terça-feira, 2 de outubro de 2012

É preciso não esquecer nada, Cecília Meireles


ilustração Summer Roses de Lisa Holley



É preciso não esquecer nada: 
nem a torneira aberta nem o fogo aceso, 
nem o sorriso para os infelizes 
nem a oração de cada instante. 


É preciso não esquecer de ver a nova borboleta 
nem o céu de sempre. 


O que é preciso é esquecer o nosso rosto, 
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso. 


O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, 
a ideia de recompensa e de glória. 


O que é preciso é ser como se já não fôssemos, 
vigiados pelos próprios olhos 
severos conosco, pois o resto não nos pertence. 


Cecília Meireles (1962)

Fonte: Antonio Carlos Secchin (Org) Cecília Meireles: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001

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