Baixa ingestão de água, excesso de sal e sedentarismo favorecem a formação de cálculos renais, que atingem de 5% a 15% da população
FLÁVIA MANTOVANIDA REPORTAGEM LOCAL Eles nascem nos rins, podem ter o tamanho de grãos de areia e ficar quietos por meses ou anos. Até que resolvem se mexer e chegam a fazer muita gente grande pedir colo e se contorcer de dor. Formados pela aglomeração de cristais na urina, os cálculos renais atingem uma grande quantidade de pessoas -de 5% a 15% da população, segundo dados mundiais.E o número de afetados vem aumentando: nos EUA, houve um crescimento de 37% na formação de cálculos nas últimas décadas. "Esse dado está relacionado a mudanças no estilo de vida e à evolução nos diagnósticos. A pessoa faz um ultra-som por outra razão e descobre o cálculo", explica o urologista Nelson Gattás, coordenador do comitê de litíase (formação de cálculos) da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).Hábitos como baixa ingestão de água, excesso de consumo de sal e sedentarismo favorecem a formação de cálculos.Antes mais comum em homens, o problema já não é predominantemente masculino. Segundo Ita Pfeferman Heilberg, professora de nefrologia e coordenadora do Ambulatório de Litíase da Unifesp, as mulheres secretam mais citrato, um inibidor de cristalização e, por isso, estariam mais protegidas. Mas fatores ambientais vêm contribuindo para a equiparação dos dois gêneros. "Cada vez mais, vemos que não há essa diferença. Elas estão no mercado de trabalho, expostas às mesmas condições a que os homens", diz.A parte boa da história é que há novos recursos para aliviar o problema. No último Congresso Americano de Urologia, foi apresentado um estudo mostrando que os alfabloqueadores, usados contra o câncer de próstata, dilatam o canal que conduz a urina à bexiga e aumentam em 30% a chance de o paciente eliminar cálculos nessa região. "É o único remédio que, comprovadamente, pode ser usado para ajudar a eliminar cálculos", diz Gattás.E, se a pedra não sair sozinha, os recursos para fragmentá-la estão mais eficazes. Os aparelhos de endoscopia usados com o laser, por exemplo, estão cada vez mais flexíveis, o que permite que atinjam cálculos localizados no rim. "Antes, só chegávamos a cálculos mais baixos, perto da bexiga", diz o urologista Flávio Trigo Rocha, do núcleo avançado de urologia do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo).Na parte da prevenção, também há o que fazer -e mitos a serem derrubados.
[?] laticínios e tomate Não são proibidos. Uma adequada quantidade de cálcio (quatro porções ao dia) é necessária para ligar-se ao oxalato no intestino e impedir sua absorção em excesso. O tomate possui muito pouco oxalato e não precisa ser cortado
"Fui direto para o chão, rolando de dor"A crise renal que a fisioterapeuta Marina Amaro, 26, teve há cerca de um mês começou fraca. "Achei que era uma cólica mens-trual", diz. Mas os sintomas ficaram tão intensos que ela foi "direto para o chão". "Rolei de dor e cheguei ao hospital urrando."Na emergência, nem a morfina fazia efeito. Para ajudá-la a expelir naturalmente o cálculo -que tinha o "tamanho de um grão de feijão e o diâmetro de um grão de arroz"-, os médicos lhe deram alfabloqueadores. "Passei o fim de semana dopada e tomando mais de três litros de água por dia, mas não saiu. Então me internaram e retiraram por dentro da uretra."Dez anos antes, Marina teve o mesmo problema enquanto estava em um hotel-fazenda. "Na cidade vizinha não tinha médico. Deram-me remédio para cólica, mas passei a viagem deitada." Em São Paulo, foi submetida a uma litotripsia.Ela diz que passou a beber mais água. "Agora ando com uma garrafinha para cima e para baixo. Tenho uma no quarto, ou-tra na bolsa, outra no trabalho."
