segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Feliz Ano Novo, Martha Medeiros


Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar pra estacionar. 
Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos. 
Tempo consumido em chopes, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano? 
Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz. 
Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós. 
Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil do que crescer.Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças. 
Crescer é a anti-repetição de ideias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos. 
Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca. Envelhecer não machuca. 
Envelhecer é manso, sereno. 
Envelhecer é uma apatia um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece. O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que se passaram iguais, sabedoria que não se renovou. 
Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. 
É uma vitória secreta, sem testemunhas. 
O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor. 

Feliz Ano Novo!




Martha Medeiros

Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação  em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.

De volta ao Brasil, começou a colaborar com crônicas para o jornal Zero Hora, de Porto Alegre, onde até hoje mantém coluna no caderno ZH Donna, que circula aos domingos, e outra — às quartas-feiras — no Segundo Caderno. Escreve, também, uma coluna semanal para o sítio Almas Gêmeas e  colabora com a revista Época.

Seu primeiro livro, Strip-Tease (1985), Editora Brasiliense - São Paulo, foi o primeiro de seus trabalhos publicados. Seguiram-se Meia noite e um quarto (1987), Persona non grata (1991), De cara lavada (1995), Poesia Reunida (1998), Geração Bivolt (1995), Topless (1997) e Santiago do Chile (1996).  Seu livro de crônicas Trem-Bala (1999), já na 9a. edição, foi adaptado com sucesso para o teatro, sob direção de Irene Brietzke. A autora é casada e tem duas filhas.


in "Montanha Russa", L&PM,  pág. 184.

domingo, 30 de dezembro de 2012

Mudar o mundo, Roberto Crema



Mudar o mundo,
é mudar o olhar.
Do olhar que estreita e subtrai,
para o olhar que amplia e engrandece.
Do olhar que julga e condena,
para o olhar que compreende e perdoa.
Do olhar que teme e se esquiva,
para o olhar que confia e atreve.
Do olhar que separa e exclui,
para o olhar que acolhe e religa.

Todos os olhares
num só Olhar.
O olhar da inocência
e o olhar da vigilância.
O olhar da justiça
e o olhar de misericórdia.

Todos os olhares
num só Olhar.
Olhar de criança que brinca,
na Primavera,
Olhar do adulto que labora,
no verão,
Olhar maduro que oferta,
no Outono,
Olhar de prece e de silêncio,
no Inverno.
O olhar de quem nasce,
o olhar de quem passa,
o olhar de quem parte.
Olhares da existência no Olhar de Essência.

Todos os olhares
num só Olhar.
Dançar de roda na órbita do olhar,
dançar de guerreiro em volta da fogueira do olhar,
dançar de Ser no olhar do Amor.
Dançar e brincar de olhar.

Olhar o porvir,
do instante que nasce,
no coração palpitante
da transmutação.

Viva o novo olhar!
Olhe a vida de novo!
Novo olhar, novo viver!

Mudar o mundo
É mudar o olhar.
É alto olhar,
Altar do olhar.
É ousar viver,
É viver no ousar.
É amar viver,
É viver para amar.
Só então partir,
Para o Grande Olhar.

Todos os olhares
num só Olhar.
Num mesmo Olhar.
Supremo Olhar.
Olhar.

Roberto Crema


Psicólogo e Antropólogo do Colégio Internacional dos Terapeutas - CIT, analista transacional didata, criador do enfoque da síntese transacional, consultor em abordagem transdisciplinar holística e ecologia do Ser. Foi o coordenador geral do I Congresso Holístico Internacional (1987) e implementador da Formação Holística de Base, no Brasil (1989). Membro honorário da Associação Luso Brasileira de Transpessoal - ALUBRAT, Fellowship da Findhorn Foundation - Escócia, coordenador do CIT-Brasil, Reitor da Rede Unipaz. Autor de diversos livros.

Fonte: http://st.uniolhar.ptws.net/Formador.php

sábado, 29 de dezembro de 2012

O que você vai plantar em 2013?



Plante hoje o que você deseja colher amanhã!

