sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Alma numerosa, Murilo Mendes




Nascerei em outras terras, com olhos novos.
Deixarei minhas partes inferiores, a parte do diabo.
Não me perseguirão mais visões complicadas,
nem eu serei a luta entre as construções do meu espírito.
Pra subir tenho que largar esta pele multicor,
feiticeiro de mim mesmo, alma penada,
presa das formas exteriores, do cheiro, do movimento.
Me desdobrarei em planos infinitos, estarei nos olhos da criança nascendo,
na cabeça dos amantes, nos degraus do espaço,
na última luz dos velhos morrendo, no sonho do místico,
e em todos os lugares onde existir alguém sofrendo e amando.
Aqui não posso fazer o que penso. Me livrarei de mim mesmo
quando a luz enorme se anunciar pelos círios vacilantes
e a minha alma penetrar nos espaços futuros.

Murilo Mendes, in 'Poesias' (1925 - 1955) Rio de Janeiro, José Olympio, 1959 pg. 28

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Murilo_Mendes

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