O Significado do Amor de um Pássaro
A vida de um Pássaro narrada com muito amor e carinho!
O Início...
Essa história que irei narrar, que por sinal não é muito diferente de tantos outros amigos de penas, conta a luta em sobreviver no mundo humano e é neste contexto que descreverei minha vida.
Meu nome é Luck embora ninguém saiba, eu sou um pequeno pássaro que talvez não faça parte de nenhuma estatística em nenhum registro dos seres humanos, entretanto, em hipótese alguma deixo de ser um pequenino que possui uma vida como qualquer outra na face da terra.
As minhas primeiras semanas de vida ainda muito pequeno, nas asas de meus pais, descobri o sentimento de amor embora ainda não soubesse bem o que significava isso, tinha certeza que era uma coisa muito boa e generosa, pois, demonstrava carinho, proteção e uma verdadeira fonte de calor que não há nada neste mundo que possa comparar, infelizmente esse tempo de amor durou muito pouco, porque ainda nas primeiras semanas da minha vida, fui tirado de meus pais.
Daquele momento em diante já pensava que meu destino não poderia ser dos melhores.
No lugar para onde fui havia outros pequeninos passando pelo mesmo processo de adaptação e em seus olhos eu pude sentir a dor em estar longe de quem começou a amar muito. Embora o lugar onde estávamos não era ruim, tínhamos comida na hora, o calor certo para os nossos corpinhos e o ambiente era muito limpo, eu só não encontrava ali o carinho e o aconchego de meus pais que me tratavam como uma jóia de valor inigualável.
Tudo passava muito rápido, fui crescendo e adquirindo minhas primeiras penas de vôo, era tudo novo para mim e notava que algumas formas no tratamento de carinho e atenção estavam sendo mudadas.
Ao completar dois meses de idade já estava em uma gaiola e numa tal de loja de pássaros onde ali me tratavam como algo de valor, mas não como meus pais me davam e sim um valor estranho e diferente, algo que era preciso pagar para me ter. Fiquei ali algumas semanas, fiz novas amizades e num determinado dia...
A esperança...
O Dia estava lindo, alguém se aproxima e diz:
- Que gracinha! Você é muito lindinho, pena que não posso te comprar, se pudesse com certeza iria te dar todo amor e carinho do mundo.
Quando ouvi estas palavras, parei e pensei por um momento: “será mesmo que essa moça vai me levar de volta aos meus pais?”.
Naquele instante sem perder tempo comecei a me debater na gaiola chamando a sua atenção, como a implorar para que me levasse para meus pais, onde acreditava ter carinho e amor novamente. A moça bonita não desviava os olhos de mim e com muita sorte consegui convencê-la a dar um jeito de me levar, e, igual aos outros, havia chegado minha vez de entrar naquela caixinha de papelão para ir embora.
Não agüentava de tanta emoção, parecia que meu coraçãozinho ia sair pelo bico. Quando cheguei no local que pensava encontrar com meus pais, que decepção...
Era outro lugar diferente e nem de longe sentia a presença de meus pais, estava eu ali novamente diante de um ambiente estranho e, talvez pior, cheio de perigos a minha volta.
Neste novo lar, se é que poderia chamá-lo assim, moravam outros bichos engraçados, uns tais de cachorros e gatos que faziam muito barulho e alguns deles ficavam de olho em minha gaiola, pensava em até fazer novas amizades, porém, existia o Milk, que toda vez que colocava suas patas sobre minha gaiola lambia seus beiços e dizia um miau assustador, intimidando-me.
Aos poucos fui me acostumando com o novo ambiente, o tempo foi passando e os amigos peludos foram esquecendo-se de mim. Em poucas semanas minha mamãe humana começou a falar que não tinha tempo para ficar ao meu lado e que eu deveria ter um pouco de paciência que na hora certa ela ia me dar amor e carinho. Infelizmente não conseguia entender o que ela dizia, principalmente a tal de “paciência”, achava mesmo que ela iria dar-me a chance de ter meus pais de volta e ali fiquei esperando por meses e meses.
