terça-feira, 7 de maio de 2013

Sobre Helena Kolody, Rubem Alves


imagem google

Helena Kolody: Na minha ignorância eu nunca havia ouvido o seu nome. Conheci-a como um presente de um amigo, Samuel Lago, um livro de poemas. Comecei a ler sem muito interesse e foi amor à primeira leitura. 
Sou como aqueles poemas. 

Li os poemas e senti o espanto de me descobrir. 

O poema me diz. Diz o que eu já sabia sem saber.



Bem disse Bernardo Soares que

"Arte é comunicar aos outros a nossa identidade íntima com eles."



Meu rosto aparece refletido no espelho de vidro. 

Dentro dele, do espelho, vejo diariamente meu rosto conhecido. 

Meu reflexo não me surpreende.

Mas o poema é um espelho onde a minha alma, desconhecida,

aparece refletida. Espanto-me. Nunca me havia visto assim.



O poema me mostra a beleza da minha alma – que eu não via. 

Por isso a poesia é salvação. 

Na minha solidão dou-me conta de que existe uma outra pessoa 

cuja alma se parece com a minha. 

Fico grato porque tal pessoa existe.

Minha solidão se transforma em comunhão.

Rubem Alves

In: Quarto de Badulaques LXXVII, Rubem Alves.

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