Eu, estudante empírico.
fecho o livro e contemplo.
Eis o globo, o planisfério terrestre,
o planisfério celeste,
o redondo horizonte, a ilusão dos firmamentos.
E a nossa existência.
Eis o compasso, o esquadro,
a balança, a pirâmide,
o cone, o cilindro, o cubo,
o peso, a forma, a proporção, as equivalências.
E o nosso itinerário.
Saem das suas caixas os mistérios:
desenrola-se o mapa dos ossos, com seus nomes;
o sangue desenha sua floresta azul;
cada órgão cumpre um trabalho enigmático:
estamos repletos de esfinges certeiras.
E o nosso corpo.
E os dinossauros são como carros de triunfo,
reduzidos à armação;
e no olho profundo do microscópio
a célula anuncia.
E o nosso destino.
O professor escreve no quadro o Alfa e o Ômega .
A luz de Sírius ainda lança escadas em contínua cascata.
E lentamente subo e fecho os olhos
e sonho saber o que não se sabe
simplesmente acordado.
Grande aula, a do silêncio.
Cecília Meireles,
in: Poesia completa — volume II. autora: Cecília Meireles. organização: Antonio Carlos Secchin. editora: Nova Fronteira.
Poeta brasileira, escreveu sua primeira poesia aos 9 anos de idade. Recebeu como homenagem póstuma a impressão de seu rosto na cédula de 100 cruzados novos.
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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles
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