A diferença da loja e de onde estava morando agora, é que lá pelo menos haviam outros pássaros onde podia de vez em quando conversar um pouquinho. Neste lar, me deixavam o tempo todo trancafiado em um espaço tão pequeno dentro de casa que mal via o dia raiar ou findar.
Até que um dia minha vida mudou...
Acordei, a casa estava quieta, não ouvia os latidos e nem miados. Percebi que o sol radiava pela janela entreaberta da sala, mesmo assim sentia-me triste, cansado da monotonia dos meus dias, nem imaginava a aventura que estava preste a viver.
Minha dona como de costume logo pela manhã, sempre trocava a comida e a água, e neste dia sem explicação – talvez por falta de atenção, não sei – deixou a portinha da minha gaiola um tanto levantada e nem pensou o que iria ocorrer.
Olhei aquilo e como sou muito curioso fui chegando perto e numa fração de segundos tive um impulso e sai voando bem alto em direção aos raios do sol.
“Uauuuu!!! Que sensação gostosa!!! Quem será que inventou o céu? E as minhas asas?”.
Fiquei horas voando sem me dar conta do tempo e do espaço. Vi uma árvore bem alta e resolvi fazer uma parada, não que estivesse cansado, mas já era hora de relaxar um pouco. Pousei em um galho bem alto, respirei fundo, senti a fragrância daquelas flores e me arrumei um pouquinho.
Fiquei olhando o pôr-do-sol, aquele céu tão azul, sem pensar em nada por muito tempo. Algum tempo depois, sentindo essa incrível e maravilhosa sensação de liberdade, comecei a ficar preocupado porque a tarde já ia e a noite estava se formando depressa. Fiquei parado nesta árvore e com o anoitecer outras aves e suas famílias se aproximavam e se aglomeravam nos galhos, eu percebi que não gostavam de minha presença e ali permaneci encostado no tronco da árvore. O vento era forte e por mais que eu tentasse me emplumar não conseguia me aquecer e sentia muito frio. Para meu azar foi uma das noites mais frias que já havia tido naquele mês.
A fome, o frio, a dor, o medo que sentia eram tão intensos que naquele instante pensei que a melhor maneira de tentar minimizar tudo aquilo era lembrar das coisas boas, como o calor, a comida, o carinho e amor que meus pais me deram um dia.
Quando amanheceu mal conseguia mover meu corpinho, começava a perceber que algo dentro de mim não estava bem e uma dor dentro do meu peito surgia sem controle. A lembrança de quando separaram de meus pais, levando-me a viver naquela loja, vinha a tona, refletia o porque as pessoas faziam aquilo e depois nos entregavam para outras pessoas em troca do tal “dinheiro”, sem se preocuparem que também temos sentimentos e vida.
Em poucas horas comecei a ficar fraco, não sabia onde encontrar comida e o pior, algumas aves muito más e maiores do que eu – os gaviões – me fitavam, estavam apenas esperando eu sair do pequeno abrigo que me acondicionava para então me atacarem. Não conseguia entender porque o mundo aqui fora era assim tão perigoso, que não podia nem sequer sair para tentar procurar um pouco de comida para me fortalecer, que poderia ser atacado tão facilmente.
Por estar muito tempo sem me alimentar e com a queda brusca da temperatura durante a noite, fui adoecendo. Não sei precisamente o tempo que permaneci assim, só sei que num determinado momento, me dobrei caindo da árvore.
Que medo! Não conseguia abrir os olhos, meu corpo todo doía e não conseguia pensar em nada. Senti uma vibração no chão, alguém estava chegando, queria gritar para não se aproximar mas, não tinha forças para isso, foi então que senti me pegarem no colo cobrindo-me com um pedaço de pano.
Era o fim, adormeci...
A doce mudança...
“Onde estou?” – abri meu olhos...
“Que som bonito, eu morri ?”.
“Não, estou vivo”.
