A vida é muito simples de viver.
Temos experiências sobre como tudo se transforma em nosso viver diário. Observamos comportamentos todos os dias, somos devoradores de comportamentos. Nos observamos a nós mesmos, observamos as pessoas no trabalho, os pedestres esperando o sinal fechar para os carros e abrir para eles atravessarem a pista, a reação dos motoristas quando percebem o pedestre apertando o botão do semáforo, como somos tratados no msn, no telefone e até no interfone do prédio donde residimos ou na campainha que tocam à porta da casa.
Muito embora a maioria não perceba seus comportamentos, também não se permitem ser o elemento observador, simplesmente vivem mecanicamente suas vidas sem nunca experimentarem qualquer transformação. Transformar dá muito trabalho.
Transformar a si mesmo ou o meio à sua volta são ações que requerem interesse e inteligência emocional constantes. Quem não tem capacidade de observar-se, não conseguirá notar diferença no meio ambiente em que vive e tampouco de aprimorar-se numa evolução constante pelo transformar em ação necessário. As pessoas que não se transformam são iguais a vida toda, vivem um replay constante de eventos sem perceber que estão andando em círculos, o que é um grande desperdício de oportunidades.
A oportunidade é um ser estranho, cabeluda na testa e careca na nuca, se torna possível de ser agarrada quando surge e impossível de ser pega quando se vai. A oportunidade está onde recusamos comparecer, ela chega sorrateira e sai ligeira, sempre acontece algo oportuno às pessoas que ousam observar. A oportunidade anda escoltada dos dois lados, a realização e o arrependimento, que serão solicitados quase de imediato depois que a oportunidade se manifesta. Se a oportunidade for agarrada pelos cabelos, com ela estará a realização, mas se a oportunidade passar e a pessoa lutar para agarrá-la pela nuca, então experimentará a companhia do arrependimento. Mesmo se acontecer este segundo, existem pessoas que não se transformam, não se preparam para uma possível e nova chance se a oportunidade lhe surgir novamente. Ficam numa espécie de sonolência, hibernação de comportamento, acomodadas em suas zonas de conforto.
A zona de conforto é como um ninho donde algumas pessoas se acomodam. Quanto mais houver acomodação nesse lugar também conhecido como armadilha ou auto-sabotagem, menores as chances de se conseguir pegar as oportunidades pelos cabelos da testa.
O ninho é como um buraco negro espacial, que suga tudo à sua volta para dentro dele e lá organiza segundo suas necessidades. Dentro dele não há organização lógica nem adequada para um melhor aproveitamento, tudo fica amontoado, apesar de parecerem estar nos seus devidos lugares. Tudo o que leva a pessoa a se sentir protegida e amparada está dentro da zona de conforto. O primeiro sinal de que a zona de conforto está se tornando um ninho para alguém chama-se sedentarismo. Este está acompanhado de mãos dadas ao conformismo.
No capítulo 6 de “O código da Inteligência” de Augusto Cury, o autor começa a ensinar como podemos lidar com armadilhas a que todo o ser humano está sujeito – armadilhas que os próprios seres humanos criam para si. Ninguém está livre delas, mas é fundamental ter a lucidez necessária para reconhecê-las e humildade para assumi-las; é a única maneira de superá-las. Essas armadilhas impedem o desenvolvimento da excelência psíquica, afetiva, social e profissional.
Cury identifica e apresenta quatro armadilhas, e neste capítulo se concentra em uma delas: o conformismo. Segundo o autor, o conformismo é definido como “a arte de se acomodar, não reagir e aceitar passivamente as dificuldades psíquicas, os eventos sociais e as barreiras físicas.” O conformista amordaça o EU, impedindo-o de lutar pelos seus ideais, de investir em seus projetos, de transformar a sua história. Não assume sua responsabilidade como agente transformador do mundo, pelo menos do seu mundo. É a pessoa desprovida de atitudes, acomodada à mercê dos eventos externos, que só se movimentam quando atingidas pelo externo e não por vontade própria.
O conformista acredita que todas as coisas são obras do destino.
Eu mesmo estou transformando minha zona de conforto em zona de confronto. Assim como há o conformista que não toma rédeas de seu presente para determinar o seu futuro, existe o conformista que não se desprende de seu passado e prejudica no presente a transformação do seu futuro. Eu estou/estava nessa situação. De tanto viver e sofrer pelo passado que já passou, acostumei a me condoer no presente e não esperar o melhor para o meu futuro. Mas o que mais me faz ficar apaixonado por mim é a capacidade que desenvolvo em superar minhas adversidades a tempo de não sucumbir-me em novos colapsos de arrependimento. Travar lutas contra o conformismo pede atitude, confiança em si mesmo e planejamento. O conformista não planeja, não acredita e não persegue uma estrela, simplesmente vive sem saber que rumo dar às suas vontades.
A transformação está para o observador como o peixe está para a água. Essas pessoas que não se importam com as oportunidades que vêm ou que vão são pessoas passarinheiras, como árvores-dormitório de passarinhos, estão sempre cheias e povoadas, mas nenhuma espécie faz ninho em seus galhos e nenhuma nova vida nasce entre suas folhas, mas continua lá, frondosa e cheia de passarinhos. Mas o processo de transformação é exigente, porque chama à atenção somente a maneira de como será tomada a atitude pessoal diante da adversidade.
Os conformistas são os reis das desculpas, segundo Augusto Cury, sempre têm justificativas para não atuar, não treinar, não decidir, não tomar para si a responsabilidade da escolha. Raramente duvidam daquilo que os controla e proclamam: “Não concordo comigo mesmo! Não aceito este destino”. Claro que há fatalidades que não dependem de nós e sobre as quais não temos controle. Devemos aceitá-las com humildade e serenidade, mas no que depender de nós, jamais deveríamos nos isentar de agir.
Que tipo de desculpas você costuma dar diante das oportunidades que surgem em sua vida? Quantas vezes uma oportunidade lhe escapou por uma indisposição? Um encontro importante foi desmarcado por simples desânimo ou por não se achar preparado?
Ninguém pode asfixiar, anular e amordaçar mais um ser humano do que ele mesmo. (Augusto Cury)
A vida é efêmera, é volátil, mas pode ser bem aproveitada com atitudes nas decisões, nas transformações constantes.
Texto de: Rodrigo Caldeira)