O espírito no final de cada ano é de renovação, mudança, reconstrução, novos planos, sonhos.
A semente representa este sonho, e sempre deve ser regada, alimentada para se tornar uma flor, uma árvore com lindos frutos.
Isso acontece com nossos sonhos e promessas que devem ser regados e alimentados sempre e não só durante o final de ano para depois se tornarem realidade, o seu fruto.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Receita de Ano Novo, Carlos Drummond de Andrade



Para você ganhar um belíssimo Ano Novo 
da cor do arco-íris, ou da cor da sua paz, 
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido 
(mal vivido talvez ou sem sentido) 
para você ganhar um ano 
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, 
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; 
novo até no coração das coisas menos percebidas 
(a começar pelo seu interior) 
tão novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, 
mas com ele se come, se passeia, 
se ama, se compreende, se trabalha, 
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, 
não precisa expedir nem receber mensagens 
(planta recebe mensagens? passa telegramas?) 

Não precisa 
fazer lista de boas intenções 
para arquivá-las na gaveta. 
Não precisa chorar arrependido 
pelas besteiras consumadas 
nem parvamente acreditar 
que por decreto de esperança 
a partir de janeiro as coisas mudem 
e seja tudo claridade, recompensa, 
justiça entre os homens e as nações, 
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, 
direitos respeitados, começando 
pelo direito augusto de viver. 

Para ganhar um Ano Novo 
que mereça este nome, 
você, meu caro, tem de merecê-lo, 
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, 
mas tente, experimente, consciente. 
É dentro de você que o Ano Novo 
cochila e espera desde sempre.

Carlos Drummond de Andrade

Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Esperança, Mario Quintana




Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Mário Quintana

Texto extraído do livro "
Nova Antologia Poética", Editora Globo - São Paulo, 1998, pág. 118.

Mário de Miranda Quintana (Alegrete, 30 de julho de 1906 — Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro.

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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A casa do Oscar, Chico Buarque



"A casa do Oscar era o sonho da família. Havia um terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar.
Mais tarde, em um aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.
Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e saí batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar!
Pois bem, internaram-me em um ginásio em Cataguases, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo.
Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.
Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é casa do Oscar".

Texto escrito por Chico Buarque em ocasião dos 90 anos de Oscar Niemeyer, em 15 de dezembro de 1997. Como também um maravilhoso tributo da partida de Oscar Niemeyer, o imenso arquiteto do Brasil (15/12/1907 - 05/12/2012).
Chico Buarque
Fonte:

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Entre você e Deus, Madre Teresa de Calcutá



Muitas vezes as pessoas são
egocêntricas, ilógicas e insensatas.
Perdoe-as assim mesmo.

Se você é gentil, as pessoas
podem acusá-las de egoísta, interesseira.
Seja gentil assim mesmo.

Se você é uma vencedora, terá
alguns falsos amigos e alguns
inimigos verdadeiros.
Vença assim mesmo.

Se você é honesta e franca,
As pessoas podem enganá-la.
Seja honesta e franca assim mesmo.

O que você levou anos para construir,
Alguém pode destruir de uma hora para outra.
Construa assim mesmo.

Se você tem paz e é feliz,
As pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz assim mesmo.

Dê ao mundo o melhor de você, mas isso
Pode nunca ser o bastante.
Dê o melhor de você assim mesmo.

Veja você que, no final das contas,
é entre você e Deus.
Nunca foi entre você e
as outras pessoas.

Madre Teresa de Calcutá

Agnes Gonxha Bojaxhiu (Skopje, 26 de agosto de 1910 — Calcutá, 5 de setembro de 1997), conhecida mundialmente como Madre Teresa de Calcutá ou Beata Teresa de Calcutá, foi uma missionária católica de etnia albanesa, nascida no Império Otomano, na capital da atual República da Macedônia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica em 2003. Considerada, por alguns, a missionária do século XX, fundou a congregação "Missionárias da Caridade", tornando-se conhecida ainda em vida pelo cognome de "Santa das sarjetas".

