quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Como é bom ser bom, Martins Fontes



Tu, que vês tudo pelo coração,
Que perdoas e esqueces facilmente,
E és, para todos, sempre complacente,
Bendito sejas, venturoso irmão.

Possuis a graça como inspiração
Amas, divides, dás, vives contente,
E a bondade que espalhas, não se sente,
Tão natural é a tua compaixão.

Como o pássaro tem maviosidade,
Tua voz, a cantar, no mesmo tom,
Alivia, consola e persuade.

E assim, tal qual a flor contém o dom.
De concentrar no aroma a suavidade,
Da mesma forma, tu nasceste bom.

Martins Fontes


José Martins Fontes (Santos, 23 de junho de 1884 — Santos, 25 de junho de 1937) foi um médico e poeta e tradutor brasileiro. É considerado o melhor poeta de sua geração na lusofonia, e um dos dez melhores na língua portuguesa; os outros nove são Camões, Bocage, António Nobre, Guerra Junqueiro, Fernando Pessoa, Castro Alves, Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira (o brasileiro).

O soneto acima é considerado o seu verso mais famoso e,  antes de tudo um lema de vida que Martins Fontes sempre cultivou, como médico tisiologista da Santa Casa de Santos (a primeira do Brasil, fundada por Brás Cubas).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Printfriendly