quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Eu, que eu descanse em paz, Yehuda Amichai




Eu, que eu descanse em paz – eu, que ainda estou vivo, digo,
Que eu tenha paz pelo resto da minha vida.
Quero paz agora enquanto ainda estou vivo.
Não quero esperar como aquele homem devoto que desejava uma perna
do trono dourado do Paraíso, eu quero uma cadeira de quatro pernas
aqui mesmo, uma cadeira comum. Quero o resto da minha paz agora.
Passei a vida em guerras de todo tipo: batalhas dentro
e fora, combate corpo a corpo, cara a cara, a cara sempre
a minha, minha cara de amante, minha cara de inimigo.
Guerras com velhas armas – paus e pedras, machado, palavras,
facão não amolado, amor e ódio,
e guerras com armas novas – metralhadora, míssil,
palavras, minas explodindo, amor e ódio.
Não quero cumprir a profecia dos meus pais, de que a vida é guerra.
Quero paz com todo meu corpo e toda a minha alma.
Me descanse em paz.

Yehuda Amichai


Tradução de Jorge Pontual

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