sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Dois poemas de um Ashram na Índia, Elizabeth Gilbert



Escrevi estes dois poemas durante meus quatro meses na Índia. Escrevi o primeiro quando fazia apenas um mês que estava aqui. O outro foi escrito no último dia.
No espaço entre os dois poemas, encontrei hectares e mais hectares de graça.

Primeiro

Todo esse papo de néctar e contentamento está começando a me irritar.
Não sei quanto a você, amigo,
mas o meu caminho até DEUS não é uma nuvem aromática de incenso.
É um gato solto em uma gaiola de pombos,
e eu sou o gato - mas também sou os pombos a se esgoelarem quando são pegos.

Meu caminho para DEUS é uma revolta operária,
não haverá paz até que se crie um sindicato.
Seu piquete é tão feroz,
que nenhuma polícia chega perto.

Meu caminho foi aberto inconscientemente à minha frente
por um homenzinho de pele escura que nunca cheguei a ver,
que perseguiu DEUS pela Índia, chapinhando na lama,
descalço e faminto, com malária no sangue,
dormindo em vãos de porta, debaixo de pontes - um errante.
(Mas que, ao mesmo tempo, estava a caminho de casa.)
E ele agora me persegue, perguntando: "Entendeu agora, Liz? O que significa CASA? O que e de fato A CAMINHO?"



SEGUNDO

Porém.
Se me deixassem usar calças feitas com a
grama recém-cortada deste lugar,
eu o faria.

Se me deixassem agarrar
cada um dos eucaliptos do Bosque de Ganesh,
eu juro que o faria.

Passei esses dias suando orvalho,
chapinhando a borra,
esfregando o queixo na casca das árvores,
pensando serem as pernas do meu mestre.

Não consigo entrar o suficiente.

Se me deixassem comer o chão deste lugar
servido em um leito de ninhos de pássaros,
eu comeria só metade do prato,
e depois passaria a noite inteira dormindo no resto.



Fonte: trecho extraído do livro "Comer, rezar, amar" de Elizabeth Gilbert, págs. 218 e 219. 

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