sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A arte de ver, Rubem Alves

Cartoon de Airon Barreto


Ela entrou, deitou-se no divã e disse: “Acho que estou ficando louca”. Eu fiquei em silêncio aguardando que ela me revelasse os sinais da sua loucura. “Um dos meus prazeres é cozinhar. Vou para a cozinha, corto as cebolas, os tomates, os pimentões – é uma alegria! Aconteceu, entretanto, faz uns dias, eu fui para a cozinha para fazer aquilo que já fizera centenas de vezes: cortar cebolas. Ato banal sem surpresas. Entretanto, cortada a cebola, eu olhei para ela e tive um susto. Percebi que nunca havia visto uma cebola. Aqueles anéis perfeitamente ajustados, a luz se refletindo neles: tive a impressão de estar vendo a rosácea de um vitral de catedral gótica. De repente a cebola, de objeto a ser comid,o se transformou em obra de arte para ser vista! E o pior é que o mesmo aconteceu quando cortei os tomates, os pimentões... Agora tudo o que vejo me causa espanto...” Ela se calou esperando o meu diagnóstico. Eu me levantei, fui até a estante de livros e de lá retirei as “Odes Elementales”, de Pablo Neruda. Procurei a “Ode à cebola” e lhe disse: “Essa perturbação ocular que a acometeu é comum entre os poetas. Veja o que Neruda disse de uma cebola igual àquela que lhe causou assombro: “...rosa de água com escamas de cristal...” Não, você não está louca. Você ganhou olhos de poeta... Os poetas ensinam a ver.”
Ver é muito complicado. Isso é estranho porque os olhos, de todos os órgãos dos sentidos, são os de mais fácil compreensão científica. A sua física é idêntica à física ótica de uma máquina fotográfica: o objeto do lado de fora aparece refletido do lado de dentro. Mas existe algo na visão que não pertence à física. William Blake sabia disso é afirmou: “A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê”. Sei isso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos sinto-me como Moisés, diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frente de usa casa, porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.
A Adélia Prado diz: “Deus de vez em quando me tira a poesia. Olho para uma pedra e vejo uma pedra”. O Drummond viu uma pedra e não viu uma pedra. A pedra que ele viu virou poema.
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem. “Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores. Não basta abrir a janela para ver os campos e os rios”, escreveu Alberto Caeiro. O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido. Nietzsche sabia disso é afirmou que a primeira tarefa da educação era ensinar a ver. O Zen Budismo concorda e toda a sua espiritualidade é uma busca da experiência chamada “satori”, a abertura do “terceiro olho”. Não sei se Cummings se inspirava no Zen Budismo mas o fato é que escreveu “ Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram...”
Há um poema no Novo Testamento que relata a caminhada de dois discípulos na companhia de Jesus Ressuscitado. Mas eles não o reconheciam. Reconheceram-no subitamente: ao partir do pão “os seus olhos se abriram”. Vinícius de Moraes adota o mesmo mote no “Operário em Construção”: “De forma que, certo dia, ao cortar o pão, o operário foi tomado de uma súbita emoção ao constatar assombrado que tudo naquela mesa – garrafa, prato, facão – era ele quem fazia, eles um humilde operário, um operário em construção”.
A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na Caixa de Ferramentas eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas – e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas quando os olhos estão na Caixa dos Brinquedos eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na Caixa de Ferramentas são os olhos dos adultos. Os olhos que moram na Caixa dos Brinquedos são os olhos das crianças. Para ter olhos brincalhões é preciso ter as crianças por nossas mestras. Alberto Caeiro disse haver aprendido a arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez criança, eternamente: “A mim ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a gente as têm na mão e olha devagar para elas...”
Por isso, porque eu acho que a primeira função da educação é ensinar a ver, eu gostaria de sugerir que se criasse um novo tipo de professor, um professor que nada teria a ensinar, mas que se dedicaria a apontar para os assombros que crescem nos desvão da banalidade cotidiana. Como o Jesus Menino do poema do Caeiro. Sua missão seria partejar “olhos vagabundos...”

Rubem Alves

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Fábula do rei e as 4 esposas



Era uma vez...

Um rei que tinha 4 esposas.
Ele amava a 4ª esposa demais,
e vivia dando-lhe lindos presentes, jóias e roupas caras.
Ele dava-lhe de tudo e sempre do melhor.
Ele também amava muito sua 3ª esposa
e gostava de exibi-la aos reinados vizinhos.
Contudo, ele tinha medo que um dia, ela o deixasse por outro rei.
Ele também amava sua 2ª esposa.
Ela era sua confidente e estava sempre pronta para ele,
com amabilidade e paciência.
Sempre que o rei tinha que enfrentar um problema,
ele confiava nela para atravessar esses tempos de dificuldade.
A 1ª esposa era uma parceira muito leal
e fazia tudo que estava ao seu alcance para manter
o rei muito rico e poderoso, ele e o reino.
Mas, ele não amava a 1ª esposa, e apesar dela o amar profundamente, ele mal tomava conhecimento dela.
Um dia, o rei caiu doente e percebeu que seu fim estava próximo.
Ele pensou em toda a luxúria da sua vida e ponderou:
— É, agora eu tenho 4 esposas comigo,
mas quando eu morrer, com quantas poderei contar?
Então, ele perguntou à 4ª esposa:
— Eu te amei tanto, querida, te cobri das mais finas roupas e joias.
Mostrei o quanto eu te amava cuidando bem de você.
Agora que eu estou morrendo, você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?
— De jeito nenhum! respondeu a 4ª esposa,
e saiu do quarto sem sequer olhar para trás.
A resposta que ela deu cortou o coração do rei como se fosse uma faca afiada.
Tristemente, o rei então perguntou para a 3ª esposa:
— Eu também te amei tanto a vida inteira.
Agora que eu estou morrendo,
você é capaz de morrer comigo, para não me deixar sozinho?
— Não!!!, respondeu a 3ª esposa.
— A vida é boa demais!!!
Quando você morrer, eu vou é casar de novo.
O coração do rei sangrou e gelou de tanta dor.
Ele perguntou então à 2ª esposa:
— Eu sempre recorri a você quando precisei de ajuda,
e você sempre esteve ao meu lado. Quando eu morrer, você será capaz de morrer comigo, para me fazer companhia?
— Sinto muito, mas desta vez eu não posso fazer
o que você me pede! respondeu a 2ª esposa.
— O máximo que eu posso fazer é enterrar você!
Essa resposta veio como um trovão na cabeça do rei,
e mais uma vez ele ficou arrasado.
Daí, então, uma voz se fez ouvir:
— Eu partirei com você e o seguirei por onde você for...
O rei levantou os olhos e lá estava a sua 1ª esposa,
tão magrinha, tão mal nutrida, tão sofrida...
Com o coração partido, o rei falou:
— Eu deveria ter cuidado muito melhor de você enquanto eu ainda podia...
Na verdade, nós todos temos 4 esposas nas nossas vidas...
Nossa 4ª esposa é o nosso corpo.
Apesar de todos os esforços que fazemos para mantê-lo saudável e bonito, ele nos deixará quando morrermos...
Nossa 3ª esposa são as nossas posses, as nossas propriedades, as nossas riquezas. Quando morremos, tudo isso vai para os outros.

