terça-feira, 26 de março de 2013

Desenho, Cecília Meireles


Cecília Meireles em Lisboa. Desenho de seu primeiro marido, 
Fernando Correia Dias.



Traça a reta e a curva,
a quebrada e a sinuosa
Tudo é preciso.
De tudo viverás.

Cuida com exatidão da perpendicular
e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo,
Traçarás perspectivas, projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão.
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.

Construirás os labirintos impermanentes
que sucessivamente habitarás.

Todos os dias estás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a
[vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que
[pensávamos.
Raramente, um pouco mais.



Cecília Meireles, in "O estudante empírico", em Antonio Carlos Secchin (org.), Poesia Completa.Tomo II. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001, p, 1455-56.



Cecília Benevides de Carvalho Meireles (Tijuca, Rio de Janeiro, 7 de novembro de 1901 — Rio de Janeiro, 9 de novembro de 1964) foi uma poetisa, pintora, professora e jornalista brasileira. É considerada uma das vozes líricas mais importantes das literaturas de língua portuguesa.


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http://pt.wikipedia.org/wiki/Cec%C3%ADlia_Meireles

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