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Madre_Teresa_de_Calcut%C3%A1

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Natal, Rubem Alves


Era 25 de dezembro. Na noite da véspera, Papai Noel havia visitado as crianças da vizinhança deixando para cada uma delas um presente. Eram presentes simples. Uma bola. Uma boneca comprada em loja, de celuloide, material antepassado do plástico. Uma boneca de pano que alguém fizera em segredo. Um caminhãozinho de madeira que se comprava na cadeia. Os presos, sem ter o que fazer, transformavam-se em fabricantes de brinquedos. Sim, parecia que Papai Noel visitara todas as crianças da redondeza. E todos os meninos e meninas saíam à rua, exibindo a sua alegria. Menos o Vinícius, menino de seis anos, meu vizinho. Papai Noel se esquecera dele. Ele estava muito longe, entregue a amores de capital. O Vinícius então apareceu puxando o presente que ele mesmo fizera: uma caixa de sapatos, amarrada a um barbante.
Natal me deixa triste. Porque, por mais que o procure, não o encontro. Natal é uma celebração. As celebrações acontecem para trazer do esquecimento uma coisa querida que aconteceu no passado. A celebração deve ser semelhante à coisa celebrada. Não posso celebrar a vida de Gandhi com um churrasco. Ele era vegetariano, amava os animais. Uma celebração de Gandhi teria de ser feita com verduras, água, leite e um falar baixo. Mais a leitura de alguns textos que ele deixou escritos. Assim Gandhi se tornaria um dos hóspedes da celebração. Agora, um visitante de outro planeta que nada soubesse das nossas tradições, se ele comparecesse às festas de Natal, sem que nenhuma explicação lhe fosse dada, ele concluiria que o objeto da celebração deveria ser um glutão, amante das carnes, bebidas, do estômago cheio, das conversas em voz alta, do desperdício. Nossas celebrações de Natal são como as cascas de cigarra agarradas às árvores. Cascas vazias, das quais a vida se foi. Se perguntar às crianças o que é que está sendo celebrado, eles não saberão o que dizer. Dirão que o Natal é dia do Papai Noel, um velho barrigudo de barbas brancas amante do desperdício, que enche os ricos de presentes e deixa os pobres sem nada. (…) Pois é certo que as celebrações do Natal são orgias de ricos, celebrações do desperdício e lixo. Celebrações do lixo? Aquelas pilhas de papel de presente colorido em que vieram embrulhados os presentes, não são elas essenciais às celebrações? Rasgados, amassados, embolados num canto. Irão para o lixo. Quantas árvores tiveram de ser cortadas para que aqueles papéis fossem feitos. Para quê? Para nada. A indiferença com que tratamos o papel de presentes é uma manifestação da indiferença com que tratamos a nossa Terra.
Estou convidando meus amigos para uma celebração de Natal. Ela deverá imitar a ceia que José e Maria tiveram naquela noite: velas acesas, um pedaço de pão velho, vinho, um pedaço de queijo, algumas frutas secas. À volta de um prato de sopa de fubá – comida de pobre –, tentaremos reconstruir na imaginação aquela cena mansa na estrebaria, um nenezinho deitado numa manjedoura, uma estrela estranha nos céus, os campos iluminados pelos vaga-lumes. E ouviremos as velhas canções de Natal, e leremos poemas, e rezaremos em silêncio. Rezaremos pela nossa Terra, que está sendo destruída pelo mesmo espírito que preside nossas orgias natalinas. (…)”


Rubem Alves

in revista “Bons Fluidos”, de dezembro de 2008.
Livro: "do universo à jabuticaba", Rubem Alves. Planeta do Brasil.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Poema de sete faces, Carlos Drummond de Andrade


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.


Carlos Drummond de Andrade

In "
Alguma Poesia", Edições Pindorama, Belo Horizonte, 1930


sábado, 22 de dezembro de 2012

Um Natal diferente



Como acontecia todos os anos, às vésperas do Natal, os animais da fazenda ficavam aflitos esperando para ver quem seria a próxima vítima.
O pato viraria pato-no-tucupi? Ou a dona galinha, separada dos seus pintinhos, seria servida ao molho pardo? Ou o pobre carneiro se transformaria em antepasto?

Ou seria o boi que viraria filé ou medalhão ao molho madeira na ceia daquele ano?

O porco tremia todo e soluçava:
- "Buá! Não quero virar presunto, salsicha, pernil, torresminho, e nem bacon!"
E o peru, coitado, era quase certo que se elegeria o prato principal, no centro da mesa, com a barriga recheada de farofa. Era o que mais tinha medo nesses dias, e choramingava como um bebê, sem se conformar com a triste sorte.
- "Por que os humanos comemoram o Natal desse jeito? Somos inofensivos, não fazemos mal a ninguém. Só queremos viver!

