de Deus, Rubem Alves



De vez em quando perguntam-me se acredito em Deus. Mas é claro. Acredito mais que a maioria das pessoas. Tenho até trinta e três nomes para ele. Esses nomes foi a Margueritte Yourcenar que me contou. Ela foi uma escritora maravilhosa, autora do livro Memórias de Adriano, quem lê nunca mais esquece, quer ler de novo. Pois esses são os trinta e três nomes de Deus que ela me ensinou. É só falar o nome, ver na imaginação o que o nome diz, para que a alma se encha de uma alegria que só pode ser um pedaço de Deus... Mas é preciso ler bem devagarinho... 1.Mar da manhã. 2.Barulho da fonte nos rochedos sobre as paredes de pedra. 3.Vento do mar de noite, numa ilha... 4.Abelha. 5.Vôo triangular dos cisnes. 6. Cordeirinho recém-nascido.... 7.Mugido doce da vaca,  mugido selvagem do touro. 8.Mugido paciente do boi. 9. Fogo vermelho no fogão. 10.Capim. 11.Perfume do capim. 12.Passarinho no céu. 13.Terra boa... 14.Garça que esperou toda a noite, meio gelada, e que vai  matar sua fome no nascer do sol. 15. Peixinho que agoniza no papo da garça. 16. Mão que entra em contato com as coisas. 17.A pele, toda a superfície do corpo 18. O olhar e tudo o que ele olha. 19.As nove portas da percepção. 20.O torso humano. 21.O som de uma viola e de uma flauta indígena.  22.Um gole de uma bebida fria ou quente. 23.Pão. 24.As flores que saem da terra na primavera. 25.Sono na cama. 26. Um cego que canta e uma criança enferma. 27. Cavalo correndo livre. 28.A cadela e os cãezinhos. 29.Sol nascente sobre um lago gelado. 30.O relâmpago silencioso. 31. O trovão que estronda. 32.O silêncio entre dois amigos. 33.A voz que vem do leste, entra pela orelha direita e ensina uma canção...”  Agradeço ao Carlos Brandão por haver me apresentado os trinta e três nomes de Deus da Margueritte. Não é preciso que sejam os seus. Faça a sua própria lista. Eu incluiria: Ouvir a sonata Apassionata de Beethoven. Sapos coaxando no charco. O canto do sabiá. Banho de cachoeira. A tela “Mulher lendo uma carta”, de Vermeer. O sorriso de uma criança. O sorriso de um velho. Balançar num balanço tocando com o pé as folhas da árvore... Morder uma jabuticaba... Todas essas coisas são os pedaços de Deus que conheço... Sim, acredito muito em Deus. 



Rubem Alves, psicanalista, educador e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.




http://www.rubemalves.com.br/quartodebadulaquesLXXX.htm 

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Leilão de Jardim - Cecília Meireles




Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,
lavadeiras e passarinhos,
ovos verdes e azuis nos ninhos?

Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?

(Este é o meu leilão!)

Fonte: do livro "Ou isto ou aquilo" - ed. Nova Fronteira

Cecília Meireles, (Rio de Janeiro, 7 de novembro 1901 - Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964). Foi poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes mais líricas mais importantes das literaturas da língua portuguesa.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Saúde Mental, Rubem Alves




Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico.
Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros e obras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se.
Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, bastar fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou.
Pensar é uma coisa muito perigosa... Não, saúde mental elas não tinham. Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvi falar de político que tivesse estresse ou depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas.
Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito.
O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes.
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele.
Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.
Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: a música que saía de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou.
Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, saúde mental até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música. Brahms e Mahler são especialmente contra-indicados. Já o rock pode ser tomado à vontade.
Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato.

Seguindo essa receita você terá uma vida tranquila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos. Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram.

Rubem Alves 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Um pouco de mim, Tarsila do Amaral

 O pescador, 1931
 Abapuru, 1928

Operários, 1933

Tento ser a melhor para as pessoas que estão ao meu redor.
A palhaça
A meiga
A compreensiva
A santinha
A doida
A Cara de pau
A Paciente(nem sempre)
A chata
A amiga
A psicologa
A que tem tudo e continua sentindo falta de algo
A que odeio gritos
A que vive sonhando
A que odeia mentira
A que ninguém consegue enganar
A que se quiser vive uma ilusão ...
A que faz amizade rapidas
A que se magoa facil
A que gosta de ler
A que quer ir para o paquistão
A Que ama filmes
A que odeia gente triste
A que sente muitas dores
A que chora por nada e rir por tudo
A que não consegue dizer não
A que tem amigos e inimigos enternos
A que n viver sem a mãe
A que liga mesmo e não estar nem aí
A que vive esperando alguém que sabe que nunka vai chegar
A que odeia que reprimem seus sentimentos
A que nunka sabe aonde estar nada..*
A que vai até o fim por algué
A que odeia ver falsidade nos outros por isso sempre tentar ver o que tem de melhor nas pessoas
Assim,toda louka mais as vezes lucida..
Ateh pk n eh todo mundo que tem o privilegio de ser como eu
Tarsila do Amaral
(Capivari, 1 de setembro de 1886 — São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma pintora e desenhista brasileira e uma das figuras centrais da pintura brasileira e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas. 
Características de suas obras 
- Uso de cores vivas
- Influência do Cubismo (uso de formas geométricas)
- Abordagem de temas sociais, cotidianos e paisagens do Brasil
- Estética fora do padrão (influência do surrealismo na fase antropofágica)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ser feliz, Augusto Cury



