A história da alta costura e dos artigos
de luxo é povoada de designers que nasceram num casebre de beira de estrada ou,
como Coco Chanel, sofreram traumas na infância bem ao estilo de Charles Dickens*.
Coco Chanel nasceu no abrigo de desamparados de Saumur, uma
cidadezinha desconhecida do interior da França. Quando isso aconteceu, seus
pais Jeanne e Henri Albert Chanel, não eram casados. Ele era um vendedor
ambulante. Depois da morte de sua mãe, Chanel com 12 anos e suas duas irmãs foram
morar num orfanato dirigido pelas freiras em Corrèze até os 21 anos. Aprendeu a
costurar e era considerada a melhor de todas. Coco Chanel começou com chapéu
sua verdadeira paixão. Trabalhou em uma alfaiataria para ganhar a vida e
sonhava ser cantora. Chanel abriu a
primeira casa de costura em 1909, comercializando também chapéus. Nessa mesma
casa, começou a vender roupas esportivas, para ir à praia e montar a cavalo.
Pioneira, também inventou as primeiras calças femininas. Final da década de
1920, Chanel era a rainha da Paris chique após ter criado o famoso vestido
preto.
Giorgio Armani cresceu numa cidadezinha
perto de Milão (Itália) tão agressivamente bombardeada pelos aliados durante a
Segunda Guerra Mundial que ele perdeu todos os seus amigos num único dia. Num outro
dia um cartucho de espingarda que encontrou na rua explodiu quando ele se
inclinou para dar uma olhada. Ele passou quarenta dias na ala de queimados e
ainda tem cicatrizes.
Louis Vuitton veio de uma família de
agricultores nas encostas dos Alpes franceses; aos 13 anos saiu de casa e foi
para Paris, onde trabalhou como ajudante de estábulo até conseguir aprender a
fazer malas. Em 1854, com nada além das suas idéias sobre como se devia
construir uma boa mala ele abriu a sua primeira loja, na Rue des Capucines.
Thierry Hermès ficou órfão aos 15 anos,
depois de seus parentes e irmãos terem morrido de diversas doenças durante
Guerras Napoleônicas. Andou vagando um pouco e depois se estabeleceu na
Normandia, região que concentra os criadores de cavalos na França, onde
aprendeu a fazer arreios. Em 1837 ele abriu a sua própria loja em Paris (perto
da Vuitton e seguiu em frente, fabricando os mais belos arreios, selas e
posteriormente – bolsas.
Fica-se tentado a pensar que o gene da
coragem de impor ao mundo uma visão pessoal de beleza é localizado no cromossomo que também
determina a capacidade de criar um objeto simples , belo (uma bolsa, um chapéu,
um vestido), para o qual todas as pessoas do mundo pagarão quantidades
assombrosas de dinheiro.
Talvez não seja tão incomum mostrar
coragem quando estamos no início da nossa profissão. Ao nos tornarmos
advogados, professores, web designers, cabeleireiros, há desafios que precisam
ser enfrentados, por serem transpostas para chegarmos ao nível seguinte. Há
travessias, afirmações de fé exigidas e momentos em que é preciso de uma idéia nova, e no ar é o lugar em somos
forçados a procurá-la.
Fonte: O Evangelho de Coco Chanel, Karen
Karbo – Editora Pensamento – Cultrix Ltda. 4ª edição 2012 pgs. 57 e 58.
* Charles John Huffam Dickens foi
o mais popular dos romancistas ingleses da era vitoriana. Os romances de
Dickens eram, entre outros aspectos, obras de crítica social. Nas suas
narrativas são tecidos comentários ferozes a uma sociedade que permitia a
pobreza extrema, as más condições de vida e de trabalho e a estratificação
social abrupta da era vitoriana, a par de uma empatia solidária pelo homem
comum e uma atitude cética em relação à alta sociedade.
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