O Menino da manjedoura, o aniversariante desse dia, certamente não gostaria de ser festejado com mortes, já que aniversário é uma "celebração da Vida".
Sossegados mesmo, só estavam o cão, o gato, e o papagaio da fazenda. Com eles a coisa era diferente. Tinham lugar para dormir, comida gostosa e carinho. Não precisavam ter pesadelos com a cozinheira e suas horríveis panelas.
- "Isso é discriminação!", coaxou o sapo na lagoa. "Para uns carinho e para outros a panela? Protestemos! Vamos ver o que dizem as leis dos direitos dos animais!"
- "Eu também gosto de carinho", disse lacrimejando o carneirinho. "Por que ninguém me faz um afago?"

Todos os animais estavam unidos nessa hora tentando entender o comportamento dos humanos. A lei dos direitos dos animais valia só para os animais de estimação. Que pena...

Mas naquele ano, tudo seria diferente!!!
Eles nem imaginavam que Matheus, um menino vegetariano de 11 anos, vinha passar o Natal na fazenda e mudaria para sempre aquela tradição medonha.
Matheus era um garoto muito esperto, inteligente e de bondoso coração. Tinha um cachorro e vários gatos. Amava todos os bichos e não se conformava com o fato de as pessoas dizerem amar os animais, mas devoravam seus corpinhos nas refeições.
Não querendo mais compartilhar desse ritual horroroso, resolveu se alimentar apenas de frutas, legumes, verduras e grãos. Havia tanta fartura de alimentos nesse mundo! Não achava necessário aquela matança inútil. Era só uma tradição boba que podia ser mudada.

Assim que chegou na fazenda, contou aos primos do sofrimento dos bichinhos até chegar à mesa sob a forma de comida. Falou da indústria da carne, uma das mais cruéis, da aflição que os animais sentiam ao subir os degraus do matadouro, e do triste fim que era dado a eles.

Todos se surpreenderam com tudo o que Matheus contou e derramaram lágrimas com ele. Nunca haviam pensado nisso, e agora alguém os alertava para a injustiça dessa tradição milenar, que era passada de geração em geração.

Resolveram que naquele ano o Natal seria diferente.
Comunicaram aos pais, tios, primos, avós e amigos, que eles mesmos iriam preparar a ceia e que todos aguardassem a grande surpresa.
Cochichos de lá, segredos de cá, e a véspera de Natal estava chegando.
Enquanto isso, os animaizinhos, em polvorosa, estavam com muito medo do destino que os aguardava.

Mas qual não foi a alegria deles quando as crianças contaram o grande segredo!
Todo mundo sabe que crianças e animais conseguem se comunicar, mas muitos adultos não compreendem e por isso ignoram.

O Natal daquela família se transformou no melhor Natal de suas vidas.
Todo mundo reunido em volta de uma mesa colorida, de pratos leves, saudáveis, e o melhor de tudo: sem mortes!!! Aquilo sim era um Natal de Paz e de Amor!
Mariana preparou uma bela macarronada com suculento molho de tomates.
Edu fez várias pizzas vegetarianas de dar água na boca.

Clara sabia fazer saladas e molhos muito bem. E a Talita preparou o que mais gostava: batatas fritas pra todo mundo!

Sem contar que Mikaela trouxe salgadinhos de soja pra ninguém botar defeito. Uma delícia!!! Quibes, coxinhas, esfirras, empadinhas, tudo a base de vegetais!
E as sobremesas? Pavês, compotas de frutas, pudins, sorvetes e um pratão de brigadeiros para completar.

Só sei que a ceia ficou deliciosa, e todos se deliciaram com as gostosuras. E certamente o Menino Jesus abençoou aquela família e os animaizinhos tiveram pela primeira vez, em séculos, um Natal de PAZ! Céu e terra estavam em comunhão porque havia harmonia entre todas as criaturas que dividiam um lugarzinho na Terra.

Era o início de uma nova Era de PAZ, AMOR e FRATERNIDADE.

Autora: Ivana Maria França de Negri


Fonte:
http://ecoblogconsciencia.blogspot.com/2008/12/um-natal-diferente.html

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A cor do silêncio, Osho



Sempre que olhar para alguma coisa azul, para o azul do céu, para o azul do rio, sente-se silenciosamente e olhe dentro desse azul; você sentirá uma profunda sintonia com ele.

