terça-feira, 27 de agosto de 2013

A serenata, Adélia Prado

Tela em Acrílico: "Fada" - 80 x 80cmLuiz Henrique


Uma noite de lua pálida e gerânios
ele viria com boca e mão incríveis
tocar flauta no jardim. 
Estou no começo do meu desespero 
e só vejo dois caminhos:
ou viro doida ou santa.
Eu que rejeito e exprobo
o que não for natural como sangue e veias
descubro que estou chorando todo dia,
os cabelos entristecidos,
a pele assaltada de indecisão. 
Quando ele vier, porque é certo que vem,
de que modo  vou chegar ao balcão sem juventude?
A lua, os gerânios e ele serão os mesmos
- só a mulher entre as coisas envelhece.
De que modo vou abrir a janela, se não for doida?
Como a fecharei, se não for santa?

Adélia Prado

Inspirado neste poema, Martha Medeiros escreveu o livro "Doidas e Santas" e posteriormente adaptou para o teatro.

Pintura de Luiz Henrique
https://www.facebook.com/ArteDaNovaEnergia

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