Nossa 2ª esposa são nossa família e nossos amigos.
Apesar de nos amarem muito e estarem sempre nos apoiando, o máximo que eles podem fazer é nos enterrar...
E nossa 1ª esposa é a nossa ALMA,
muitas vezes deixada de lado por perseguirmos,
durante a vida toda, a Riqueza, o Poder e os Prazeres do nosso Ego...
Apesar de tudo, nossa Alma é a única coisa que sempre irá conosco, não importa aonde formos...
Então... Cultive... Fortaleça...
Bendiga... Enobreça... sua Alma agora!!!
É o maior presente que você pode dar ao mundo...
e a si mesmo. Deixe-a brilhar!!!



Autoria desconhecida

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Peneiras da sabedoria



Meia-noite em ponto!
Mais uma jornada na construção do Templo terminara.
Cansado por mais um dia, Mestre Hiram recostou-se sob o frescor do Ébano para o tão merecido descanso. Eis que, subindo em sua direção, aproxima-se seu Mestre Construtor predileto, que lhe diz:
– Mestre Hiram... Vou lhe contar o que disseram do segundo Mestre Construtor...
Hiram com sua infinita sabedoria responde:
– Calma, meu Mestre predileto...
Antes de me contar algo que possa ter relevância, já  passou a informação pelas "Três Peneiras da Sabedoria?".
– Peneiras da Sabedoria??? Não, e
las não me foram mostradas, respondeu o predileto!
– Sim... Meu Mestre! Só não te ensinei, porque não era chegado o momento; porém, escuta-me com atenção: tudo quanto te disserem de alguém, passe antes pelas peneiras da sabedoria e na primeira, que é a da VERDADE, eu te pergunto:
– Tens certeza de que o que te contaram é realmente a verdade?
Meio sem jeito o Mestre respondeu:
– Bom, não tenho certeza realmente, só sei que me contaram...
Hiram continua:
– Então, se não tens certeza, a informação vazou pelos furos da primeira peneira e repousa na segunda, que é a peneira da BONDADE. E eu te pergunto:
– É alguma coisa que gostarias que dissessem de ti?
– De maneira alguma Mestre Hiram... Claro que não!
– Então a tua história acaba de passar pelos furos da segunda peneira e caiu nos furos da terceira e última; e te faço a última pergunta:
– Acha mesmo que tem utilidade passar adiante essa história sobre teu irmão e companheiro?
– Realmente Mestre Hiram, pensando com a luz da razão, não há necessidade...
– Então ela acaba de vazar os furos da terceira peneira, perdendo-se na imensa terra. Não sobrou nada para contar.
– Entendi poderoso Mestre Hiram. Então, somente  boas palavras terão caminho em minha boca.
– Agora você é um Mestre completo. Volta a teu povo e constrói seus templos, pois terminou seu aprendizado.


Autoria desconhecida

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Felicidades, Bertolt Brecht




O primeiro olhar da janela, de manhã
O velho livro perdido e reencontrado
Rostos animados
A neve, a sucessão das estações
Jornais
O cachorro
A dialética
Tomar banho, nadar um pouco
A música antiga
Sapatos macios
Compreender
A música nova
Escrever, plantar
Viajar, cantar
Ser camarada


Bertolt Brecht


Bertolt Brecht (1898-1956), nascido em Augsburgo. Escritor e dramaturgo alemão, além de grande teórico teatral. Desde menino escrevia poesias de forte conteúdo social. Foi perseguido pelos nazistas pelo seu comunismo militante.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Linda história chinesa



Uma velha senhora chinesa possuía dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.

Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito.
Este último estava sempre cheio de água ao fim da longa caminhada da torrente até a casa, enquanto aquele rachado chegava meio vazio.

Por longo tempo a coisa foi em frente assim, com a senhora que chegava em casa com somente um vaso e meio de água.

Naturalmente o vaso perfeito era muito orgulhoso do próprio resultado e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.

Depois de dois anos, refletindo sobre a própria amarga derrota, falou com a senhora durante o caminho: 
'Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que eu tenho me faz perder metade da água durante o caminho até a sua casa...'

A velhinha sorriu:

'Você reparou que lindas flores tem somente do teu lado do caminho? 
Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado e todo dia, enquanto a gente voltava, tu as regavas.

Por dois anos pude recolher aquelas belíssimas flores para enfeitar a mesa.
Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa.

Cada um de nós tem o próprio específico defeito. 
Mas o defeito que cada um de nós tem é que faz com que nossa convivência seja interessante e gratificante.

É preciso aceitar cada um pelo que é e descobrir o que tem de bom nele.'



