domingo, 6 de março de 2016

Ode ao dia feliz, Pablo Neruda





Desta vez deixa-me
ser feliz,
nada aconteceu com ninguém,
não estou em lugar nenhum,
acontece somente
que sou feliz
pelos quatro costados
do coração, andando,
dormindo ou escrevendo.
O que é que eu posso fazer, sou
feliz.
Sou mais incontável
que o pasto
nas pradarias,
sinto a pele como uma árvore rugosa,
e água por baixo,
os pássaros acima,
o mar como um anel
na minha cintura,
feita de pão e pedra a terra
O ar canta como uma guitarra.
Tu ao meu lado na areia
és areia,
cantas e és canto,
o mundo
é hoje minha alma,
canto e areia,
o mundo
hoje é tua boca,
deixa-me
na tua boca e na areia
ser feliz,
ser feliz porque sim, porque respiro
e porque respiras,
ser feliz porque toco
teu joelho
e é como se tocasse
a pele azul do céu
e seu frescor.
Hoje deixa-me
só a mim
ser feliz,
com todos ou sem todos,
ser feliz
com o pasto
e a areia,
ser feliz
com o ar e a terra,
ser feliz,
contigo, com tua boca,
ser feliz.
Pablo Neruda

Tradução Jorge Pontual


Original

Oda al día feliz


ESTA vez dejadme

ser feliz,
nada ha pasado a nadie,
no estoy en parte alguna,
sucede solamente
que soy feliz
por los cuatro costados
del corazón, andando,
durmiendo o escribiendo.
Qué voy a hacerle, soy
feliz.
Soy más innumerable
que el pasto
en las praderas,
siento la piel como un árbol rugoso
y el agua abajo,
los pájaros arriba,
el mar como un anillo
en mi cintura,
hecha de pan y piedra la tierra
el aire canta como una guitarra.

Tú a mi lado en la arena

eres arena,
tú cantas y eres canto,
el mundo
es hoy mi alma,
canto y arena,
el mundo
es hoy tu boca,
dejadme
en tu boca y en la arena
ser feliz,
ser feliz porque si, porque respiro
y porque tú respiras,
ser feliz porque toco
tu rodilla
y es como si tocara
la piel azul del cielo
y su frescura.

Hoy dejadme

a mí solo
ser feliz,
con todos o sin todos,
ser feliz
con el pasto
y la arena,
ser feliz
con el aire y la tierra,
ser feliz,
contigo, con tu boca,
ser feliz.

Pablo Neruda

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