domingo, 22 de julho de 2012

Bicicleta, Augusto Martini


Acrylic painting by Lindy Gruger Hanson


Desde criança, sempre gostei muito de andar de bicicleta. Rio Claro, minha cidade natal, é muito propícia para isso. Também é conhecida como a “cidade das bicicletas”.

Aprendi a andar em uma “monark”. Meu pai a usava diariamente para ir ao trabalho. Lembro-me de uma vez, em um final de tarde, que montei nela e fui até o armazém comprar mortadela. Voltei a pé e a esqueci ali, estacionada na calçada. Pela manhã, meu pai foi pegar a “magrela” e nada. Depois lembrou que o último a usá-la fui eu. Caminhou até o armazém, procurou o Sr. Guido, explicou o caso e ele disse – “Sr. Antonio, hoje, pela manhã, quando cheguei, vi sua bicicleta estacionada na calçada e a guardei”. Ela ficou a noite toda lá, na calçada e ninguém a levou! Coisas de antigamente.
Para mim, quando morava em Rio Claro, o andar de bicicleta era um ritual. Escolhia a roupa, meias, sapatos, verificava a pressão dos pneus, verificava se havia fechado bem as portas e lá ia eu para o trabalho, supermercado, horto florestal, etc. Quando chovia, guarda-chuvas numa mão e a outra no guidão. Se a chuva era na volta do compromisso, tirava a camiseta, os sapatos e vinha sentindo os pingos no rosto e pelo tronco, braços e pés. Uma delícia.
Montado na bicicleta, sentia-me livre. Via por cima dos muros. Sentia o cheiro das flores das jabuticabeiras que habitavam os quintais…
Quando dormia demais e o tempo era curto, jogava uma roupa qualquer no corpo, tomava um copo de leite e saía com o pão na mão. Pedalando e comendo. Nada mais havia em que pensar. Apenas no cuidado de não prender as calças na corrente ou o cadarço do sapato no pedal. Não tinha capacete e de vez em quando usava um boné se o sol estivesse muito forte. Se o pneu furasse voltava para casa a pé, empurrando a bicicleta. Quando o furo era pequeno, chegava a andar semanas com ele sem o reparar. Apenas parava mais nos postos de gasolina para encher o pneu.
Aos finais de semana, pedalava bastante. Chegava a andar mais de 15 km até um bairro rural. Chegando lá, comprava uma Tubaína e uma “bengala” com mortadela. Era o banquete dos deuses. Comia e voltava para casa. Muitas vezes, durante o caminho, parava em um córrego para tomar banho.  Naquele tempo ainda existiam córregos despoluídos…
Minhas bicicletas nunca tiveram amortecedores. No máximo algumas catracas extras para amenizar o esforço nas subidas. Os impactos, absorvia-os com os braços, e levantava a bunda do selim quando percebia que cairia em um buraco.
Minha bicicleta era lavada frequentemente. A corrente era sempre lubrificada com um pouco a mais de óleo. Naquela época, as correntes e catracas não gastavam como as de hoje, as mudanças de marchas não “desafinavam”. As bicicletas apenas ganhavam alguns caprichos, alguns enfeites. Era tudo muito mais simples.
Foram as saudades desse tempo que me fizeram montar uma bicicleta mais simples e barata. Algo possivel de deixar amarrada em qualquer lugar sem ter que andar com o coração nas mãos.
Agora, morando em São Paulo, fica mais difícil de manter esse hobby tão gostoso. Após poucas saídas em finais de semana, constatei que era fácil combinar o uso de bicicleta com o metrô. Fiz uma experiência em um domingo. Mas ví que é algo inconcebível para mim, que quero liberdade e vento na cara.
Pedalar melhora a forma física, mesmo com poucos kms pedalados semanalmente. Isso, não fosse o perigo de andar de bicicleta no trânsito de São Paulo. Aqui ando mesmo é a pé. Mas, alguns percursos seriam bem mais rápidos se houvesse a possibilidade de fazê-los de bike. A pé, gosto de andar depressa. Tenho certeza que seria uma pessoa mais feliz se pudesse fazer todos os dias o que realmente gosto: andar de bicicleta. Não tenho carro. Não é por convicção, é mesmo por razões econômicas. Mas também sei que não preciso de um aqui nessa cidade maluca.
Ainda faço todo o ritual de andar de bicicleta descrito anteriormente, mas muito de vez em quando. Normalmente aos finais de semana, quando vou para Rio Claro. É uma forma de andar de bicicleta diferente. Somente aos finais de semana e feriados. Também é divertido, mas não é mais divertido. Andar de bicicleta é a minha paixão. Experimente, pode ser que também seja a sua.

Um comentário:

  1. Cris, adorei a seleção desse texto! E olha que sincrônico: tenho pensado mto em comprar uma "bike" por esses dias...
    Realmente andar de bicicleta é um grande prazer que conhecemos na infância... talvez pq pode ser uma das primeiras experiências de liberdade... e dá vontade de levar essa sensação para o resto da vida!
    Bjo gde da prima Carol

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