Gostaria que você sempre se lembrasse de que ser feliz não é ter um céu sem tempestades, caminhos sem acidentes, trabalhos sem fadigas,
relacionamentos sem decepções. Ser feliz é encontrar força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor nos desencontros.
Ser feliz não é apenas valorizar o sorriso, mas refletir sobre a tristeza. Não é apenas ter júbilo nos aplausos, mas encontrar alegria no anonimato.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz não é uma fatalidade do
destino, mas uma conquista de quem sabe viajar para dentro do seu próprio ser.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um
oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma
crítica mesmo que injusta. É beijar os filhos, curtir os pais e ter momentos poéticos com os amigos, mesmo que eles o magoem.
Ser feliz é deixar viver a criança livre, alegre e simples que mora dentro de cada um de nós. É ter maturidade para falar “eu errei”. É ter ousadia para dizer “me perdoe”. É ter sensibilidade para expressa “eu preciso de você”. É ter capacidade de dizer “eu te amo”.
Desejo que a vida se torne um canteiro de oportunidades para você ser feliz...
Que nas suas primaveras você seja amante da alegria
Que nos seus invernos você seja amigo da sabedoria.
E quando você errar o caminho, recomece tudo de novo.
Pois assim você será cada vez mais apaixonado pela vida.
E descobrirá que...
Ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a
tolerância Usar as perdas para refinar a paciência. Usar as falhas para esculpir a
serenidade. Usar a dor para lapidar o prazer. Usar os obstáculos para abrir as
janelas da inteligência.

JAMAIS DESISTA DE SI MESMO.
JAMAIS DESISTA DAS PESSOAS QUE VOCÊ AMA.
JAMAIS DESISTA DE SER FELIZ.
POIS A VIDA É UM ESPETÁCULO IMPERDÍVEL.
E VOCÊ É UM SER HUMANO ESPECIAL.


Fonte: do livro "Dez leis para ser feliz - Ferramentas para se apaixonar pela vida" - ed. Sextante - pgs. 33 a 35.

Augusto Cury (Colina - SP, 2 de outubro de 1958) é um médico, psiquiatra e escritor de autoajuda.






sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sobre coragem de mudar, Rubem Alves




Em tempos passados o normal era que um jovem escolhesse uma carreira e permanecesse nela até morrer, ainda que ela não lhe desse felicidade, tal como acontecia também com os casamentos. Para sempre, até que a morte os separe. Uma coisa boa dos tempos em que vivemos, a despeito de todas as suas confusões, é que as pessoas descobriram que é possível mudar a direção do vôo. Nada as obriga a voar sempre na mesma direção até o fim. Eu mudei minhas direções várias vezes e não me arrependo. Meu amigo Jether era um próspero dentista na cidade do Rio de Janeiro. Estava ficando rico. Riqueza dá segurança. Segurança dá tranqüilidade à família. Mas enquanto ele olhava para o mundo delimitado pelos dentes dos seus clientes, a sua alma voava por outros mundos! E foi assim que, num belo dia, ele resolveu voar. Chegou em casa e comunicou à esposa Lucília: “Meu bem, vou vender o consultório”. E assim, com mais de quarenta anos, voltou para a estaca zero e foi se preparar para o vestibular… E ele seguiu um caminho feliz! Está com 82 anos, tem cara de 60, disposição de 40 e leveza de criança! Cada profissão delimita um mundo: há o mundo dos advogados, dos dentistas, dos engenheiros, dos professores, dos médicos, dos músicos, dos artistas, dos palhaços, do teatro. O jovem estudante do filme Sociedade dos poetas mortos sonhava em ser artista de teatro. Mas seu pai havia mirado seu arco para a medicina… Dezoito ou dezenove anos é muito cedo para definir o que se vai fazer pelo resto da vida. Esse é um tempo de procuras, indefinições, sonhos confusos. É normal que, ao meio do curso universitário, o jovem descubra que tomou o trem errado e se disponha a saltar na próxima estação. É angústia para os pais. Claro, porque o que eles mais desejam é ver o filho formado, empregado, ganhando dinheiro. Isso lhes daria liberdade para viver e permissão para morrer… Mas não seria terrível para ele – ou ela – se, só para não “perder tempo”, “só para não voltar ao início”, continuasse até o fim? Se não quero ir para as montanhas, se quero ir para a praia, por que continuar a dirigir o carro pela estrada que vai para as montanhas? Pais, não fiquem angustiados. Sua angústia é inútil. E nem fiquem com a ilusão de que o diploma dará emprego ao filho. Não dará. Assim é melhor ir devagar seguindo a direção que o coração manda. O difícil, para os pais, será se o filho, no último ano de direito, lhes comunique: “Descobri que não gosto de Direito. Vou estudar para ser palhaço!” Aí posso imaginar o embaraço do pai e da mãe quando, em meio a uma reunião social, quando se fala sobre os filhos, alguém lhes dirija a palavra e diga: “Meu filho está no Itamarati. Vai ser diplomata. E o seu?” Resposta: “O nosso está no circo. Vai ser palhaço…” Cá entre nós: não sei qual profissão dá mais felicidade, se a de diplomata ou se a de palhaço…
Rubem Alves

O rio, Manuel Bandeira



Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas nos céus, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.