Acordei com som de pássaros cantando alegremente. O homem que estava comigo em suas mãos me limpava muito gentilmente, verificava meus pezinhos e minhas asas e então me colocou em uma caixa bem quentinha e aconchegante, isolado dos outros pássaros e me alimentou com muito carinho e cuidado. Eu percebi que estava sendo tratado de uma maneira muito diferente e isso me fez lembrar quando era tratado por meus pais logo quando nasci. Fitei aquele estranho e acho que estava delirando porque sua pele era tão iluminada, a sua voz tão meiga que parecia uma canção de ninar. Lembro-me que ele dizia assim:
“Xuxuzinho, do papai, que só sabe dar mancada, da mancada de dia e de tarde e a noite fica parado”.
Cantava essa canção para mim de uma maneira muito especial assim transmitindo calma.
Esse humano era mesmo diferente de todos que conheci, falava comigo o tempo todo e me dava comida no bico parecido como meus pais faziam. Sentia-me importante, porque sempre aparecia um outro humano – chamavam de Doutor – para me examinar e saber se estava precisando de algo, mesmo sabendo que estava bem melhor.
Pepito realmente me tratava como se eu fosse a coisa mais importante em sua vida. Aos poucos Pepito foi tentando se aproximar mais de mim quando eu já estava melhor – podendo me defender – mas como eu havia passado por situações péssimas e desastrosas com humanos, não queria que me tocassem. Ele, muito paciente foi então conversando comigo transmitindo assim uma confiança maravilhosa pois, fazia muito tempo que não sentia.
O tempo foi passando e num determinado dia sai da caixa, tentei voar e para minha surpresa não conseguia mais, pois em razão da queda que havia sofrido da árvore, havia então perdido está condição. Fiquei muito triste e uma enorme dor reapareceu em meu peito, porque voar para mim foi uma sensação tão boa que gostaria de sentir novamente, apesar de passar por todo o inconveniente doloroso de me perder.
A descoberta do amor...
Em poucas semanas, Pepito me colocou em um grande viveiro junto de outras aves de minha espécie, algo que também fazia muito tempo que não acontecia. Todos ali eram felizes e com minha simpatia e um pouco de sorte em dias arrumei uma bela companheira.
Ela era muito parecida com a minha mãe, era linda, me cobria de carinhos e aos poucos fomos nos aproximando e tornando um casal muito feliz. Com o passar dos meses fomos transferidos com muito cuidado para outro viveiro onde ficamos a sós. Um sentimento foi surgindo dentro de mim e da minha nova companheira e em pouco tempo a natureza tomou seu curso e concebemos nossos primeiros filhotes. Ali senti uma grande vitória com o nascer dos meus pequeninos.
Não me esqueço das palavras que Pepito disse no dia que abriu nosso ninho para ver nossos filhotes:
- Meu amigo, crie esses pequenos com muito amor e carinho, e como você já passou por situações tão dolorosas, não terá ninguém nesse mundo que tirará essa felicidade em quanto eu estiver ao seu lado.
Enchi meu peito de ar e dei um enorme piado de felicidade por saber que ainda neste mundo existem pessoas com o coração repleto de sentimento e amor pelo próximo. E assim foi, meus pequenos filhos cresceram com muita alegria e amor, num ambiente muito bem cuidado pelo nosso querido Pepito.
Nossos filhos cresceram, se apaixonaram e viveram suas vidas, pois, como todos sabemos, o ciclo da vida tem que dar continuidade mesmo sabendo que alguns deles partiram para outros lugares. Assim apenas nos restou a saudade.
A dolorosa separação...
Foram longos anos ao lado da minha grande companheira que me amou e me presenteou com muitos pequeninos, resultando em alegria para todos nós, porém numa simples manhã comum, minha pequena amada não se sentia bem, uma enfermidade apossou-a e foi tão rápida que eu mesmo me surpreendi – foi terrível.
Pepito chamou o Doutor para ver o que estava acontecendo e ao examiná-la disse que seu tempo seria mais curto que se imaginava e que em poucas horas ela não estaria mais conosco. Enquanto os homens conversavam, o meu coração sentiu uma enorme pontada de tristeza e a minha intuição pedia calma.
Logo que o Doutor saiu, Pepito sentou ao lado de minha gaiola e disse com muita calma para tentar fazer entender a situação.
