sexta-feira, 1 de novembro de 2013

O amor, Maiakovski



Um dia, quem sabe,

Ela que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zoo, 
sorridente,
tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que por certo, hão de ressuscitá-la
Vosso Trigésimo século ultrapassará o exame de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado
seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja porque te esperava
como um poeta,
repelindo o absurdo cotidiano!
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravos de casamentos,
concupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada, 
não vos seja chorado, mendigado.
E que ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que doravante
a família seja
o pai,
pelo menos o universo;
a mãe,
pelo menos a terra.

Vladimir Maiakovski (1923)

(19 de Julho de 1893, Baghdati - 14 de Abril de 1930, Moscou) foi um poeta, dramaturgo e teórico russo, frequentemente citado como um dos maiores poetas do século XX,  ao lado de Ezra Pound e T.S. Eliot, bem como "o maior poeta do futurismo". 


Caetano Veloso adaptou o poema "O amor", de Maiakovski.


"Talvez
Quem sabe
Um dia
Por uma alameda
Do zoológico
Ela também chegará
Ela que também
Amava os animais
Entrará sorridente
Assim como está
Na foto sobre a mesa

Ela é tão bonita

Ela é tão bonita
Que na certa
Eles a ressuscitarão
O século trinta vencerá
O coração destroçado já
Pelas mesquinharias

Agora vamos alcançar

Tudo o que não
Podemos amar na vida
Com o estrelar
Das noites inumeráveis

Ressuscita-me

Ainda
Que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro

Ressuscita-me

Lutando
Contra as misérias
Do cotidiano
Ressuscita-me por isso

Ressuscita-me

Quero acabar de viver
O que me cabe
Minha vida
Para que não mais
Existam amores servis

Ressuscita-me

Para que ninguém mais
Tenha de sacrificar-se
Por uma casa
Um buraco

Ressuscita-me

Para que a partir de hoje
A partir de hoje
A família se transforme

E o pai

Seja pelo menos
O Universo
E a mãe
Seja no mínimo
A Terra
A Terra
A Terra"

Ouça também a música clicando no vídeo abaixo:






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