Bandeira, Manuel,1886-1968

Antologia poética.- 12.ed.- Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 

Manuel Bandeira (Recife, 19 de abril de 1886 - Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) poeta e ensaísta brasileiro que nasceu em Recife, Pernambuco.
Desde 1912 começou a usar em sua poesia o verso livre. Participou do modernismo de 1922. Dentro da nova estética, sua primeira obra foi Ritmo dissoluto e Libertinagem (1930), onde começou a inserir motivos e termos prosaicos na literatura. Sua prosa conserva a variedade criadora do parnasianismo e está marcada pela paixão de viver, expressada em forma lírica e intimista.

A presença do biógrafo se manifesta na interiorização de figuras familiares (Profundamente e Irene do céu). As imagens brasileiras aparecem, por exemplo, em Evocação do Recife. Nos livros de sua maturidade reaparece a métrica clássica e popular. Mafuá do malungo (1948) contem jogos onomásticos, dedicatórias rimadas e sátiras políticas. Merecem menção, também, os poemarios Estrela da manhã (1936), Estrela da tarde (1966), Estrela da vida interior (1966). Sua obra em prosa abrange as Crônicas da Província do Brasil (1936), Guia de Ouro Preto (1938), Noções da História da Literatura (1940), Literatura Hispano-americana (1949), Gonçalves Dias (1952), Itinerário de Passárgada (1954) e mais 50 crônicas (1966). Morreu no Rio de Janeiro.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Palhaço (filme)



"É uma época de filmes muito tecnológicos. 'O palhaço' é um filme analógico", brinca o ator Selton Mello, explicando sua tese. "São tantos efeitos visuais, truques e criaturas criadas por computador no cinema de hoje que acho que as crianças vão acabar estranhando os personagens do Circo Esperança. Esses personagens parecem seres de outro planeta, porque elas nem imaginam que existe esse mundo do circo", observa o cineasta, sobre seu segundo longa na direção.
Selton e Paulo José interpretam a dupla de palhaços Pangaré e Puro-Sangue, na verdade Benjamim e Valdemar, a principal atração do Circo Esperança. Apesar de levar o público às gargalhadas, Benjamim entra em crise e sai em busca de sua própria identidade, cruzando com as mais insólitas figuras pelo caminho.
Vale a pena assistir esse filme e refletir sobre a crise existencial.
Quem é você? Qual é o seu lugar? Pense nisso.

http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202591/


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Vende-se tudo, Martha Medeiros




No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:
- Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
- Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador, sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa.
Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas.
Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu. No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a tevê. No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.
Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida…
Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile. Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.
Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza. 
Martha Medeiros


Só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir, é melhor refletir e começar a trabalhar o DESAPEGO JÁ!



Não são as coisas que possuímos ou compramos que representam riqueza, plenitude e felicidade.
São os momentos especiais que não tem preço, as pessoas que estão próximas da gente e que nos amam, a saúde, os amigos que escolhemos, a nossa paz de espírito.
 
Felicidade não é o destino e sim a viagem.



Martha Medeiros,  é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu em 20 de agosto de 1961. É jornalista e escritora brasileira.
é colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro. Casou-se com o publicitário Luiz Telmo de Oliveira Ramos e tem duas filhas. Estudou no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, tradicional de Porto Alegre, localizado nos arredores do bairro Moinhos de Vento. Formou-se em 1982 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre.
Trabalhou em propaganda e publicidade, mas logo se sentiu frustrada com a carreira. Quando seu marido recebeu uma proposta de trabalho no Chile, decidiu que uma mudança de país seria uma ótima oportunidade para dar um tempo na profissão. Esta estada de nove meses no Chile, na qual passou escrevendo poesia, acabou sendo um divisor de águas na sua vida. Quando voltou para Porto Alegre, começou a escrever crônicas para jornal e, a partir daí, sua carreira literária deslanchou.


sexta-feira, 15 de junho de 2012

Analogia para entender o YOGA, Carolina Carvalho

Concentre-se. Feche os olhos. 
Imagine como seria a casa dos seus sonhos. 

Não pense em dinheiro, ou custos. Nesse exercício, isso não é relevante.

Pense em cada detalhe da casa. 

As paredes, as portas, as janelas, o telhado. 

Visualize também o jardim, as plantas, flores e também o lugar dessa casa: seria numa cidade, num campo, numa praia, nas montanhas?

Deixe a sua imaginação tomar conta de você...



Pronto. Você já tem a casa dos sonhos memorizada na sua mente.

Pense que você fez esse pequeno exercício em grupo, e que a próxima etapa seria compartilhar o que cada pessoa imaginou.

Com certeza, serão muitas casas diferentes, com diferentes paisagens e em diversos lugares.



Agora imagine que a partir de agora você vai começar a construir a sua casa.

Você precisará de materiais e ferramentas. 

Então vamos substituir as seguintes palavras:

CASA por YOGA,

MATERIAIS por CORPO / MENTE e 

FERRAMENTAS por  EXERCÍCIOS.



Para construir a casa dos seus sonhos, você precisará saber usar os materiais da melhor forma possível. Mas para isso você precisará dominar o uso das ferramentas.



As ferramentas são a prática de Yoga em si, com os exercícios corporais, respiratórios, de concentração, meditação e relaxamento. Eles tem por objetivo, a consciência corporal, a melhora do condicionamento físico, a saúde, e principalmente o autoconhecimento. Os exercícios te darão a possibilidade de usar o seu corpo e mente, da melhor forma. 