"Hoje a dor passou e tenho essa história para contar"Quando foi para a Olimpíada de Pequim competir na prova de estrada, o ciclista brasileiro Luciano Pagliarini, 30, tinha a expectativa de ficar entre os dez primeiros colocados. Chegou em 90º lugar, mas se considera um vitorioso e tem recebido tratamento de herói. Também, pudera: foram 250 km -7h e 11 minutos- com um cálculo no ureter esquerdo, causando dor na região apoiada no selim.A primeira cólica, fraca, começou na chegada à Vila Olímpica. Como não havia tempo para retirar a pedra, o jeito foi tomar muita água e "rezar para tudo quanto é santo" para que ela saísse sozinha.Não deu certo, e os médicos recomendaram que ele não competisse. "Eu não aceitei. Era a minha segunda Olimpíada, poderia ser a última. Até cogitava abandonar a prova no meio, mas queria tentar."No dia, Luciano foi medicado contra a dor, dentro dos limites das regras antidoping, e cortou parte da espuma do selim, deixando um buraco no lado esquerdo para diminuir o apoio no lado dolorido.Mesmo assim, a dor foi intensa. "O mais fácil seria ter desistido, mas vi naquilo a oportunidade de fa-zer uma coisa grande. Hoje, a dor já passou e tenho essa história para contar", afirma. Dos 180 ciclistas que largaram, 70 desistiram antes do final.Depois que chegou à Itália, onde mora, Luciano expeliu a pedra do ureter, mas ainda tem outra no rim.
QUEBRA-PEDRA
Veja os procedimentos usados para fragmentar ou retirar o cálculoUreteroscopia com ultra-som ou com laser * Introduzido pela uretra, o endoscópio atinge a bexiga e o ureter, o que permite ver a pedra, e é acoplado ao laser ou ao ultrasom, que a fragmentam. Os mais modernos são flexíveis, chegam ao rim e só podem ser usados com o laser. Já os endoscópios semi-rígidos alcançam apenas cálculos mais baixos e podem ser acoplados ao ultra-som ou ao laser. Exige anestesia geral, mas não tem cortes e o paciente pode receber alta até no mesmo dia. Indicado para cálculos não muito grandes (de até 2 cm) Leco (litotripsia extracorpórea por ondas de choque) * O cálculo é fragmentado por um aparelho que emite ondas de choque. Muitas vezes, exige anestesia, são necessárias várias aplicações e cerca de 30% dos pacientes sentem cólica para eli-minar os fragmentos depois -por isso, é muito menos preconizada do que já foi. Indicada para cálculos de até 2 cm, desde que não estejam na parte inferior do rim Cirurgia percutânea * É feita uma pequena incisão na pele, por onde passam endoscópios que chegam ao rim. Os cálculos são removidos ou, no caso de cálculos maiores, fragmentados com laser ou ultra-som e, depois, tirados com pinças. Indicada para cálculos no rim de qualquer tamanho. O paciente recebe anestesia geral e fica internado por dois ou três dias Cirurgia aberta * Feito por um grande corte no abdômen ou na região lombar, é o procedimento mais invasivo. Raramente é indicado, a não ser que não haja solução com os outros métodos. Exige anestesia geral, internação de uma semana e repouso de um mês
Fontes: urologistas CÁSSIO ANDREONI, FLÁVIO TRIGO e NELSON GATTÁS
DANDO UMA FORÇA PARA O ORGANISMO
Além das orientações específicas, envolvendo dieta e medicamentos, há dicas gerais, válidas para quase todos os casos
BEBA MUITA ÁGUA * É uma das principais medidas preventivas. O recomendado para quem já teve cálculo é urinar dois litros diários, o que significa beber ao menos dois litros e meio de água. Mas, como a indicação varia em função das condições climáticas e do nível de atividade física, o melhor para saber se a ingestão é suficiente é ficar de olho na cor da urina, que deve ser clara
FUJA DE PROTEÍNA E SAL * O problema não está em comer um bife por dia, mas em exage-rar. Evite especialmente carnes vermelhas. Dietas como Atkins e South Beach, que abusam das proteínas em detrimento dos carboidratos, não são indicadas. E não basta eliminar o saleiro da mesa: diminua o consumo de alimentos industrializados como sopas, molhos e temperos prontos, geralmente ricos em sal
APOSTE NOS CÍTRICOS * Limão e laranja são ricos em citrato, substância inibidora de cristalização, que ajuda a evitar a formação de cálculos
EVITE OS SUPLEMENTOS * A vitamina C é metabolizada e transformada em oxalato, prejudicial para quem tem propensão a cálculos. Mas não tem problema consumir frutas e verduras ricas na substância –a quantidade adquirida pela dieta não é prejudicial, ficando em torno de 100 mg diários. Já os suplementos podem ter até 2 g por comprimido e não são recomendados
CUIDADO COM O CALOR * Um estudo brasileiro com mais de 10 mil funcionários da indústria siderúrgica mostrou que aqueles que trabalham mais próximos a fornos de temperatura elevada têm nove vezes mais chance de formar cálculos renais do que os que trabalham em temperatura ambiente. Isso porque a perda de líquido pelo suor torna a urina concentrada, o que predispõe ao problema. Tomar muito líquido ajuda a prevenir
Fontes: urologistas CÁSSIO ANDREONI, FLÁVIO TRIGO e NELSON GATTÁS
PERGUNTAS E RESPOSTAS[?] esporte e isotônico Por estimular a circulação do sangue e a filtração do rim, o esporte é benéfico para quem tem propensão a cálculos, com uma condição: a de que a hidratação seja adequada. O isotônico não forma cálculo, mas não é a melhor bebida para repor os líquidos. Prefira água de coco, que ajuda a evitar cálculos
1 - POR QUE OS CÁLCULOS SE FORMAM?