Um grande silêncio descerá sobre você sempre que meditar sobre a cor azul.

O azul é uma das cores mais espirituais porque é a cor do silêncio, da quietude. É a cor da tranquilidade, do repouso, do relaxamento.

Assim, sempre que você estiver realmente relaxado, de repente sentirá interiormente uma luminosidade azulada. E se puder sentir uma luminosidade azulada, sentir-se-á inteiramente relaxado. Isso funciona dos dois jeitos.


Osho, em "O Livro Orange"

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Ciência, Manoel de Barros




A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá mas não pode medir seus encantos.

A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem nos encantos de um sabiá.

Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar: divinare.

Os sabiás divinam. 

Manoel de Barros

Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de 1996.

Leia mais

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manoel_de_Barros

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O amor..., João Cabral de Melo Neto

pintura de Wladimir Klush


O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte. 
João Cabral de Melo Neto

Trecho do monólogo do personagem Joaquim foram extraídas da poesia 
"Os Três Mal-Amados"do livro João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.
João Cabral de Melo Neto (Recife, 9 de janeiro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de outubro de 1999) foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil.
Irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi amigo do pintor Joan Miró e do poeta Joan Brossa. Membro da Academia Pernambucana de Letras e da Academia Brasileira de Letras, foi agraciado com vários prêmios literários. Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.
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terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O som do silêncio, Luiz Carlos Lisboa



Os lugares que frequentamos e as pessoas que estão à nossa volta vão ficando invisíveis com o passar do tempo. Aos poucos, nossa atenção encontra novos alvos e a paisagem some, como somem os rostos e a realidade particular de cada um, até que não reste quase nada. E, no entanto, estão todos vivos a nosso lado, e o sol se põe de um modo que um dia nos pareceu tão bonito, e aquela mulher canta de um jeito que antes nos fascinava tanto. Esse mundo querido ficou invisível para nós porque nos acostumamos com ele – e acostumar-se quer dizer não mais notar, não ouvir e talvez amar um pouco menos. Mas toda a beleza perdida aparece outra vez quando abrimos os olhos e vemos tudo de novo – como da primeira vez.

Luiz Carlos Lisboa
In: Músicas: Nova Era 

(Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1929) é um escritor e jornalista brasileiro (Jornal do Brasil e O Estado de S.Paulo).

Autor de cerca de 40 obras, entre ensaios, contos, uma trilogia (romance), traduções, cinco guias literários e livros de entrevistas com artistas e intelectuais brasileiros do nosso tempo. Ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura em 1973. Desde 1992 é membro da Academia Paulista de Letras (cadeira nº 6). Jurado, por quatro vezes, do Prêmio Esso de Jornalismo.

Lisboa reside há dezessete anos em Princeton, nos Estados Unidos da América, onde já foi correspondente de jornais brasileiros. Atualmente faz ali palestras e organiza cursos de cultura geral,inclusive os de História da Literatura e de Crítica Literária Brasileira, na Brazilian Endowment For The Arts, e lectures no City College of New York. Seu livro mais recente, O Som do Silêncio, foi traduzido pela Obelisco Ediciones de Barcelona, Espanha, e está sendo distribuído também para países de fala hispânica. Sua tradução de A Nuvem do Desconhecimento, um clássico anônimo inglês do misticismo medieval, foi publicado em 2007 pela Lótus do Saber, uma editora do Rio. Ele também traduziu as poesias e textos poéticos da editio princeps do livro "Autobiografia de um Iogue". Lisboa é autor de uma trilogia sob o título geral de "Memórias de um Gato", uma coletânea de contos ("Ante-Sala"), livros de ensaios e de artigos ("A Arte de Desaprender", "Olhos de Ver, Ouvidos de Ouvir" e "Jejum do Coração"), além de guias de leitura ("Pequeno Guia da Literatura Universal"), tendo ainda organizado quase duas dezenas de biografias de contemporâneos para a Editora Rio. Ele entregou em 2010 a uma editora de São Paulo um romance de cunho autobiográfico ("Oito Vezes Samsara"), e tem em preparo um novo romance ("Flora"), bem como um ensaio sobre a vida e a obra de Mestre Eckhart, místico renomado do século XIV.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Ou isto ou aquilo, Cecília Meireles


Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!


Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!


Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.


É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!


Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.


Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo ...
e vivo escolhendo o dia inteiro!


Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.


Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.


Cecília Meireles

Fonte: do livro "Ou isto ou aquilo" - ed. Nova Fronteira

Cecília Meireles, (Rio de Janeiro, 7 de novembro 1901 - Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964). Foi poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada umas das vozes mais líricas mais importantes das literaturas da língua portuguesa.


domingo, 16 de dezembro de 2012

Poema das Árvores, Arthur Nestrovski

Jacarandá-mimoso (Jacaranda mimosifolia)

Andiroba
Angelim
Mangueira
Imbuia
Jatobá
Marfim
Cabreúva
Pau-brasil
Cedrinho
Roxinho
Limoeiro
Jacarandá


Para fazer poema de árvore
Não precisa história
Não precisa metro
Não precisa rima
Basta dizer o nome delas
Já fica bonito


Arthur Nestrovski (Porto Alegre, 26 de dezembro de 1959) é um compositor, violonista, crítico literário e musical, escritor e editor brasileiro. Nomeado diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), assumiu a função em janeiro de 2010. Em 2012 foi nomeado também diretor artístico do Festival de Campos do Jordão.
Graduou-se em Música, pela Universidade de York, Inglaterra, em 1983. Obteve seu PhD em Literatura e Música pela Universidade de Iowa, EUA, em 1990. De 1992 até 2009 atuou como crítico de música clássica do jornal Folha de S.Paulo; e de 1999 a 2009 foi editor da PubliFolha. De 1991 a 2005 foi professor na pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP; abandonou a carreira universitária para dedicar-se mais intensivamente à música.
Desde então gravou os cds solo Jobim Violão e Chico Violão, o disco de composições Tudo o Que Gira Parece a Felicidade e um disco de composições e arranjos, Pra Que Chorar (com o cantor Celso Sim), entre outros projetos. Apresenta-se regularmente com artistas como Zé Miguel Wisnik, Zélia Duncan, Tom Zé e Paula Morelenbaum, no Brasil e no exterior (Alemanha, Portugal, Polônia).
Renomado também como autor de livros para crianças (nove títulos até 2009), recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano de Ficção, em 2003, por Bichos Que Existem e Bichos Que Não Existem. Como editor, está à frente de grande número de publicações dos últimos 20 anos, com destaque para uma série de livros sobre música na PubliFolha (de Wisnik, Tom Zé, Arnaldo Antunes e Luiz Tatit, entre outros) e para a coleção "Folha Explica" (83 títulos publicados até dezembro de 2009).
Seu trabalho deixa marcas em várias frentes -- música, crítica (musical e literária), literatura infantil, edição e tradução -- de um modo incomum, mas característico de vários artistas contemporâneos no Brasil. As disciplinas se cruzam naturalmente em tudo o que ele produz, sem se prender a rótulos, e sempre com interesse voltado para a cultura brasileira, pensada de modo abrangente e aberto.


Fonte: Histórias de Avô e Avó. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 1998.  Ilustrações: Maria Eugenia. 2a ed., 1999. Selo “Altamente Recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Natureza, Emily Dickinson




“Natureza” é aquilo que vemos – 
A Colina – a Tarde – 
Esquilo – Eclipse – Abelha – 
Não – Natureza é Paraíso. 
Natureza é o que escutamos – 
O Bem-te-vi – O Mar – 
Não – Natureza é Harmonia – 
Natureza é o que conhecemos – 
Sem ter, para dizê-lo, a arte – 
Tão importante é a nossa Sabedoria 
Para a sua Simplicidade.

Emily Dickinson

Tradução de Lucia Olinto

Emily Elizabeth Dickinson (Amherst, 10 de dezembro de 1830 - 15 de maio de 1886) foi uma poetisa americana, considerada moderna em vários aspectos da sua obra.

Leia mais

http://pt.wikipedia.org/wiki/Emily_Dickinson


Original poem

"Nature" is what we see


"Nature" is what we see—
The Hill—the Afternoon—
Squirrel—Eclipse— the Bumble bee—
Nay—Nature is Heaven—
Nature is what we hear—
The Bobolink—the Sea—
Thunder—the Cricket—
Nay—Nature is Harmony—
Nature is what we know—
Yet have no art to say—
So impotent Our Wisdom is
To her Simplicity. 
Emily Dickinson

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Eu sei, mas não devia, Marina Colasanti



Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.