Os materiais, ou o corpo/mente, como aqui me refiro, também são diferentes de pessoa para pessoa, mas com muitas coisas em comum.

Você imaginou os "materiais" da casa, diferente dos materias das outras pessoas. Mas mesmo assim, toda casa tem um piso, tem portas, janelas e um telhado. Todo corpo também possui a mesma anatomia, porém, cada pessoa "funciona" diferente.



Se, então, o Yoga, é a casa dos teus sonhos, como podem alguns tipos de YOGAS (ou casas, nessa analogia que está sendo feita), dizerem que a casa deles é a melhor, é a ideal, e é a que você deve "morar"?



Muitas pessoas achariam mais fácil mesmo, não pensar num modelo ideal de casa, e adquirir algo pronto e acabado. Assim também ocorre com o Yoga. Muitos preferem não pensar, não estudar, e simplesmente aceitar tudo que é dito. Só que no Yoga, a pessoa estará lidando com suas escolhas, suas emoções, a sua verdade (autenticidade). 

O professor deve ensinar a usar as ferramentas, respeitar cada material, e por fim deixar que o aluno  construa a sua própria casa.



Por isso quando me perguntam que LINHA de Yoga eu ensino, respondo que ensino YOGA, apenas. Sigo o meu coração. 

Muitas pessoas usam o Hatha Yoga como linha genérica. Por acharem que precisam denominar o Yoga, com um método específico, usam o mais popular. 

Não sou contra nenhum método, ou linha de Yoga. 

Só sou contra quem ao invés de ensinar o praticante a pensar, faz com que ele sempre obedeça o que lhe é imposto. Até porque, quem faz isso, não está ensinando Yoga.



Yoga é uma filosofia de vida, que com o uso correto das inúmeras ferramentas que possui, vai fazer com que o praticante conheça a si mesmo; e desfrute de todos os seus potenciais com consciência, a fim de maximizar o que há nele de melhor.



(Esse texto surgiu na minha cabeça na forma de um sonho que eu tive alguns dias atrás, onde eu dava aula para os meus alunos, explicando essa analogia. Quando acordei, pensei a respeito e hoje escrevi, seguindo a ideia original do sonho).



Carolina Carvalho

By Nina


Fonte: 

Blog http://carolina-carvalho.blogspot.com.br/search/label/Yoga

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Como Viver Bem, Cora Coralina



Um repórter perguntou à Cora Coralina o que é viver bem?

Ela disse-lhe: “Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo prá você, não pense.


Nunca diga estou envelhecendo, estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo estou velha, e não digo que estou ouvindo pouco. É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.


Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida. O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.


O bom é produzir sempre e não dormir de dia.


Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.


Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima.


Eu não digo nunca que estou cansada. Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica. Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!


Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não. Você acha que eu sou?


Posso dizer que eu sou a terra e nada mais quero ser. Filha dessa abençoada terra de Goiás.


Convoco os velhos como eu, ou mais velhos que eu, para exercerem seus direitos. Sei que alguém vai ter que me enterrar, mas eu não vou fazer isso comigo.


Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes. O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.


Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que devo fazer, com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.”

"Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir." 


Ana Lins do Guimarães Peixoto Bretas
Pseudônimo: Cora Coralina
Nasceu em Cidade de Goiás, a 20 de agosto de 1889
Faleceu em Goiânia, a 10 de abril de 1985.

Foi uma poetisa e contista brasileira. Considerada uma das principais escritoras brasileiras, ela teve seu primeiro livro publicado em junho de 1965 ( Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais) quando já tinha quase 76 anos de idade.
Mulher simples, doceira de profissão de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás.





quarta-feira, 13 de junho de 2012

O Monge e o Macaco (vídeo)

O Monge e o Macaco conta a história do jovem e determinado Ragu que é enviado por seu mestre para cumprir uma última tarefa antes de se tornar um monge. No entanto, o que parecia relativamente simples e fácil se converte em um verdadeiro desafio.