Autoria desconhecida

domingo, 26 de agosto de 2012

Santuário, Emily Dickinson

pintura de Guilherme de Faria


Alguns guardam o Domingo indo à igreja
Eu o guardo ficando em casa
Tendo um sabiá como cantor
E um pomar por santuário.

Alguns guardam o Domingo em vestes brancas
Mas eu só uso minhas asas
E ao invés do repicar dos sinos na igreja
Nosso pássaro canta na palmeira.

É Deus que está pregando, pregador admirável.
E o Seu sermão é sempre curto.
Assim, ao invés de chegar ao céu, só no final,
Eu o encontro o tempo todo em meu quintal.


Emily Dickinson 

Emily Elizabeth Dickinson (Amherst, 10 de dezembro de 1830 - 15 de maio de 1886) foi uma poetisa americana, considerada moderna em vários aspectos da sua obra.



Original Poem

Some keep the Sabbath going to Church 


By Emily Dickinson
Some keep the Sabbath going to Church –
I keep it, staying at Home –
With a Bobolink for a Chorister –
And an Orchard, for a Dome –

Some keep the Sabbath in Surplice –
I, just wear my Wings –
And instead of tolling the Bell, for Church,
Our little Sexton – sings.

God preaches, a noted Clergyman –
And the sermon is never long,
So instead of getting to Heaven, at last –
I’m going, all along.

SourceThe Poems of Emily Dickinson Edited by R. W. Franklin (Harvard University Press, 1999)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Eu prometo a mim mesmo, Christian D. Larson





Ser tão forte que nada poderá atrapalhar minha paz de espírito.

Falar apenas de saúde, felicidade, e prosperidade para cada pessoa que eu encontrar.

Fazer todos os meus amigos sentirem que há algo de valor dentro deles.

Ver o lado positivo de tudo e fazer meu otimismo se tornar real.

Pensar apenas sobre o melhor, trabalhar apenas para o melhor e esperar apenas o melhor.

Ser tão entusiasmado com o sucesso dos outros quanto eu sou para o meu próprio sucesso.

Esquecer os enganos do passado e me concentrar apenas nas maiores realizações do futuro.

Vestir uma expressão de alegria todo o tempo e sorrir para toda criatura viva que eu encontrar.

Direcionar todo meu tempo para me melhorar de maneira a não sobrar tempo para criticar os outros.

Ser grande demais para preocupar-se, nobre demais para ter raiva, forte demais para ter medo, e feliz demais para permitir a presença de problemas.

Pensar o melhor de mim mesmo, e anunciar isso ao mundo, não em palavras ruidosas, mas sim em grandes ações.

Viver na fé de que o mundo inteiro está do meu lado, à medida em que sou sincero e verdadeiro quanto àquilo que há de melhor em mim.


Assim seja!

Christian D. Larson (1874 - 1962) era escritor americano, líder do Novo Pensamento e professor, e autor de livros pensamento metafísico e Nova.

O Credo de Otimista foi criado em 1912 por Chistian D. Larson, aparecendo em seu livro 'As suas forças e como usá-los'. Foi adotado como Credo Otimista Internacional, em 1922. 

Fonte: Blog ByNina


quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A cobra e o vagalume



Uma cobra estava perseguindo desesperadamente um vagalume.
E a cobra seguia o vagalume voando, voando... e ela se arrastando loucamente.
O vagalume cansado da perseguição, parou e falou para a cobra.
- Posso lhe fazer 3 perguntas?
A cobra respondeu:
- Sim
O vagalume, então perguntou:
- 1º - Por acaso eu faço parte da sua cadeia alimentar?
A cobra respondeu. - Não
- 2º - Eu te fiz alguma coisa?
A cobra respondeu. - Não.
- 3º - Então porque você está me perseguindo?
A cobra respondeu:
- A sua luz* me incomoda.


* Luz - moral da história - o brilho da pessoa, alegria, vida. Quem não é feliz, se incomoda com a alegria do próximo e faz de tudo para atrapalhar.

Autoria desconhecida

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A paz é possível, Yehuda Berg



Certa vez ouvi uma conversa entre pai e filho.
O filho perguntou ao pai: “Você acha que haverá paz no Oriente Médio?”
O pai respondeu: “Se você não consegue se entender com sua mãe, como pode esperar que palestinos e israelenses se entendam?”

Esse curto diálogo me fez pensar como a resposta simples do pai foi sábia e profunda...É fácil apoiar uma causa ou um movimento político, mas pode ser que causas e movimentos políticos sejam mais efetivos se apoiarmos a causa mais importante de todas: criar paz entre mim e todas as pessoas na minha vida.
A solução para a paz no mundo é abordar a causa raiz da fragmentação e da separação do mundo: nosso próprio comportamento intolerante uns com os outros. Se não formos intolerantes, críticos ou sarcásticos com os que nos cercam, certamente eles não o serão conosco!

Yehuda Berg, rabino e escritor. Vive atualmente em Los Angeles (EUA). 
A tradução do livro "O Caminho" no Brasil foi feita pelo judeu Shmuel Lemle. Estudou e se graduou professor de cabala no próprio Kabbalah Centre, com o rabino Berg e já traduziu outros livros sobre o assunto, entre eles, "O Poder da Cabala", de Yehuda Berg, irmão de Michael Berg e "Astrologia Cabalística, Imortalidade", do rabino Berg. 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

É triste não ter amigos? Voltaire




“É triste não ter amigos?
Ainda mais triste é não ter inimigos,
Porque, quem não tem inimigos,
É sinal de que não tem:
Nem talento que faça sombra,
Nem caráter que impressione,
Nem coragem para que o temam,
Nem honra contra qual murmurem,
Nem bens que lhe cobicem,
Nem coisa alguma que invejem…”


Voltaire

François-Marie Arouet (21 de Novembro de 1694, Paris - 30 de Maio de 1778, Paris), mais conhecido pelo pseudônimo Voltaire. Foi um escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.

Leia mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Voltaire

domingo, 19 de agosto de 2012

Árvore, Manoel Barros



"Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.

Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.

No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de

sol, de céu e de lua mais do que na escola.

No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo

mais do que os padres lhes ensinavam no internato.

Aprendeu com a natureza o perfume de Deus

seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul

E descobriu que uma casa vazia de cigarra esquecida

no tronco das árvores só serve pra poesia.

No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.

Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,

envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros

e tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.

Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore

porque fez amizade com muitas borboletas."


Manoel de Barros

Manoel Wenceslau Leite de Barros (Cuiabá, 19 de dezembro de 1916) é um poeta brasileiro do século XX, pertencente, cronologicamente à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, se situando mais próximo das vanguardas européias do início do século e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia de Oswald de Andrade. Recebeu vários prêmios literários, entre eles, dois Prêmios Jabutis. É o mais aclamado poeta brasileiro da contemporaneidade nos meios literários. Enquanto ainda escrevia, Carlos Drummond de Andrade recusou o epíteto de maior poeta vivo do Brasil em favor de Manoel de Barros. Sua obra mais conhecida é o "Livro sobre Nada" de 1996.

Fonte: Poesia completa, de Manoel de Barros - Editora Leya

Leia Mais:

sábado, 18 de agosto de 2012

O Segredo da Felicidade



Dizia-se que o sábio tinha o segredo da felicidade e que o guardava cuidadosamente em um cofre.
O rei mandou chamá-lo e lhe ofereceu muito dinheiro pelo cofre, mas o sábio simplesmente recusou a oferta, dizendo que era algo que o dinheiro não podia comprar.

Um dia, uma criança se apresentou diante do sábio.

- Sábio, por favor, ensine-me o segredo da felicidade.

Movido pela pureza e inocência da criança, o sábio lhe disse:
Preste muita atenção. A primeira coisa que você deve fazer é amar-se e respeitar-se e dizer a si mesmo todos os dias que você pode vencer todos os obstáculos que se apresentarem na sua vida. Isso se chama autoestima. A segunda que deve fazer é pôr em prática o que você diz e o que pensa. A terceira, é jamais invejar alguém pelo que ele tem ou é. Eles já alcançaram as suas metas, agora alcance as suas. A quarta, é jamais guardar rancor de ninguém no seu coração. A quinta, é não se apoderar do que não é seu. A sexta, é jamais maltratar alguém; todos os seres têm o direito de ser respeitados e queridos. E a última coisa que você deve fazer é acordar todos os dias com um sorriso e descobrir em todas as pessoas e em todas as coisas o seu lado positivo. Pense na sorte que você tem. Ajude a todos sem pensar no que poderá obter em troca e passe adiante o segredo da felicidade.

Autoria desconhecida




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Como um caçador de pérolas, Swami Paramananda


Escondida, lá no fundo, 
Jaz a pérola preciosa. 

Como um pescador de pérolas, 
Mergulha, 
Mergulha fundo! 

Como um pescador de pérolas, 
Sem esmorecer, 
Teima, teima mais uma vez 
E procura! 

Os que ignoram o teu segredo 
Zombarão de ti 
E ficarás triste. 
Mas não desanimes, 
Pescador de pérolas! 

A pérola mais valiosa lá está, 
Escondida bem no fundo. 
A tua fé te guiará 
Até o tesouro 
E fará com que seja, enfim, revelado 
O que estava escondido. 

Mergulha fundo, 
Mergulha mais fundo ainda, 
Como um pescador de pérolas 
E procura, 
Procura sem te cansar! 

Swami Paramananda, Índia, séc. XIX 

(1884-1940) foi um dos primeiros índios professores que vieram para os Estados Unidos para divulgar a Vedanta filosofia e religião na América. Ele era um místico, um poeta e um inovador na vida em comunidade espiritual.

Leia mais: http://translate.google.com/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=http://en.wikipedia.org/wiki/Swami_Paramananda_(Ramakrishna_Mission)&prev=/search%3Fq%3DSw%25C3%25A2mi%2BParamananda%26hl%3Dpt-BR%26rlz%3D1C1AVSX_en___BR421%26prmd%3Dimvnsb&sa=X&ei=VAAsUMzyKILK9QTgqoGgAw&ved=0CF4Q7gEwAA

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sobre Simplicidade e Sabedoria, Rubem Alves



Pediram-me que escrevesse sobre simplicidade e sabedoria. Aceitei alegremente o convite sabendo que, para que tal pedido me tivesse sido feito, era necessário que eu fosse velho.

Os jovens e os adultos pouco sabem sobre o sentido da simplicidade. Os jovens são aves que voam pela manhã: seus vôos são flechas em todas as direções. Seus olhos estão fascinados por 10.000 coisas. Querem todas, mas nenhuma lhes dá descanso. Estão sempre prontos a de novo voar. Seu mundo é o mundo da multiplicidade. Eles a amam porque, nas suas cabeças, a multiplicidade é um espaço de liberdade. Com os adultos acontece o contrário. Para eles a multiplicidade é um feitiço que os aprisionou, uma arapuca na qual caíram. Eles a odeiam, mas não sabem como se libertar. Se, para os jovens, a multiplicidade tem o nome de liberdade, para os adultos a multiplicidade tem o nome de dever. Os adultos são pássaros presos nas gaiolas do dever. A cada manhã 10.000 coisas os aguardam com as suas ordens (para isso existem as agendas, lugar onde as 10.000 coisas escrevem as suas ordens!). Se não forem obedecidas haverá punições.

No crepúsculo, quando a noite se aproxima, o vôo dos pássaros fica diferente. Em nada se parece com o seu vôo pela manhã. Já observaram o vôo das pombas ao fim do dia? Elas voam numa única direção. Voltam para casa, ninho. As aves, ao crepúsculo, são simples. Simplicidade é isso: quando o coração busca uma coisa só.