- Meu pequeno amigo Luck, sabe, talvez você não entenda o que está acontecendo e até mesmo ache que estamos sendo injustos com você por separar sua pequena amada de suas asas, mas, por favor, entenda, ela está muito doente e talvez não consiga sobreviver até o findar deste dia. Com certeza vocês tem um amor muito sincero e uma das coisas que mais temia era separar você de sua amada pequenina.
Ouvindo isso dei um piado entristecido querendo um colo amigo e que essa dor da separação fosse embora o mais rápido possível. Pepito percebeu que a minha vontade era estar mais um pouco ao lado dela e mais uma vez alegrei-me por ele entender esse meu desejo.
E assim foi minha despedida, encostei meu pequeno corpinho ao lado de sua cabeça e fiquei juntinho dela até seu último suspiro de vida neste mundo.
“Entender que perder quem amamos não é uma tarefa fácil, é mais complicado que entender a separação de nossos pais, e este processo em minha vida foi muito doloroso”.
O recomeço... Um grande choque...
Já se completava quase seis anos de minha existência na terra e muitas situações havia enfrentado, acreditava que só restava aguardar minha hora de partir deste mundo, porém estava totalmente enganado sobre isso, pois, nem imaginava que minha pequena existência haveria de durar ainda longos anos.
Pepito era um grande humano, não só em tamanho como também em generosidade e resplandecia simpatia para todos que um dia tivera grande chance de conhecê-lo. Vivia sempre ao lado de sua amada esposa Drika. Quantas e quantas tardes, eles nos faziam companhia tomando os seus “chás” e conversando sobre nós, os pássaros.
Para meu maior desespero, poucos anos depois, Pepito também havia sido acometido de uma grande enfermidade e assim notei que sua freqüência em nossas gaiolas e viveiros já era pouca, e suas generosas e alegres conversas eram raras. Quando aparecia, ficava poucos minutos em pé e notava-se que logo precisava sentar-se, pois, suas pernas estavam fracas e suas conversas era de difícil entendimento, dizendo que logo tudo iria terminar.
Até que num determinado dia, não mais o vi...
Após alguns dias, sua amada companheira sentou ao lado de minha casinha e com a mesma calma de Pepito, disse que ele havia voado para o céu e que um dia nós iríamos encontrá-lo também. Dizia para mim que o céu era um lugar onde não havia dor, fome ou tristeza. Quando ela dizia isso, uma enorme preocupação surgia dentro de mim, pois, uma vez que eu não voava mais, como iria alcançar o céu?
Fiquei com esse pensamento até que o tempo se encarregou de fazer eu esquecer...
Todos os pássaros ficaram então sob o cuidado da amada companheira de Pepito que nos tratava com o mesmo amor e carinho. Drika, muito atenciosa, dizia palavras doces, de ternura e todos os dias quando acordava, antes de sair correndo para trabalhar, procurava tratar de nossa alimentação da maneira que podia, pois após a morte de Pepito ela ficou numa situação econômica muito difícil.
Ela às vezes parava ao lado de nosso viveiro e dizia para termos paciência que iria arrumar sempre algo bom para comermos. Já era possível perceber que nossa alimentação não era tão boa quanto antes e a quantidade mal dava para todos os pássaros que se encontravam no viveiro. Notando essa situação, começamos a comer menos para poder de alguma maneira ajudá-la, pois havíamos visto ela deixar de comer o seu pão, para distribuir para nós.
Drika era como um anjo em nossas vidas, sempre querendo de alguma maneira nos agradar e infelizmente não podíamos retribuir de uma maneira material, então procurávamos com pequenos gestos, olhares, bicadinhas carinhosas, mostrando o quanto amávamos e agradecer pelo cuidado e amor que tinha por nós.
Em busca de um milagre...
Certo dia, Drika chegou chorando em casa e como de costume veio a nosso encontro para contar como tinha sido seu dia. Ela muito triste dizia para mim que havia perdido seu emprego, e pelo que entendi, era o que a fazia ter dinheiro para comprar nossas comidas.