Fonte: Blog Esteja aqui e agora


http://pensandozen.blogspot.com.br/2011/06/o-monge-e-o-macaco.html

terça-feira, 12 de junho de 2012

As Razões do Amor, Rubem Alves

 Klimt, Gustav - O Beijo
Os místicos e os apaixonados concordam em que o amor não tem razões. Angelus Silésius, místico medieval, disse que ele é como a rosa: "A rosa não tem "porquês". Ela floresce porque floresce."
Drummond repetiu a mesma coisa no seu poema As Sem-Razões do Amor. É possível que ele tenha se inspirado nestes versos mesmo sem nunca os ter lido, pois as coisas do amor circulam com o vento.
"Eu te amo porque te amo..." - sem razões... "Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo." Meu amor independe do que me fazes. Não cresce do que me dás. Se fosse assim ele flutuaria ao sabor dos teus gestos. Teria razões e explicações. Se um dia teus gestos de amante me faltassem, ele morreria como a flor arrancada da terra.
"Amor é estado de graça e com amor não se paga."
Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que "amor com amor se paga". O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo. "Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo..."
Drummond tinha de estar apaixonado ao escrever estes versos. Só os apaixonados acreditam que o amor seja assim, tão sem razões. Mas eu, talvez por não estar apaixonado (o que é uma pena...), suspeito que o coração tenha regulamentos e dicionários, e Pascal me apoiaria, pois foi ele quem disse que "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Não é que faltem razões ao coração, mas que suas razões estão escritas numa língua que desconhecemos.
Destas razões escritas em língua estranha o próprio Drummond tinha conhecimento, e se perguntava: "Como decifrar pictogramas de há 10 mil anos se nem sei decifrar minha escrita interior? A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco." O amor será isto: um soco que o desconhecido me dá?
Ao apaixonado a decifração desta língua está proibida, pois se ele a entender, o amor se irá. Como na história de Barba Azul: se a porta proibida for aberta, a felicidade estará perdida. Foi assim que o paraíso se perdeu: quando o amor - frágil bolha de sabão - não contente com sua felicidade inconsciente, se deixou morder pelo desejo de saber. O amor não sabia que sua felicidade só pode existir na ignorância das suas razões. Kierkegaard comentava o absurdo de se pedir aos amantes explicações para o seu amor. A esta pergunta eles só possuem uma resposta: o silêncio. Mas que se lhes peça simplesmente falar sobre o seu amor - sem explicar. E eles falarão por dias, sem parar...
Mas - eu já disse - não estou apaixonado. Olho para o amor com olhos de suspeita, curiosos. Quero decifrar sua língua desconhecida. Procuro, ao contrário do Drummond, as cem razões do amor...
Vou a Santo Agostinho, em busca de sua sabedoria. Releio as Confissões, texto de um velho que meditava sobre o amor sem estar apaixonado. Possivelmente aí se encontre a análise mais penetrante das razões do amor jamais escrita. E me defronto com a pergunta que nenhum apaixonado poderia jamais fazer: "Que é que eu amo quando amo o meu Deus?" Imaginem que um apaixonado fizesse essa pergunta à sua amada: "Que é que eu amo quando te amo?" Seria, talvez, o fim de uma estória de amor. Pois esta pergunta revela um segredo que nenhum amante pode suportar: que ao amar a amada o amante está amando uma outra coisa que não é ela. Nas palavras de Hermann Hesse, "o que amamos é sempre um símbolo". Daí, conclui ele, a impossibilidade de fixar o seu amor em qualquer coisa sobre a terra.
Variações sobre a impossível pergunta:
"Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."(Cecília Meireles)
Mas eles são escorregadios, os peixes. Fogem. Escapam.
Escondem-se. Zombam de mim. Deslizam entre meus dedos.
Eu te abraço para abraçar o que me foge. Ao te possuir alegro-me na ilusão de os possuir. Tu és o lugar onde me encontro com esta outra coisa que, por pura graça, sem razões, desceu sobre ti, como o Vento desceu sobre a Virgem Bendita. Mas, por ser graça, sem razões, da mesma forma como desceu poderá de novo partir. Se isto acontecer deixarei de te amar. E minha busca recomeçará de novo..."
Esta é a dor que nenhum apaixonado suporta. A paixão se recusa a saber que o rosto da pessoa amada (presente) apenas sugere o obscuro objeto do desejo (ausente). A pessoa amada é metáfora de uma outra coisa. "O amor começa por uma metáfora", diz Milan Kundera. "Ou melhor: o amor começa no momento em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética."
Temos agora a chave para compreender as razões do amor: o amor nasce, vive e morre pelo poder - delicado - da imagem poética que o amante pensou ver no rosto da amada...


Rubem AlvesContista, cronista, ensaísta, poeta, pedagogo, filósofo, teólogo e psicanalista brasileiro. Rubem Azevedo Alves nasceu em 1933, Boa Esperança, Minas Gerais. 

Fonte: Crônica publicada no Correio Popular; Campinas; em 14/05/92

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Alimentos que emagrecem, previnem e tratam doenças - Dr. Roberto Debski



Ingredientes
Café da Manhã
1 – Panqueca
1 colher de Aveia em Flocos Finos
2 colheres queijo cottage
Óleo de coco virgem
Queijo branco
Peito de peru light
Ovos mexidos
Queijo light
Cebola roxa
Alho
Ervas

2- Yogurte
Yougurte zero açúcar
Farinha de linhaça dourada

3- Café preto
Café Preto
Café com aromas Gourmet sabor amendoas torradas
Leite de soja ou leite semi desnatado
 

Almoço
4- Salada de folhas cruas:
Agrião ou almeirão ou rúcula
Tomate em rodelas
Cebola roxa em rodelas,
Queijo branco em pedaços pequenos,
Queijo gorgonzola ou Roquefort
Ovo cozido em rodelas
Azeite de oliva extravirgem
Vinagre de maçã
Shoyo light

5- Arroz integral
Arroz Integral
Brócolis ninja ou comum ou Couve de Bruxelas
Abóbora japonesa
Cogumelos champignon
Tempero Curry
Alho poró

6- Salmão grelhado
Salmão grelhado ou frito
Óleo de canola ou óleo de coco virgem / extravirgem
Limão
Salsinha
Cebolinha
Alecrim
Salsa
Alho
Cebola roxa
Sal light

7- Salada de frutas:
Maçã
Pera
Abacaxi
Manga
Banana
Uva roxa
Limão ou tangerina (orgânicas)
Canela em pau
Mel com limão

8- Chocolate amargo
70% de cacau, 30 g. ao dia, ou pode ser derretido sobre a salada de frutas.

