quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Lira Itabirana, Carlos Drummond de Andrade

‘Nilo brasileiro’. Vista aérea do Parque Florestal Estadual do Rio Doce, na região sudoeste de Minas Gerais, cortado pelo rio que foi completamente poluído em 05/11/2015*, ao receber rejeitos químicos da mineradora Samarco -  Ana Branco

I

O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.

II

Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!

III

A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.

IV

Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade quem antevê a tensão entre o rio e as mineradoras que o exploraram desde sempre no poema “Lira itabirana”, de 1984: “O Rio? É doce. A Vale? Amarga.”

Fonte: Jornal O Globo

* O Rio Doce foi completamente destruído pelo rompimento das barragens da mineradora Samarco, em Mariana, há dez dias (05/11/2015). Com o desastre, os rejeitos químicos da empresa inundaram seu leito, que já é considerado “morto” por autoridades ambientais do Ministério Público do Espírito Santo e do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Minas Gerais.

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