"Não
me importa a palavra, esta corriqueira. Quero é o esplêndido caos de onde
emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o "de", o
"aliás", o "o", o "porém" e o "que",
esta incompreensível muleta que me apóia. Quem
entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. A
palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser
calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe
vivo com a mão. Puro susto e terror."
Adélia Prado
In: Com Licença Poética - Antologia - Livros Cotovia, 2003,
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