Jesus contava parábolas sobre a simplicidade. Falou sobre um homem que possuía muitas jóias, sem que nenhuma delas o fizesse feliz. Um dia, entretanto, descobriu uma jóia, única, maravilhosa, pela qual se apaixonou. Fez então a troca que lhe trouxe alegria: vendeu as muitas e comprou a única.

Na multiplicidade nos perdemos: ignoramos o nosso desejo. Movemo-nos fascinados pela sedução das 10.000 coisas. Acontece que, como diz o segundo poema do Tao-Te-Ching, “as 10.000 coisas aparecem e desaparecem sem cessar.“ O caminho da multiplicidade é um caminho sem descanso. Cada ponto de chegada é um ponto de partida. Cada reencontro é uma despedida. É um caminho onde não existe casa ou ninho. A última das tentações com que o Diabo tentou o Filho de Deus foi a tentação da multiplicidade: “Levou-o ainda o Diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a sua glória e lhe disse: ‘Tudo isso te darei se prostrado me adorares.’“ Mas o que a multiplicidade faz é estilhaçar o coração. O coração que persegue o “muitos“ é um coração fragmentado, sem descanso. Palavras de Jesus: “De que vale ganhar o mundo inteiro e arruinar a vida?“ (Mateus 16.26).

O caminho da ciência e dos saberes é o caminho da multiplicidade. Adverte o escritor sagrado: “Não há limite para fazer livros, e o muito estudar é enfado da carne“ (Eclesiastes 12.12). Não há fim para as coisas que podem ser conhecidas e sabidas. O mundo dos saberes é um mundo de somas sem fim. É um caminho sem descanso para a alma. Não há saber diante do qual o coração possa dizer: “Cheguei, finalmente, ao lar“. Saberes não são lar. São, na melhor das hipóteses, tijolos para se construir uma casa. Mas os tijolos, eles mesmos, nada sabem sobre a casa. Os tijolos pertencem à multiplicidade. A casa pertence à simplicidade: uma única coisa.

Diz o Tao-Te-Ching: “Na busca do conhecimento a cada dia se soma uma coisa. Na busca da sabedoria a cada dia se diminui uma coisa.“

Diz T. S. Eliot: “Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?“

Diz Manoel de Barros: “Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar. Sábio é o que adivinha.“

Sabedoria é a arte de degustar. Sobre a sabedoria Nietzsche diz o seguinte: “A palavra grega que designa o sábio se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o degustador, sisyphus, o homem do gosto mais apurado. “A sabedoria é, assim, a arte de degustar, distinguir, discernir. O homem do saberes, diante da multiplicidade, “precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer preço.“ Mas o sábio está à procura das “coisas dignas de serem conhecidas“. Imagine um bufê: sobre a mesa enorme da multiplicidade, uma infinidade de pratos. O homem dos saberes, fascinado pelos pratos, se atira sobre eles: quer comer tudo. O sábio, ao contrário, para e pergunta ao seu corpo: “De toda essa multiplicidade, qual é o prato que vai lhe dar prazer e alegria?“ E assim, depois de meditar, escolhe um...

A sabedoria é a arte de reconhecer e degustar a alegria. Nascemos para a alegria. Não só nós. Diz Bachelard que o universo inteiro tem um destino de felicidade.

O Vinícius escreveu um lindo poema com o título de “Resta...“ Já velho, tendo andado pelo mundo da multiplicidade, ele olha para trás e vê o que restou: o que valeu a pena. “Resta esse coração queimando como um círio numa catedral em ruínas...“ “Resta essa capacidade de ternura...“ “Resta esse antigo respeito pela noite...“ “Resta essa vontade de chorar diante da beleza...“. Vinícius vai, assim, contando as vivências que lhe deram alegria. Foram elas que restaram.

As coisas que restam sobrevivem num lugar da alma que se chama saudade. A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou. Aprovadas foram as experiências que deram alegria. O que valeu a pena está destinado à eternidade. A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo. É para isso que necessitamos dos deuses, para que o rio do tempo seja circular: “Lança o teu pão sobre as águas porque depois de muitos dias o encontrarás...“ Oramos para que aquilo que se perdeu no passado nos seja devolvido no futuro. Acho que Deus não se incomodaria se nós o chamássemos de Eterno Retorno: pois é só isso que pedimos dele, que as coisas da saudade retornem.

Ando pelas cavernas da minha memória. Há muitas coisas maravilhosas: cenários, lugares, alguns paradisíacos, outros estranhos e curiosos, viagens, eventos que marcaram o tempo da minha vida, encontros com pessoas notáveis. Mas essas memórias, a despeito do seu tamanho, não me fazem nada. Não sinto vontade de chorar. Não sinto vontade de voltar.

Aí eu consulto o meu bolso da saudade. Lá se encontram pedaços do meu corpo, alegrias. Observo atentamente, e nada encontro que tenha brilho no mundo da multiplicidade. São coisas pequenas, que nem foram notadas por outras pessoas: cenas, quadros: um filho menino empinando uma pipa na praia; noite de insônia e medo num quarto escuro, e do meio da escuridão a voz de um filho que diz: “Papai, eu gosto muito de você!“; filha brincando com uma cachorrinha que já morreu (chorei muito por causa dela, a Flora); menino andando à cavalo, antes do nascer do sol, em meio ao campo perfumado de capim gordura; um velho, fumando cachimbo, contemplando a chuva que cai sobre as plantas e dizendo: “Veja como estão agradecidas!“ Amigos. Memórias de poemas, de estórias, de músicas.

Diz Guimarães Rosa que “felicidade só em raros momentos de distração...“ Certo. Ela vem quando não se espera, em lugares que não se imagina. Dito por Jesus: “É como o vento: sopra onde quer, não sabes donde vem nem para onde vai...“ Sabedoria é a arte de provar e degustar a alegria, quando ela vem. Mas só dominam essa arte aqueles que têm a graça da simplicidade. Porque a alegria só mora nas coisas simples. (Concerto para corpo e alma, pg. 09.) 


Rubem Alves, (Boa Esperança - MG, 15 de setembro de 1933) é um psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e artigos abordando temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de livros infantis.