(1972)

Marina Colasanti

In: extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.



Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Um animal predominantemente construtivo…, Dostoiévski



Fiódor Dostoiévski


"Como explicar que o homem, um animal tão predominantemente construtivo, seja tão apaixonadamente propenso à destruição?

Talvez porque seja uma criatura volúvel, de reputação duvidosa. Ou talvez porque seu único propósito na vida seja perseguir um objetivo, algo que, afinal, ao ser atingido, não mais é vida, mas o princípio da morte."


Fiódor Dostoiévski, nasceu em 11 de Novembro de 1821 na cidade de São Petersburgo. Escritor considerado um dos maiores romancistas da literatura russa e um dos mais inovadores artistas de todos os tempos. Sua obra explora a autodestruição, a humilhação e o assassinato, além de analisar estados patológicos que levam ao suicídio, à loucura e ao homicídio.

Saiba mais: http://pt.wikipedia.org/wiki/Fi%C3%B3dor_Dostoi%C3%A9vski


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Criança Mágica - 2ª parte, Michael Jackson



Uma vez, a criança mágica sentiu uma súbita dor 
Uma fraca recordação, uma memória desequilibrou
Nas cores, nas formas, no tom
Pareceu um mistério com uma pista subtil
Atrás do vento, da tempestade, das rajadas
Dentro da mortalha, além do véu 
Escondida da visão num padrão impressionante
Pareceu uma força que o menino não poderia compreender
A sua música e ritmo eram divertidos e doces
Ele dançava com alegria no seu ritmo palpitante
Ele não se importava com o frio nem com o calor 
Sobre a alta montanha estava o seu majestoso assento

Estranhos vieram e desprezaram a sua alegria
Com o ridículo e brincadeira eles tentaram destruir
O que nas suas mentes era um jogo habilidoso
Com dardos cruéis eles tentaram pilhar
Sufocar e estrangular a sua inocente maravilha
Lutando muito, apesar do erro crasso deles
Uma e outra vez para roubar o seu trovão
Apesar dos ataques, eles não poderiam ganhar
Com as flechas apontadas, eles não poderiam tomar
O presente de amor de Deus, que eles não poderiam falsificar
Não sabendo da sua força ou do que ele se empenhou a alcançar
Eles acusaram-no em voz alta e chamaram-no de esquisito

Mas a força misteriosa manteve o seu domínio
A criança mágica cresceu corajosa e segura de si
Mergulhando profundamente na sua alma
Em requintado êxtase ele descobriu o seu papel
No seu "eu" estava infinita motivação
Esta força misteriosa era a esperança da humanidade
Compreendendo completamente aquela máscara da vida
Dentro daquele silêncio além da visão de todos 
Estava um campo com uma história diferente
Um campo de poder, de glória admirável
Com outras crianças, se repartida
A sua onda gigantesca mudaria o mundo

A criança mágica estava pronta para se curvar
Semear a semente, apanhar o arado
Com facilidade e sem esforço, sem um suspiro
Sem uma lágrima, sem chorar
Com perfeição silenciosa
Sob a direcção de Deus
Cantar junto como um único grupo
Conter a maré, transformar este lugar 
Crianças mágicas, não se preocupem como
Não se atrasem, o momento é agora.

Michael Jackson

"Magical Child - Parte II"
poema de Michael Jackson
livro "Dancing The Dream - Poems And Reflections"
1992

Michael Joseph Jackson (Gary, 29 de agosto de 1958 — Los Angeles, 25 de junho de 2009) foi um cantor, compositor, dançarino, produtor, empresário, arranjador vocal e filantrópico norte-americano. Segundo a revista Rolling Stone faturou em vida cerca de US$ 7 bilhões de dólares, fazendo dele o artista mais rico de toda a história, e um ano após sua morte faturou cerca de US$ 1 bilhão de dólares.
Começou a cantar e a dançar aos cinco anos de idade, iniciando-se na carreira profissional aos onze anos como vocalista dos Jackson 5; começou logo depois uma carreira solo em 1971, permanecendo como membro do grupo.