A urina contém partículas de cristal, que são eliminadas e não causam problemas. Quando esses cristais se precipitam e se aglomeram uns nos outros, ocorre a formação de cálculos. Eles são feitos de sais de cálcio, mas há também os de carbonato ou fosfato de cálcio. Há ainda pedras de estruvita, ácido úrico e cistina. Os cálculos se formam devido a alterações do metabolismo, que fazem com que o rim ex-crete maior quantidade de cálcio ou de oxalato na urina.
2 - HÁ FATORES GENÉTICOS ENVOLVIDOS?
Sim. É muito comum ter na mesma família pessoas com o problema. Ainda não se sabe exatamente qual gene é o res-ponsável -o provável é que não seja apenas um.
3 - SÃO MAIS COMUNS EM ALGUMA FAIXA ETÁRIA?
Os cálculos aparecem com mais freqüência em pessoas jovens, tendo seu pico de incidência na segunda e na terceira décadas de vida. Mas podem atingir crianças.
4 - QUE TAMANHO PODEM TER?
Podem ser tão pequenos quanto um grão de areia ou atingir a dimensão de bolas de golfe. O mais comum é que meçam de 3 mm a 1 cm.
5 - TÊM A VER COM PEDRA NA VESÍCULA?
Não. Os cálculos na vesícula, ou biliares, são compostos por colesterol. Entre as razões para seu aparecimento, estão defeitos no funcionamento desse órgão, que faz parte das vias biliares, pertencentes ao aparelho digestivo. Pessoas com dieta rica em gordura correm mais risco. Enquanto o cálculo renal sai sozinho ou é retirado, quem tem cálculo biliar precisa retirar a vesícula toda.
6 - OS CÁLCULOS SEMPRE CAUSAM DOR?
OS MAIORES DOEM MAIS? Não. A dor ocorre quando a pedra se move do rim para o ureter, que tem de 3 mm a 6 mm. A cólica não decorre da passagem da pedra no canal, mas da obstrução, mesmo que parcial, da passagem da urina, o que causa aumento da pres-são e até dilatação no rim. Esse aumento da pressão no rim é que gera a dor. Ou seja, quando a pedra está parada no rim, costuma ser assintomática. As maiores nem sempre doem mais. Na verdade, as maiores se movimentam me-nos e dão menos dor. Já as pequenas se soltam em direção ao ureter com mais facilidade, causando a obstrução que gera a cólica.
7 - COMO É A CÓLICA RENAL?
É súbita, costuma começar nas costas, de um lado só, e não é aliviada com a mudança de posição. Pode irradiar para o testículo, no homem, ou para o grande lábio, na mulher. A dor pode ser intermitente e algumas pessoas vomitam ou têm enjôo. Também há quem urine com freqüência ou fique com a urina escura, devido à presença de sangue. Em alguns casos, pode haver infecção urinária associada, gerando febre e calafrios: essa é uma situação grave, pois há risco de que a infecção se espalhe pelo organismo.
8 - É VERDADE QUE É A DOR MAIS FORTE QUE EXISTE?
É considerada uma das mais intensas, com a da pancreatite, a do glaucoma e a do parto. Muitas vezes, exige analgésicos poten-tes, como opióides (entre eles, a morfina). Na hora da crise, o importante é aliviar a dor do paciente e, depois, ver como agir em relação ao cálculo.
9 - QUAL É A CHANCE DE TER DE NOVO?