Fonte: http://www.rubemalves.com.br/sobresimplicidadeesabedoria.htm

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Viagens, Luiz Carlos Lisboa


"Quanto mais longe viajamos, menos conhecemos", dizia Lao-Tsé. A ideia muito divulgada de que é preciso ir longe para alcançar a essência das coisas, ou o transcendental, nasceu do conceito segundo o qual somente através do esforço conseguimos qualquer coisa. Tudo tem seu valor, tudo tem seu preço, imagina o homem que passa a vida inteira lutando para sobreviver. A conquista da fortuna pode ser assim – embora nem sempre seja -, mas a conquista do conhecimento e da sabedoria, segundo Santo Agostinho, Nicolau de Cusa, Mestre Eckhart*, Willian Law, Fénelon, Ansari de Herat, Pascal, Benet de Canfield e o Bhagavad Gita, a conquista da sabedoria não passa absolutamente pelo esforço, pela rigidez, pelo empreendimento duradouro ou pela busca incansável.

Esse é dos capítulos fascinantes da história das religiões, e parte importante do estudo sobre o comportamento humano. Mestre Eckhart repetia com método e tranquilidade: "Afirmo e sempre afirmarei que já possuo tudo que me foi concedido na eternidade, pois Deus, na plenitude de sua divindade, mora eternamente em sua imagem, a alma". Esse tipo de mensagem afirma, através dos séculos, que o homem não precisa sair de onde está para realizar-se integralmente.

Isso não sugere a morte em vida, obviamente, nem qualquer forma do imobilismo tão odiado pelos hiper-ativos que controlam – ou julgam controlar – a sociedade humana, suas maravilhas e seus horrores. No "não ir a parte alguma" está contido, apenas, o "ficar para não fugir todo tempo."


A razão pela qual "quanto mais longe viajamos, menos conhecemos" está embutida no fato de empreendermos viagens inúteis simplesmente para não ficar onde estamos. Isso não se refere apenas às viagens reais, mas ao ir e vir de cada dia, dentro de casa ou no serviço, a pretexto de mil puerilidades que executamos com imensa gravidade. Por que ir lá aprender alguma coisa, se recusamos todo aprendizado aqui e agora, na modéstia deste minuto e desta circunstância?

Empreender uma caminhada equivale a adiar o que deve ser feito imediatamente – melhor dizendo, o que só pode ser feito imediatamente, não depois, pouco adiante ou mais tarde. Caminhar, viajar, proporcionam prazer e são em si inofensivos. O problema está naquilo que fazemos com esse pretexto, ou naquilo que deixamos de fazer porque estamos mudando simplesmente de lugar.


É ainda Mestre Eckhart quem aconselha: "Levante-se, a alma nobre. Calce seus leves sapatos, que são a intuição e o amor, e salte por cima da idolatria de si mesmo, salte sobre todos os seus esforços, diretamente no coração de Deus, naquele coração onde estará oculta de todos". A tradição renana usa constantemente esse simbolismo do movimento para indicar precisamente aquilo que se obtém com “um movimento do coração”. Essas referências hoje são mais difíceis de compreender que nunca, porque é o século de ação e de movimento – em círculos.

Tudo o que sugere ficar, aborrece e entedia. Talvez fosse mais exato dizer: desperta um indefinido temor toda forma de permanência. A palavra de ordem não é inovar? A onda cultural e sua força inconcebível arrasta toda dúvida e sepulta qualquer meditação mais demorada. A época é de certezas, de decisões rápidas, de conceitos formados, de ideias prontas. O que já não vem embalado e rotulado levanta suspeitas, semeia antipatias.

Viajar para aprender é um antigo mito. O prazer inofensivo de percorrer terras não mereceria comentários se não se tornasse um biombo, em alguns casos, atrás do qual nos escondemos. "Descansamos" do que somos, sem conhecer o que somos. Deixamos tudo para trás, compromissos, conceitos, coerência. Não há lugar para culpa, em tudo isso. É bastante ver o que fazemos, quando fazemos e como fazemos.

Esse é um aprendizado insubstituível, que não pode ser encontrado nos livros, nos museus ou nas conferências. Não aprendemos em algum outro lugar, aprendemos neste lugar aqui, onde estamos no instante em que nos surpreendemos pensando nisso. Há uma frase de Caussade que resume tudo: "Faça o que está fazendo agora, sofra o que está sofrendo agora. Faça tudo com simplicidade, nada precisa ser mudado, a não ser seu coração". Acrescentar qualquer outra coisa a isso equivale a mudar o que não precisa ser mudado, deixando de conhecer (mudar) precisamente o coração.

Para não mudar interiormente, mudamos de lugar no espaço. A inquietação do habitante do século XX é proverbial. As mãos, os olhos, os pés, viajam todo o tempo, e a atenção está permanentemente dividida. Mudar interiormente não exigiria movimento, a não ser o da percepção, um fluir muito peculiar. Permanecer, como diz Caussade, para compreender.

O que parece complexo é extremamente simples, embora não seja comum. O que parece obscuro é absurdamente claro, embora não seja familiar. O que parece fácil de ser rotulado não pode receber uma designação satisfatória. A imobilidade atenta (não confundir com imobilismo) é um estado de alerta do qual não está excluída a tranqüilidade. O espírito é ágil e não conhece nenhuma forma de esforço ou cansaço.

Não há evasão, não há impulsos subterrâneos agindo ocultamente.
Apenas a permanência naquilo que fazemos, única forma de conhecer aquele que pretende ser o conhecedor do mundo. E nisso tudo não há nada de milagroso, de espetacular, de místico ou de sobrenatural. Para citar pela ultima vez, uma frase de Ansari de Herat: "Andar sobre a água? Uma palha faz melhor. Voar até as nuvens? Um pássaro faz melhor. Conquiste seu coração, e você fará alguma coisa que somente você faz bem".

Luiz Carlos Lisboa

*Mestre Eckhart
místico renomado do século XIV.

