sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Igual - Desigual, Carlos Drummond de Andrade

Operários, 1933 - Tarsila do Amaral



Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são iguais.
Todos os partidos políticos são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda são iguais.
Todas as experiências de sexo são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais e todos, todos os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.


Carlos Drummond de Andrade, in "A paixão medida", 1980.

Carlos Drummond de Andrade, (Itabira, MG, 31 de outubro de 1902 -  Rio de Janeiro, 17 de agosto de 1987). É Considerado um dos principais poetas da Literatura Brasileira devido à repercussão e alcance de suas obras. Nasceu em Minas Gerais, em  uma cidade cuja memória viria permear parte de sua obra. Posteriormente, foi estudar em Belo Horizonte e Nova Friburgo. Formado em Farmácia, com Emílio de Moura e outros companheiros fundou "A Revista" para divulgar o Modernismo no Brasil. Durante a maior parte de sua vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguindo até seu falecimento, que se deu em 1987 no Rio de Janeiro, doze dias após a morte de sua única filha, a escritora Maria Julieta Drummond de Andrade. Além de poesia, produziu livros infantis, contos e crônicas.

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