Flickr.com Ruth Altheim
Não há nada a dizer sobre
uma morte injusta.
Nada mesmo.
Nós vamos mostrar daqui a pouco.
Sob o galho de uma oliveira
estava suspensa uma pequena
crisálida de cor esmeralda.
Amanhã ela se tornaria uma bela
borboleta, liberada do seu casulo.
Tornaria,
r-i-a.
A árvore exultava em
liberar sua crisálida.
Mas em segredo, ela adoraria
guardá-la ainda uns anos.
Adoraria,
r-i-a.
“Para que ela
se lembrasse de mim.”
Ela a tinha protegido do vento.
Ela a tinha salvo das formigas.
E amanhã ela a deixaria
enfrentar sozinha…
os predadores e as intempéries.
r-e-s.
Naquela noite…
um grande incêndio
devastou a floresta,
e a crisálida
nunca se tornou borboleta.
De manhã,
o fogo apagado,
a árvore ainda estava de pé,
mas seu coração
estava em cinzas,
roído pelo fogo,
roído pelo luto.
Roído pelo luto.
Depois disso,
quando um pássaro
pousava na oliveira,
a árvore contava sobre a crisálida
que nunca acordou.
Ela a imagina
com as asas abertas,
ondulando no azul
de um céu azul,
bêbada de néctar e liberdade.
Fábula de Bachir Lazhar (personagem no filme "O que traz boas novas" (Monsieur Lazhar).
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-183502/
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