8 - Chá verde:
Chá verde
Limão
Gengibre
Canela em pau
Adoçante puro


Modo de Preparo

Café da manhã:
1-Panqueca que emagrece: 1 colher de aveia em flocos finos, 1 ovo, 2 colheres de queijo cottage, misturar e fritar em um pouco de óleo de coco virgem. O recheio pode ser queijo branco com fatias de peito de peru light.
Esta panqueca tem baixo índice glicêmico, alta quantidade de proteínas, ausência de produtos refinados. Emagrece e deixa satisfeito por bastante tempo.
Opção: ovos mexidos com queijo light.

2- Yogurte zero açúcar com farinha  de linhaça dourada.
Contém probióticos (bacilos intestinais do bem e Ômega 3, bom para o funcionamento intestinal, coração e cérebro)

3- Café preto misturado à uma colher de café com aromas sabor amêndoas torradas, com leite de soja ou leite semi desnatado.
O café estimula o funcionamento cerebral e energiza, tem efeito antioxidante.
 

Almoço: 
4- Salada de folhas cruas: agrião ou almeirão ou rúcula, com tomate em rodelas, cebola roxa em rodelas, queijo branco em pedaços pequenos, queijo gorgonzola ou Roquefort em pedaços pequenos, ovo cozido em rodelas (rica em minerais e vitaminas, marcadamente o magnésio que faz bem para os músculos e nervos, efeito antistress e antioxidante, rica em fibras, proteínas, a ser consumida primeiro, tem efeito de aumentar a saciedade), temperada com azeite de oliva extravirgem, vinagre de maçã, shoyo light.

5- Arroz integral com Brócolis ninja ou comum ou Couve de Bruxelas (rico em sulforafane e indol 3 canabinol efeito anticâncer), com abóbora japonesa (rica em carotenos ótima para a saúde da pele) e cogumelos champignon (contém lentinan, imunoestimulante), tempero Curry e 1 colher de chá na água do arroz. Utilizar alho poró cortado em rodelas bem finas sobre o arroz.
Arroz integral é rico em fibras, e vitaminas do complexo B.

6- Salmão grelhado ou frito em óleo de canola (rico em Ômega 3) ou óleo de coco virgem / extravirgem  (rico em triglicérides de cadeia média que dá muita energia rápida sem engordar) previamente temperado com limão, especiarias (salsinha, cebolinha, alecrim, salsa (rico em flavonóides) e alho (estimula imunidade), cebola roxa e sal light.
Opção Tofu: queijo de soja feito do mesmo modo para os vegetarianos, rico em cálcio e isoflavonas naturais, ótima para a saúde dos ossos e para os hormônios femininos.
 
7- Salada de frutas: maçã, pera, abacaxi, manga, banana, uva roxa, com raspas de limão ou tangerina (orgânicas), canela em pau, e adoçada com mel com limão.
Rica em vitaminas, antioxidantes, fibras, boa para a digestão, intestinos.

8- Chocolate amargo 70% de cacau, 30 g. ao dia, ou pode ser derretido sobre a salada de frutas.
Substancias antioxidantes e polifenois.

9- Beber 2 xicaras ao dia de Chá verde: com pouco de limão (antioxidante), gengibre e canela em pau acrescentados no final da fervura (antiinflamatórios e antioxidantes) e adoçante puro.
O chá verde é rico em polifenois, ECGC,  emagrece, tem efeito anti câncer.

 
http://almocodeestrela.com.br/lerReceita.php?intIdReceita=1244

Dr. Roberto Debski, é médico especialista em acupuntura, Homeopatia, Medicina Ortomolecular e gerenciamento do estresse, além de Psicólogo, Trainer e Coach em PNL.


Clínica Ser Integral

www.serintegral.com.br

domingo, 10 de junho de 2012

Em Defesa das Árvores, Rubem Alves‏



Estava eu na sala de espera do meu médico trabalhando absorto no meu laptop para matar o tempo, os “oclinhos” de ver perto na frente dos olhos, ao longe tudo era um borrão quando, de repente, um borrão alto se colocou à minha frente, baixei os “oclinhos” para ver à distância: era um homem que conheci menino, de precoce vocação científica, posto que menino ainda, se comprazia em experimentos incendiários com gases mal cheirosos. Depois dos cumprimentos de praxe e sem mais delongas ele disse: “Rubem, escreva uma crônica em defesa das árvores.” Havia indignação em sua voz e ele relatou:

“Havia, no terreno do meu vizinho, um ipê maravilhoso, árvore muito velha, tronco grosso, que anualmente produzia uma floração cor-de-rosa, para espanto e felicidade de todos. Pois, sem maiores avisos, o tal vizinho cortou o ipê. Fiquei indignado e fui saber das razões do assassinato. Que mal lhe teria feita aquela árvore mansa? E ele me explicou que as raízes do velho ipê estavam rachando o seu muro de tijolos e argamassa. Um ipê que leva cinqüenta anos para crescer cortado por causa de um muro que se constrói num dia! Aí lhe perguntei: “Por que não me falou? Eu teria pago a reconstrução do seu muro…”