Naquele momento achando que já havia sentido todos os sentimentos deste mundo percebi que um novo sentimento havia brotado dentro de mim. Assim entendi definitivamente o significado da palavra “desespero”.
Mais uma vez, em poucos dias ou horas eu estaria indo embora daquela casa e, nada neste mundo era mais injusto, porque já havia mudado tantas vezes e com tanto sofrimento.
Conversando com meus amigos naquela tarde, tentamos de alguma maneira poder ajudar, mas nada podíamos fazer pela Drika, pois estávamos trancados em um viveiro e nossas condições eram muito limitadas mesmo querendo de alguma forma socorrê-la.
Drika havia saído para tentar de alguma maneira contornar o problema, mas retornando para casa sem nenhum êxito, veio até nosso viveiro e decidida fez a coisa que achava ser a mais certa, nos soltando para sentir a liberdade pelo menos uma vez em nossas vidas.
Ao abrir o viveiro, todos os três amiguinhos bateram suas asas sem ao menos deixar eu tentar explicar a eles que o mundo lá fora não seria a melhor solução para nossos problemas. Eu mesmo não fui, pois não tinha como voar, graças a minha deficiência que impedia e já um dia, havia sentido a enorme frustração de estar solto no mundo. Restava então eu desejar boa sorte aos meus amiguinhos e aguardar o meu destino final.
Drika chorava e estava muito triste em fazer isso e era para eu aproveitar essa chance de ser livre porque naquela mesma hora ela iria se libertar de tudo isso. Não entendia o que Drika queria dizer, mas pelo modo que ela dizia, mas parecia que iria para o céu também, e naquele momento fiquei muito triste porque todos iam para o céu e eu ficava aqui em baixo sofrendo sem entender nada.
Então na tentativa de não deixar que ela fosse para o céu ou me deixasse sozinho, implorei para que me levasse também. Saí do viveiro e fui subindo em seu ombro e num gesto de amor e carinho, me aconcheguei em seu rosto. Neste mesmo momento ela me tomou em suas mãos e colocou-me a sua frente dizendo assim:
- Sabe meu pequeno Luck, estava certa do que ia fazer até este exato momento, mas antes de fazê-lo pedi um sinal a Deus que se alguém neste mundo me amasse mesmo, teria que aparecer agora e assim também demonstrar todo seu amor por mim. Luck, você hoje além de ser o que mais amo, é também o salvador da minha vida e seu pequeno gesto demonstra que nada está perdido.
Aquelas palavras que Drika me disse, pouco entendi, entretanto algo me dizia que fiz a melhor obra de minha vida depois de criar meus amados filhos.
Em poucos dias, estava com Drika em outra casa bem mais simples e humilde e com o sentimento de dever cumprido.
O vôo final...
E tudo foi muito bem, os anos passaram até que um dia recebi uma visita muito especial.
Estava dormindo tranqüilamente, sentia-me em um sonho, no meio da madrugada abri os olhos e Pepito todo brilhante falava calmamente comigo e quando dizia algo, “incrível”, para minha surpresa ele entendia também.
- Pepito, meu amigo, que saudade! Todos esses anos esperei por você, achando que jamais conseguiria agradecer a sua generosidade e amor que teve comigo.
- Meu amiguinho, todos nós temos que cumprir uma missão na terra e meu tempo já havia sido concretizado. Hoje estou aqui para poder dar minha mão a você, pois sei o quanto isso é importante. Você irá conhecer um lugar maravilhoso e encontrará com muitos que você ama. Lá já estão, seus pais, sua amada companheira e muitos que te respeitaram e te amaram aqui na terra.
- Puxa Pepito! Parece mentira! Acho mesmo que estou sonhando. Depois de tanto tempo de angústia vou poder ter essa chance?
- Sim, a principio devo dizer que você pode não ter sido nada aos olhos de muitos na terra, mas tornou a minha vida e a vida de minha amada Drika muito mais simples e feliz. Toda vez que olhávamos seus olhos, eles expressavam um brilho muito forte, jamais visto por mim e minha amada. Hoje sabendo de toda sua trajetória, você dizia que logo quando foi tirado de seus pais, sua vida não iria ser a das melhores, mas saiba, foi. Deus te deu um dom que muitos almejam ter, o dom da “paz”, do “carinho”, da “atenção”, da “simplicidade” e “humildade” e o maior de todos, do “amor verdadeiro”. Saiba meu amiguinho que você salvou vidas, e foi a maior jóia viva que poderia ter existido para nossas simples vida e hoje, Deus me concede a liberdade de vir pessoalmente te buscar para então levá-lo céu.
