terça-feira, 29 de janeiro de 2013
Com licença poética, Adélia Prado
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
Adélia Prado
In Adélia Prado, "Poesia Reunida", Siciliano, São Paulo, 1991.
Leia mais sobre Adélia Prado:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ad%C3%A9lia_Prado
O poema de Adélia foi inspirado no "Poema de Sete Faces" (1930) de Carlos Drummond de Andrade.
Leia o poema original:
http://decarlicris.blogspot.com.br/2012/12/poema-de-sete-faces-carlos-drummond-de.html
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