E concluiu: “Você escreve uma crônica?” Tive uma reação desanimada. Lembrei-me das palavras tristes do Vinícius no seu poema “O Haver”, em que fala da “sua inútil poesia”. Sinto assim, de vez em quando, que aquilo que escrevo é inútil. Os que têm poder nem lêem e se lêem não levam a sério. As razões que movem a política são as razões dos machados e das serras; não são as razões da beleza. Escrever, para quê? Para sensibilizar o vizinho que gosta mais de um muro que de um ipê? O que eu escrevesse só encontraria eco naqueles que amam mais os ipês que os muros. Mas, nesse caso minha escritura seria desnecessária. E para os que amam mais os muros que os ipês ela seria inútil. Aí me lembrei de um poema de Chuang-Tzu, escrito séculos antes de Cristo: “Eu sei que não terei sucesso. Tentar forçar os resultados somente aumentaria a confusão. Não será melhor desistir e parar de me esforçar? Mas, se eu não me esforçar, quem o fará?” As palavras do sábio foram uma repreensão ao meu desânimo. Comecei a pensar. Lembrei-me de fato semelhante acontecido na minha rua. Havia um ipê amarelo que florescia no mês de julho. O chão ficava dourado com suas flores. Mas a dona da casa em frente ao ipê e a sua incansável vassoura deram o nome de “sujeira” ao dourado das flores caídas.


E, um belo dia, a árvore amanheceu com um anel cortado na sua casca. As veias pelas quais sua seiva circulava haviam sido seccionadas durante a noite. O ipê morreu. A vassoura triunfou. Há pessoas cujas idéias nascem da vassoura. Visitando um amigo que mora num condomínio rico de Campinas alegrei-me vendo que ele era todo arborizado com magnólias. As flores das magnólias são quase insignificantes. Mas o perfume é maravilhoso. Quem respira o perfume de uma magnólia tem a alma tocada pelo divino. Aí o meu amigo apontou para uma casa do outro lado da rua. Lá não havia magnólias. E explicou: “A dona da casa disse que dava muito trabalho varrer as folhas que caíam no chão.” Agora mesmo, a um quarteirão de onde escrevo, havia três daquelas árvores que se chamam “Chapéu de Sol”, de folhas largas e sombra generosa. Pois a dona da casa mandou cortar todos os galhos das três, ficando só os toquinhos. Ficaram parecidas com cabides de pendurar chapéu. Mas as árvores não guardam rancor. Trataram de continuar a viver - e nos toquinhos surgiram brotos verdes, como um gesto de perdão. Percebendo que as árvores insistiam em viver, ela mandou que todos os brotos fossem arrancados.


Quando as serras da CPFL mutilaram as velhas paineiras da Orosimbo Maia, que todos amavam, houve uma onda de indignação que ocupou as manchetes do Correio Popular.


Pois um leitor escreveu aborrecido porque o jornal perdia tanto tempo com uma coisa sem importância como árvores. O prazer em cortar árvores, me parece, está ligado à volúpia do poder. Quem corta, tortura ou mata experimenta o prazer de exercer poder sobre o mais fraco. Mas acho que o prazer em cortar árvores está ligado a uma coisa mais sinistra. Suspeito que estejamos vivendo um momento de metamorfose da nossa condição humana. Até agora temos sido habitantes do mundo da vida. Nosso habitat é constituído por florestas, animais, rios e mares. Somos seres biológicos, corpos. Mas agora estamos mudando de casa. Estamos trocando nossa casa biológica por uma outra casa eletrônica.


Faz tempo fiz a travessia dos lagos andinos - cenários maravilhosos, entre lagos, vulcões e florestas - passando por Bariloche e terminando em Buenos Aires. Em Bariloche fiquei conhecendo um casal que fazia o mesmo percurso com dois filhos adolescentes. Fui reencontrá-los numa das ruas centrais de Buenos Aires. “Graças a Deus estamos aqui!”, me disse o marido. “Já não aguentávamos mais: só lagos, montanhas e árvores. Aqui, felizmente, temos os videogames.” Virei Hulk na mesma hora e lhe disse: “Tomaram a excursão errada. Seu destino era Las Vegas!” Mas eles nada mais fizeram que expressar de forma grosseira o que já ficou normal. Nenhum adolescente troca um vídeo game por jardinagem. Nos filmes de ficção científica do tipo “Guerra nas Estrelas” que emocionam milhões não há árvores: somente máquinas com inteligência eletrônica. Nossas inteligências estão cada vez mais ligadas aos vídeos e computadores e cada vez mais distantes da natureza. Há crianças que nunca viram uma galinha de verdade, nunca sentiram o cheiro de um pinheiro, nunca ouviram o canto do pintassilgo e não têm prazer em brincar com terra. Pensam que terra é sujeira. Não sabem que terra é vida. As nossas escolas - seria bom se elas ensinassem as crianças a amar as árvores. Chamar pelo nome e amar as paineiras, as sibipirunas, as magnólias, os pinheiros, as magueiras, as pitangueiras, os jequitibás, os ipês, as quaresmeiras… Aprendi na escola que os homens são uma forma de vida mais evoluída que as árvores. Estou brincando com a possibilidade do contrário: que as árvores sejam mais evoluídas que nós. Se assim não fosse por que haveriam as Escrituras Sagradas de comparar o homem feliz com uma árvore plantada junto a ribeiros de águas? Com o que concorda Alberto Caeiro: “Sejamos simples e calmos como os regatos e as árvores, e Deus amar-nos-á fazendo de nós belos como as árvores e os regatos…” Deus nos amará quando formos como as árvores!