- Pepito, estou muito contente em saber que de alguma maneira minha vida foi importante na terra, mas preciso ser muito sincero em dizer que nada disso teria acontecido se não fosse por você ter me tirado da frente da morte, ajudando a me estabelecer, me alimentando e me concedendo a felicidade de conhecer minha amada e de ter meus filhos. Hoje consigo entender o significado da palavra “Deus”, ele é o amor maior que nos guia de acordo com sua vontade, procurando então fazer de nós, seres que ajudam ao próximo. Agora sim, estou pronto para minha nova casa “céu”, apenas deixe muita paz para nossa amada Drika e permita que em todos os seus dias de vida ela possa sentir nossa presença como no vento, não permitindo nos ver mais, porém sentindo ele soprar em seu rosto e trazendo assim sempre a esperança em sua vida.
Então assim termina minha história, aos 14 anos de idade, fui levado às alturas do céu num vôo tão grandioso, sentindo que minha presença na terra não foi em vão, recebendo o grande valor pela vida e a minha conquista pela busca da tão sonhada “paz” e “amor” com muita sabedoria e paciência.
Importante saber...
Embora está história seja apenas um conto, notamos que nos dias de hoje ainda é possível notar que nossos amigos de penas ficam jogados dentro da gaiola em um canto qualquer da casa sem receber atenção e os cuidados necessários e muitas vezes esses pássaros passam pelo processo da fome, sede e o pior de todos “solidão”, e mesmo assim ainda resiste por dias, semanas e até mesmo anos antes de morrer. Normalmente achamos que os pássaros dentro de uma gaiola cantando é sinal de que está tudo bem, mas por um momento já paramos para pensar se este canto mesmo sendo uma melodia muito bonita não poderia ser de tristeza, dor ou sofrimento? Procuramos refletir um pouco sobre o assunto e nos colocamos no lugar desses pequeninos...
Por quanto tempo, nós humanos duraríamos sem água, comida e totalmente isolado de nossa família e amigos?
Pior, saber que está passando por este processo apenas porque a pessoa que você depende está negando atenção e deixando você todo impossibilitado de buscar o seu sustento e sua sobrevivência.
São situações onde devemos refletir antes de adquirir qualquer tipo de animal de estimação, até porque o nome “estimação” já diz tudo. A partir do dia que obter qualquer tipo de bichinho de estimação, procure estimá-lo como fosse seu filho(a), pois ele dependerá de você imensamente. Como podemos notar na história, a vida de Luck poderia ter sido muito diferente.
Quando adquirimos um pássaro ou qualquer outro bichinho de estimação, devemos pensar em diversos fatores básicos, como se preocupar em deixar um tutor para cuidá-lo caso um dia sejamos impossibilitado de continuar a lhe dar atenção e os devidos cuidados. No caso do Pepito como podemos observar, ele preocupado com seus pássaros, deixou sua esposa como tutora assim preparando-a para cuidar de seus pássaros caso ele ficasse impossibilitado um dia.
Normalmente os pássaros duram poucos anos, porém alguns chegam a durar de 15 até 80 anos, e por essa importante razão, devemos pensar muito antes de adquirir determinadas espécies, assim procurando saber melhor sobre suas origens, costumes entre outros fatores para não ter nenhuma surpresa no futuro. No que diz respeito aos pássaros, eles se apegam muito ao seu dono, transformando dentro deles uma fidelidade muito grande e se isso não for correspondido pode com certeza trazer muita dor e sofrimento, e a pior coisa que um dia poderá acontecer sem dúvida nenhuma, será o seu abandono.