Fonte
: O SOM DO SILÊNCIO, Luiz Carlos Lisboa. Ed. Verus. 1ª edição 2004. 116 páginas.


Luiz Carlos Lisboa (Rio de Janeiro, 22 de dezembro de 1929) é um escritor e jornalista brasileiro (Jornal do Brasil e O Estado de S.Paulo).

Autor de cerca de 40 obras, entre ensaios, contos, uma trilogia (romance), traduções, cinco guias literários e livros de entrevistas com artistas e intelectuais brasileiros do nosso tempo. Ganhou o Prêmio Jabuti de Literatura em 1973. Desde 1992 é membro da Academia Paulista de Letras (cadeira nº 6). Jurado, por quatro vezes, do Prêmio Esso de Jornalismo.

Lisboa reside há dezessete anos em Princeton, nos Estados Unidos da América, onde já foi correspondente de jornais brasileiros. Atualmente faz ali palestras e organiza cursos de cultura geral,inclusive os de História da Literatura e de Crítica Literária Brasileira, na Brazilian Endowment For The Arts, e lectures no City College of New York. Seu livro mais recente, O Som do Silêncio, foi traduzido pela Obelisco Ediciones de Barcelona, Espanha, e está sendo distribuído também para países de fala hispânica. Sua tradução de A Nuvem do Desconhecimento, um clássico anônimo inglês do misticismo medieval, foi publicado em 2007 pela Lótus do Saber, uma editora do Rio. Ele também traduziu as poesias e textos poéticos da editio princeps do livro "Autobiografia de um Iogue". Lisboa é autor de uma trilogia sob o título geral de "Memórias de um Gato", uma coletânea de contos ("Ante-Sala"), livros de ensaios e de artigos ("A Arte de Desaprender", "Olhos de Ver, Ouvidos de Ouvir" e "Jejum do Coração"), além de guias de leitura ("Pequeno Guia da Literatura Universal"), tendo ainda organizado quase duas dezenas de biografias de contemporâneos para a Editora Rio. Ele entregou em 2010 a uma editora de São Paulo um romance de cunho autobiográfico ("Oito Vezes Samsara"), e tem em preparo um novo romance ("Flora"), bem como um ensaio sobre a vida e a obra de Mestre Eckhart, místico renomado do século XIV.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O poder de um gesto, Jadir Albino



Um executivo foi a uma palestra e ouviu um grande tribuno falar sobre o maior bem da vida que é a paz interior. Podemos tê-la em qualquer lugar, sozinhos ou acompanhados.
Pois o executivo resolveu fazer uma experiência. Pegou cinco belas flores e saiu com elas pela rua, em plena cidade de São Francisco, na Califórnia. Logo notou que as cabeças se viravam e os sorrisos se abriam para ele. Chegou ao estacionamento e a funcionária da caixa elogiou o seu pequeno buquê. Ela quase caiu da cadeira quando ele disse que podia escolher uma flor.

Segundos depois, ele se aproximou de outra mulher, que não assistira à cena anterior, e ela falou do perfume que ele trazia ao ambiente. Ele lhe ofereceu uma flor. Espantada e feliz com o inesperado, saiu dali quase a flutuar. Afinal, quem distribui flores perfumadas numa garagem pública quase deserta, num domingo, perto das 22 horas?

Completamente embriagado pela magia daqueles momentos, ele entrou num restaurante. Uma garçonete com ar de preocupação foi atendê-lo. Ele percebeu que as flores mexeram com ela. Como se sentia com poderes especiais para fazer os outros felizes, depois das duas experiências anteriores, ele deu a ela uma flor e um botão por abrir e disse que cuidasse bem dele, pois, ao desabrochar, lhe traria uma mensagem de amor.

Dias depois ele voltou ao restaurante. A garçonete sorriu para ele com ar de quem tinha encontrado a fórmula da felicidade e falou:

—A flor abriu. A mensagem era linda. Muito obrigada.

O executivo sorriu também. Sentia-se um mágico: com flores, amor no coração e uma mensagem positiva, inventada ao sabor do momento, produziam alegria. Tão simples que até parecia irreal.

Na manhã seguinte, ele precisava abrir um portão para passar com o carro. Surgida nem se sabe de onde, uma sorridente mulher desconhecida que passava correndo o abriu e fechou para ele, espontaneamente. Ele compreendeu que havia uma harmonia universal ao seu dispor. Bastava que a buscasse. E recomenda: "Tente você também, desinteressadamente. Dá certo e a recompensa é doce!" 

[de José L. Emerim, com base em texto de Divaldo P. Franco]

Se você é daquelas pessoas que vive correndo, com pressa, pense um momento: "Por que a pressa? Vai salvar o mundo? Salve este momento vivendo-o com amor ao próximo e a si mesmo. Seja mensageiro da luz, distribuindo flores em vez de espinhos."

Pense em algo diferente, surpreendente que você possa fazer para melhorar o ambiente do seu lar, do seu local de trabalho. Já pensou em colocar a sua mesa mais perto da janela, para ser beijado pelo sol, enquanto você trabalha? Isto é amor a você mesmo. Já pensou em levar flores para sua casa e as colocar na sala, perfumando o ambiente, alegrando a todos? Isto é amor ao próximo.

A flor é apenas uma metáfora, cabe a cada um de nós encontrarmos uma maneira de levar "um carinho especial" e transbordar o ambiente de convívio em harmonia, paz e felicidade. A felicidade só é plena quando o próximo também está feliz. Como podemos perceber, a felicidade consiste em cada um contentar-se com o que tem e fazer da sua felicidade a alegria dos outros.

Quando Jesus afirmou que a felicidade não é deste mundo, referiu-se à felicidade sem mescla, à felicidade plena. Todavia, podemos viver com alegria, valorizando as coisas que temos e as conquistas morais que já logramos, sem infelicitar-nos com o que não possuímos e não está ao nosso alcance.