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terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Página Virada, Fábio de Melo




"Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno.
Eu me recordo do meu.
Com ele eu aprendi muita coisa.
Foi nele que descobri que a experiência dos erros.
Ela é tão importante quanto à experiência dos acertos
Por que vistos de um jeito certo, os erros, eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras.
Por que não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros.
Caderno é uma metáfora da vida, quando erros cometidos eram demais eu me recordo que nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página.
Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços.
Ao virar a página os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles a gente seguia um pouco mais crescidos.
O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos.
Erros podem ser fontes de virtudes. Na vida é a mesma coisa.
O erro tem que estar a serviço do aprendizado.
Nenhum tem que ser fonte de culpas, de vergonhas.
Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.
Uma coisa é a gente se arrepender do que fez
Outra coisa é a gente se sentir culpado
Culpas nos paralisam, arrependimentos não.
Eles nos lançam pra frente, nos ajuda a corrigir os erros cometidos.
Deus é semelhante a um caderno
Eles nos permite os erros pra que a gente aprenda pra fazer do jeito certo
Você tem errado muito? Não importa aceite de Deus esta nova página de vida que tem nome de hoje.
Recorde-se das lições do seu primeiro caderno.
Quando os erros são demais vire a página."

Fábio de Melo

Fábio José de Melo Silva, mais conhecido como Padre Fábio de Melo, SCJ (Formiga, MG, 3 de abril de 1971) é um sacerdote católico, artista, escritor, cantor e professor universitário.

Fonte: Trecho da música "O caderno".
Composição: Toquinho e Pe. Fábio de Melo.

Ouça também a música:
https://www.youtube.com/watch?v=9lMM0vzLVNQ

Letra da música na íntegra

Sou eu quem vou seguir você
do primeiro rabisco até o bê-a-bá
em todos os desenhos coloridos vou estar
a casa, a montanha, duas nuvens no céu
e um sol a sorrir no papel

Sou eu que vou ser seu colega,
seus problemas ajudar a resolver
lhe acompanhar nas provas bimestrais, você vai ver
Serei de você confidente fiel,
se seu pranto molhar meu papel

Sou eu que vou ser seu amigo,
Vou lhe dar abrigo, se você quiser
Quando surgirem seus primeiros raios de mulher
A vida se abrirá num feroz carrossel
E você vai rasgar meu papel

O que está escrito em mim comigo
Ficará guardado, se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer
Só peço a você um favor, se puder
Não me esqueça num canto qualquer


[MENSAGEM]
Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno, eu me recordo do meu.
Com ele eu aprendi muita coisa, foi nele que eu descobri que a experiência dos erros
Ela é tão importante quanto às experiências dos acertos
Porque vistos de um jeito certo, os erros,
Eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras
Porque não há aprendizado na vida que não passe pelas experiências dos erros

O caderno é uma metáfora da vida,
Quando os erros cometidos eram demais, eu me recordo,
Que a nossa professora nos sugeria que a gente virasse a página.
Era um jeito interessante de descobrir a graça que há nos recomeços.

Ao virar a página, os erros cometidos deixavam de nos incomodar e a partir deles,
A gente seguia um pouco mais crescido.

O caderno nos ensina que erros não precisam ser fontes de castigos.
Erros podem ser fontes de virtudes!
Na vida é a mesma coisa, o erro tem que estar à serviço do aprendizado;
Ele não tem que ser fonte de culpas e vergonhas.
Nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande
sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.

Uma coisa é a gente se arrepender do que fez! Outra coisa é a gente se sentir culpado.
Culpas nos paralisam. Arrependimentos não!
Eles nos lançam pra frente, nos ajudam a corrigir os erros cometidos.

Deus é semelhante ao caderno.
Ele nos permite os erros pra que a gente aprenda a fazer do jeito certo.

Você tem errado muito?
Não importa, aceite de Deus essa nova página de vida que tem nome de hoje!
Recorde-se das lições do seu primeiro caderno.
Quando os erros são demais, vire a página!


[FINAL]
O que está escrito em mim comigo
Ficará guardado, se lhe dá prazer
A vida segue sempre em frente, o que se há de fazer
Só peço a você um favor, se puder
Não me esqueça num canto qualquer
 

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