Fica muito claro nos dias de hoje, a população tem se conscientizado ao adquirir seus bichinhos de estimações, trazendo melhor conforto e os cuidados básicos para terem uma vida tranqüila e saudável.
Normalmente quando eles chegam em seu novo lar, alguns ficam contentes e outros muitas vezes ficam quietinhos e abatidos. Aos que normalmente ficam abatidos, mostre a esse pequenino que ele será muito amado por todos os membros da família e assim, você adquirirá a total confiança de seu animal de estimação.
Procure sempre ter muita paciência, pois esses pequeninos normalmente fazem bagunças sem o menor entendimento e gritos, ameaças, castigos contra eles não serão as melhores maneiras de repreendê-los.
A alguns anos atrás eu estava passando em frente a uma Avicultura e entrando para conhecê-la, avistei uma série de pássaros soltos e mansos. Ali estava algumas calopsitas, agapornis e periquitos australianos e ao ver eles assim, “soltos” fiquei extremamente encantado. Naquele dia mesmo estava certo que poderia adquirir um daqueles pássaros para cuidar e ser meu bichinho de estimação. Comecei a escolher um deles para presentear meu lar com alegria, pois adorava pássaros e certamente não iria ter nenhum problema. Entre minhas escolhas, estava certo que seria uma “calopsita”. Notei bem no cantinho do mostruário uma calopsita bem quietinha e possuída de um puro medo por estar naquele lugar. Acolhi este pequenino e levei para minha casa contente e feliz por ter um novo amigo.
Quando cheguei em casa com o pequenino, fui logo apresentando a minha esposa que o recebeu com muito carinho, aconchegando em seu colo e simultaneamente o chamando de “Xuxa”. Ao longo dos dias achávamos que estava tudo bem com o pequenino, mas percebia que ao compará-lo com outros pássaros de sua espécie e raça, notoriamente ele era muito pequeno perto dos outros e já se podia notar que sua asa e pezinho estava com um problema de calcificação em razão de alguma queda no passado.
Ao notar isso, meu carinho por ele se redobrou e minhas atenções começaram a ser muito mais voltadas a ele. Era nítida a nossa falta de experiência e naquela época era muito difícil encontrar informação de boa qualidade e segura para cuidar do nosso pequenino. Foi aí então que despertei definitivamente e comecei buscar fontes de informações em veterinários especializados, comprando livros sobre estudos da calopsita, seus cuidados, alimentação e doenças que poderiam de alguma maneira afetá-lo, e tudo isso para cuidar melhor de nosso pequenino.
Trato esses pequeninos como meus filhos que me ajudaram a concretizar o projeto da minha vida e a entender melhor o sentimento e a forma de carinho que eles são capazes de nos oferecer sem ao menos pedir nada em troca.
Todos eles são como uma jóia em nossas vidas, pois sentimos que a cada olhar desses pequeninos, tocam profundamente nossos corações, mostrando-nos que a vida é muito mais cheia de vida quando procuramos amar o seu próximo, e não se importando qual a forma de sentimento que temos por ele(a).
Aprendi muito na vida com os pássaros, pois seu olhar sincero me encanta e sua simplicidade de vida me fascina. Portanto, se você tiver ao lado desses pequenos seres, tente buscar o carinho que eles tende a oferecê-los, seja em um cantar, em um toque ou até mesmo em um pequeno olhar de pura gratidão por ter você como um amigo justo e fiel.
Autor da Obra: Anderson Barbosa – O Significado do Amor de um Pássaro
Adaptação: Solange Soares Barbosa
Ano: 2007 – Segunda Edição
Agradecimentos:
A minha esposa Solange por me ajudar nesta gratificante tarefa e por amar imensamente a natureza.
Aos meus filhos Lucas e Vitor, por tomarem minhas tarefas e por amar os pássaros.
Ao meu pequenino Xuxa que nos deixou no dia 19/06/2008 - Nosso amado e sincero carinho e amor "por você"
"Nosso amor por você é como o Sol... toda manhã há de brilhar mesmo atrás das nuvens !!!"
Nunca... mas nunca deixe seu pássaro ficar esperando por você, para mostrar o quanto ele te ama ! Anderson Barbosa
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