Ninguém vai para o inferno. Os que não amam as árvores também vão para o céu. Mas, como todos sabem, o céu é o lugar onde se encontram as coisas que amamos. O lugar onde se encontram as coisas que não amamos é o inferno. Assim, para os que não amam as árvores, um lugar com bosques, florestas, flores e riachos seria o inferno. Eles não irão para o inferno de árvores. Irão para o seu céu sem árvores, pois é isso que eles amam.


Morarão numa cidade planejada pelo Niemeyer onde tudo será feito de concreto segundo formas geométricas perfeitas, em nada semelhantes às coisas vivas. Os prédios do Congresso Nacional, em Brasília, são uma metade de esfera voltada para cima e uma metade de esfera voltada para baixo, sem janelas. Na cidade planejada pelo Niemeyer as árvores não sujarão as calçadas com suas folhas e flores. As árvores serão de concreto, semelhantes aos cogumelos: uma esfera cortada pelo meio equilibrando-se sobre um cilindro. O bom disso é que não haverá despesas com jardineiros. E as donas de casa não precisarão varrer a calçada.






Rubem Alves, (Boa Esperança - MG, 15 de setembro de 1933) é psicanalista, educador, teólogo, escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

 http://www.rubemalves.com.br/

sábado, 9 de junho de 2012

Poema Preso - Viviane Mosé (video)

 




Poema Preso

A maioria das doenças que as pessoas têm
São poemas presos.
Abscessos, tumores, nódulos, pedras são palavras
calcificadas,
Poemas sem vazão.
Mesmo cravos pretos, espinhas, cabelo encravado.
Prisão de ventre poderia um dia ter sido poema.
Mas não.
Pessoas às vezes adoecem da razão
De gostar de palavra presa.
Palavra boa é palavra líquida
Escorrendo em estado de lágrima
Lágrima é dor derretida.
Dor endurecida é tumor.
Lágrima é alegria derretida.
Alegria endurecida é tumor.
Lágrima é raiva derretida.
Raiva endurecida é tumor.
Lágrima é pessoa derretida.
Pessoa endurecida é tumor.
Tempo endurecido é tumor.
Tempo derretido é poema
Você pode arrancar poemas com pinças,
Buchas vegetais, óleos medicinais.
Com as pontas dos dedos, com as unhas.
Você pode arrancar poemas com banhos
De imersão, com o pente, com uma agulha.
Com pomada basilicão.
Alicate de cutículas.
Com massagens e hidratação.
Mas não use bisturi quase nunca.
Em caso de poemas difíceis use a dança.
A dança é uma forma de amolecer os poemas,
Endurecidos do corpo.
Uma forma de soltá-los,
Das dobras dos dedos dos pés, das vértebras.
Dos punhos, das axilas, do quadril.
São os poema cóccix, os poemas virilha.
Os poema olho, os poema peito.
Os poema sexo, os poema cílio.
Atualmente ando gostando de pensamento chão.
Pensamento chão é poema que nasce do pé.
É poema de pé no chão.
Poema de pé no chão é poema de gente normal,
Gente simples,
Gente de espírito santo.
Eu venho do Espírito santo
Eu sou do Espírito santo
Trago a Vitória do espírito santo
Santo é um espírito capaz de operar milagres
Sobre si mesmo.

Fonte: Viviane Mosé

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Diálogo entre Buda e Deva


O Buda estava um dia no jardim de Anathapindika, na cidade de Jetavana, quando lhe apareceu um Deva (espírito da natureza) em figura de brâmane e vestido de hábitos brancos como a neve, e entre ambos se estabeleceu o seguinte "duelo":
O Deva:
- Qual é a espada mais cortante?
Ao que Buda respondeu:
- A palavra raivosa é a espada mais cortante.
- Qual é o maior veneno?
- A inveja é o mais mortal veneno.
- Qual é o fogo mais ardente?
- A luxúria.
- Qual é a noite mais escura?
- A ignorância.
- Quem obtém a maior recompensa?
- Quem dá sem desejo de receber é quem mais ganha.
- Quem sofre a maior perda?
- Quem recebe de outro sem devolver nada é o que mais perde.
- Qual é a armadura mais impenetrável?
- A paciência.
- Qual é a melhor arma?
- A sabedoria.
- Qual é o ladrão mais perigoso?
- Um mau pensamento é o ladrão mais perigoso.
- Qual o tesouro mais precioso?
- A virtude.
- Quem recusa o melhor que lhe é oferecido neste mundo?
- Recusa o melhor que se lhe oferece quem aspira à imortalidade.
- O que atrai?
- O bem atrai.
- O que repugna?
- O mal repugna.
- Qual é a dor mais terrível?
- A má conduta.
- Qual é a maior felicidade?
- A libertação.
- O que ocasiona a ruína no mundo?
- A ignorância.
- O que destrói a amizade?
- A inveja e o egoísmo.
- Qual é a febre mais aguda?
- O ódio.
- Qual é o melhor médico?
- O Buda.
O Deva então faz sua última pergunta:
- O que é que o fogo não queima, nem a ferrugem consome, nem o vento abate e é capaz de reconstruir o mundo inteiro?
Buda respondeu:
- O benefício das boas ações.
Satisfeito com as respostas, o Deva, com as mãos juntas, se inclinou respeitosamente ante Buda e desapareceu.



Fonte: do livro 'Buda - aquele que despertou' de Martin Claret.

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