Quem teve um episódio de cálculo renal tem 60% de chance de formar mais um, 30% de ter um terceiro e 10% de ter ainda um quarto -tudo isso em um período de cinco anos.
10 - QUE EXAMES DEVEM SER FEITOS?
Ultra-som ou raio-X, mas eles têm limitações: no primeiro, não costumam aparecer cálculos que estão no meio do ureter e, no segundo, pedras de ácido úrico. A tomografia computadorizada é considerada um exame mais completo.
11 - EM QUE CASOS A PEDRA SAI NATURALMENTE E QUANDO É PRECISO UMA INTERVENÇÃO?
Cálculos de até 0,5 cm saem sozi-nhos. Os que medem de 0,5 cm a 1 cm podem ou não sair e devem ser acompanhados pelo médico para decidir se é preciso intervir. Os de mais de 1 cm raramente saem sozinhos. No caso de cálculos maiores, deve-se recorrer a procedimentos intervencionistas quando existe alguma complicação ou quando não se consegue controlar a dor do paciente.
12 - A PESSOA DEVE GUARDAR A PEDRA?
O ideal é que sim, para que sua composição seja avaliada, o que ajuda a detectar por que houve a formação do cálculo, se há distúrbios metabólicos etc. O problema é que, segundo a nefrologista Ita Heilberg, as análises químicas que normalmente são feitas são poucos informativas. O ideal seria uma análise cristalográfica, feita por um geólogo, mas ela está disponível em poucos locais -na cidade de São Paulo, por exemplo, não há.
13 - O QUE É UMA AVALIAÇÃO METABÓLICA?
É uma análise feita com base em exames de sangue e de urina para verificar se o paciente tem algum desequilíbrio metabólico. Com os resultados, o médico pode propor um tratamento individualizado para prevenir novas pedras -em alguns casos, são indicados remédios para corrigir o problema. Crianças, pacientes que só têm um rim e pessoas com cálculos recorrentes ou história familiar significativa do problema são alguns dos candidatos à avaliação.
14 - QUE COMPLICAÇÕES O CÁLCULO PODE CAUSAR?
Quando um cálculo obstrutivo se associa a uma infecção do trato urinário, pode ocorrer um tipo de infecção chamado pielonefrite aguda, que, em alguns casos, leva à morte. Em cálculos grandes nos quais o tratamento não é completo, pode ocorrer obstrução do ureter por fragmentos da pedra, que, se prolongada, pode até levar à atrofia do rim.
15 - CHÁ DE QUEBRA-PEDRA E PEDRIM FUNCIONAM?
O Pedrim, ou essência de terebentina, é um anti-séptico urinário e, segundo os especialistas, não há estudos provando que tenha efeito contra cálculos renais. Já o popular chá de quebra-pedra, ou Phyllanthus niruri, não "quebra" o cálculo, mas, segundo estudos da Unifesp, há indícios de que ele pode dilatar o ureter, facilitando a eliminação das pedras. Pesquisas em ratos e em células mostram também que ele inibe a agregação de cristais, fazendo o cálculo crescer menos. E já foi provado que a planta não é tóxica. O único problema é saber se o que se toma é mesmo o chá de quebra-pedra -é difícil ter garantia sobre a procedência nesses casos.
Fontes: CÁSSIO ANDREONI, urologista do Hospital Albert Einstein e da Unifesp; CLÁUDIO BRESCIANI, gastrocirurgião do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; FLÁVIO TRIGO ROCHA, do núcleo avançado de urologia do Hospital Sírio-Libanês e do Hospital das Clínicas da USP; ITA PFEFERMAN HEILBERG, professora da disciplina de nefrologia e coordenadora do Ambulatório de Litíase da Unifesp; NELSON GATTÁS, coordenador do comitê de litíase da Sociedade Brasileira de Urologia e professor da Unifesp
FONTE: EQUILIBRIO (Jornal Folha de São Paulo)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq1109200812.htm
gostaria de saber se é normal vomitar direto durante as crises
ResponderExcluirOlá! É normal vomitar durante as crises pela dor violenta. Mas vá ao Pronto Socorro para ser medicado e faça um tratamento com Urologista e Homeopatia. Há dois anos não tenho mais cólicas e cálculos. Boa sorte!
ResponderExcluirObrigada por visitar o Blog. Se quiser posso passar mais informações pelo seu e-mail.