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Este é um texto sobre felicidade, portanto,
um texto sobre moda. Sejamos felizes! Se acaso sentir um vazio no peito, não
importa, caminhe rumo ao sol e encontre sua luz interior, você brilhará e sua
vida será repleta de alegrias, como a de todo mundo! Sim! Por que todo mundo é
feliz, principalmente nas redes sociais. Você pode até ficar triste e se expor no
Facebook, mas saiba que isto não está com nada... Se você sentir algo dentro de
peito, talvez um aperto, solidão, fuja rapidinho, esconda-se, pois a vida é dos
alegres e fortes! Dos vencedores! Dê um jeito, leia autoajuda, invente algo:
cada um com seu “soma” (o remedinho fictício de Aldous Huxley serviria muito
bem hoje em dia, seria o mais vendido nas farmácias).
O caso é que esta onda fashion de felicidade é irritante e bastante prejudicial. Muitas
vezes está imbuída de falsa lógica, levando muitos, até mesmo, ao sentimento de
culpa por não estarem felizes, alegres e radiantes. Essa atitude de obrigação
diante de uma subjetividade que tenta ser explicada desde antes de Aristóteles,
talvez, e que ainda não conseguimos conceber o que seja em poucos
significantes, acaba se tornando apenas mais uma peça, um pino a mais na
cansativa engrenagem, a que somos obrigados a manter girando em nosso
dia-a-dia.
Nossa vida é assim, acordar cedo, ir para o
trabalho, intervalo para alimentar-se, limpar-se, trabalho, comer, limpar-se,
dormir, comer, trabalho... Assim giram as manivelas da existência humana. Nesse
compasso quase ininterrupto (pois há os finais de semana), todo homem ou mulher
que reflete, hora ou outra, irá parar e perguntar para si: qual a razão de tudo
isso? – Quem já leu “O estrangeiro”, de Albert Camus, conhece este
questionamento. Momento de pausa. A máquina estanque pode ser contemplada. Com
isso, é possível perceber os que continuam fazendo-a funcionar, os que também
vão parando por um breve instante de consciência e os que se negam a fazer questionamentos.
Isso porque muitos se dizem felizes o tempo todo, por que assim indica o
merchandising que os cerca. É impossível
não se sentir um estrangeiro no mundo nessa situação, é impossível não nos
sentirmos sós.
Mas nossos momentos de reflexão são
importantes. Eles nos permitem que sejamos verdadeiros malabaristas. Contamos
com os outros, queremos que por um momento eles possam parar e dividir conosco
as ansiedades, os medos, os vazios, as paixões, os amores, os fluxos de
intensidades de nossas existências, todas únicas. Nessa troca, também para os
outros, somos um outro, repleto de cosmos, de pulsação. É impossível estarmos
felizes o tempo todo, sendo que apaziguarmos nosso coração para com o que
sentimos é a melhor forma de caminharmos.
A dor pode ser, também, um privilégio. Através das adversidades e dos
sofrimentos, tornamo-nos mais humildes e mais compreensivos, paramos para
contemplar a vida e pensar sobre ela. Nos momentos de dificuldades, vemos o
quanto precisamos uns dos outros. Isto é o que importa. Tentarmos estar juntos,
com lágrimas nos olhos, ou não, é nossa grande batalha cotidiana, a mais importante.
Não há como saber o que é realmente a
felicidade. Os momentos de alegria parecem não durar tanto quanto esperávamos,
mas vale saber que podemos contar com uma beleza fundamental de nossa natureza
humana: por baixo das máscaras de cada um de nós, somos todos pierrôs, eternos
aprendizes das alegrias e tristezas.
Estamos repletos de peripécias malabares para burlar os mecanismos de
produção de emoção em série, como querem alguns escritores de autoajuda, que se
dizem portadores da felicidade total, como querem os propagandistas de uma
felicidade artificializada e vazia...
Todo clown** já derramou uma lágrima, que ao invés de
sufocar o riso, concedeu-lhe razão eterna. Assim, podemos deixar de lado essa
ânsia de nos escondermos ou “enfeitarmos” nossos momentos “não felizes”. Caminhar rumo ao sol é importante, mas não é preciso
negar a paixão que nos joga na tempestade...
Fonte: http://hangingselves.blogspot.com.br/2013/03/nao-sei-de-onde-veio-mas-veio.html?spref=fb
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