Jadir Albino, Professor universitário e apresentador do Programa Fronteiras da Ciência (TV Santa Cecília), está ao vivo todos os domingos aproximando o telespectador de fatos polêmicos que envolvem a chamada ciência paralela ou informal.

Leia outros textos neste link:

http://www.jornaldaorla.com.br/perfil-colunista.asp?autor=23

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Meditação, Mirna Grzich

Awakening, Art by Arlena Willow


Meditação não é uma jornada no espaço, nem uma jornada no tempo: é um despertar ins-tan-tâ-neo. Meditação é um estado de não-mente. É um trá­fego constante na mente: pensamentos, desejos, memórias, ambições... Mesmo quando você dorme, a mente está funcionando, sonhando... com preocupações e ansiedade. A meditação é exatamente o oposto: quando o tráfego cessa e não há mais pensamentos se movendo, e desejos agitando você; a meditação é quando você fica – totalmente - silencioso; este silêncio é meditação! Nesses momentos de tranqüilidade, você sabe quem você é e conhece o mistério desta vida. Para isso, você tem que colocar a mente de lado, ir além da mente.

A meditação é um estado natural que foi perdido, vamos recuperá-lo! Vamos recuperar nossa inocência, nossa integridade, nossa memória; você apenas esqueceu.

Tire o telefone do gancho, apague a luz, mande dizer que você está ocupado, meditando. Preste atenção à sua respiração, ao seu corpo, às suas células... Dance quando tiver vontade, mas dance inteiramente. Cante se tiver von­tade, mas entregue-se ao canto. Sente-se, ou deite-se, quando sentir que é hora. Entre no seu coração, descubra seus mistérios. Ria, chore, silencie... respire... Em algum momento o milagre pode acontecer: você encontrando a si mesmo, descobrindo a essência do seu ser, deleitado com sua própria pre­sença... Boa viagem!
Transcrito da locução da Mirna no CD da revista Planeta Meditação Nº 1, de jan/98. Adaptaçao livre. 
 Mirna Grzich, Jornalista visionária, comunicadora e terapeuta, Mirna Grzich é uma referência quando o assunto é música, bem-estar, qualidade de vida, consciência e transformação na cultura da sociedade. É considerada uma estudiosa do tema Transcendência. Pioneira, trouxe para o Brasil a música new age, num programa semanal, o "Música da Nova Era", que foi transmitido pelas rádios Eldorado FM de São Paulo, Jornal do Brasil AM e Globo FM do Rio de Janeiro, e Guarany FM de Belo Horizonte. Um programa que, por 10 anos, marcou época nos corações e mentes de milhares de ouvintes. Antes, nos anos 80, viveu por 6 anos na Califórnia, quando estudou no Esalen Institute, importante centro de terapia humanística do planeta, e aprendeu sobre as diversas vertentes da Psicologia Transpessoal e das Tradições Espirituais,

Iniciou-se nas grandes tradições do mundo quando esteve com mestres espirituais como Osho, Krishnamurti, Chagdud Tulku Rimpoche. Especializou-se no estudo das tradições espirituais do Oriente e Ocidente. Conheceu o físico Fritjof Capra, o médico indiano Deepak Chopra, e ajudou a trazer o Dalai Lama ao Brasil para a Eco-92.

Em 1995, escreveu a obra "Anjos, tudo que você queria saber", 20 fascículos acompanhados de fitas de meditação, uma obra bem humorada sobre a presença dos anjos nas nossas vidas, que alcançou 2 milhões de exemplares vendidos em bancas de jornais em todo o Brasil. Muitos terapeutas e clínicas usam essas fitas até hoje, para seus pacientes, falando da cura, do perdão, da vida e da morte.


Realizou a conferência "Imaginária 95 - Arte, Ciência, Economia e Espírito numa Visão de Futuro", em São Paulo, em parceria com o SESC, quando trouxe ao Brasil o astronauta Edgar Mitchell, o físico Peter Russell, a bióloga evolucionista Elisabet Sahtouris, entre 20 conferencistas internacionais, juntamente com Amir Klink, Gilberto Gil e outros que participaram de uma conferência visionária e inspiradora.

Lançou em 97 o primeiro CD de Relaxamento e Meditação feito aqui: Relaxando e Meditando com Mirna Grzich, pela gravadora Eldorado. Em 1998, Mirna criou uma revista mensal - "Meditação - corpo/alma/casa/espírito", sempre acompanhada de CDs, que se transformou num verdadeiro "case" editorial. Faz parte, como membro filiada, da World Business Academy, Noetic Sciences Institute e Willis Harman House. 

domingo, 12 de agosto de 2012

Armado de Amor, Thiago de Mello



Venho armado de amor para trabalhar cantando a construção da manhã. 
Amor dá tudo o que tem. 
Reparto a minha esperança e planto a clara certeza da vida nova que vem. 
Um dia, a Cordilheira Chilena em fogo, quase calou para sempre o meu coração de companheiro. 
Mas atravessei o incêndio e continuo a cantar. 
Ganhei sofrendo a certeza de que o mundo não é só meu. 
Mais que viver, o que importa antes que a vida apodreça é trabalhar na mudança de que é preciso mudar. 
Cada um na sua vez, cada qual no seu lugar. 


Thiago de Mello

Amadeu Thiago de Mello (Barreirinha - AM, 30 de março de 1926) é um poeta brasileiro.
Natural do Estado do Amazonas, é um dos poetas mais influentes e respeitados no pais, reconhecido como um ícone da literatura regional.
Tem obras traduzidas para mais de trinta idiomas. Preso durante a ditadura (1964-1985), exilou-se no Chile, encontrando em Pablo Neruda um amigo e colaborador. Um traduziu a obra do outro e Neruda escreveu ensaios sobre o amigo.
Publicou mais de 50 livros entre os quais: Silêncio e Palavra, Narciso Cego, Estatuto do Homem, Faz Escuro Mas Eu Canto, Num Campo de Margaridas e outros. 

Saiba mais:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Thiago_de_Mello

Printfriendly